Uma boa parte do crédito rural é feito em operações com vários atores. Para financiar a aquisição dos insumos, por exemplo, o produtor recebe crédito da revenda, que por sua vez capta recursos junto aos bancos.
Quando o cenário do agronegócio é positivo, o modelo flui de maneira fácil. Mas os desafios da safra 2023/2024 afetaram as contas de muitos produtores, fazendo crescer a aversão ao risco e impactando esse fluxo.
Além de um aperto na concessão por parte dos agentes financeiros, até mesmo cotações de Fiagros listados na Bolsa têm recuado, à medida que os investidores se assustam com notícias de crise no setor e taxas de inadimplências e pedidos de recuperação judicial pipocando por aí.
Para driblar esses desafios, Luiz Tangari, CEO da agfintech Tarken, que atua com serviços de análise de risco de crédito para revendas, acredita ter um antídoto: dados.
Em conversa com o AgFeed nesta sexta-feira, 19 de abril, ele informou ter fechado uma parceria com a Aliare, uma das principais fornecedoras de softwares de gestão para empresas da cadeia do agronegócio no Brasil, para passar a contar, na plataforma da Tarken, com mais uma camada de informações sobre os produtores rurais.
Segundo o acordo, a agfintech passará a contar com dados operacionais disponíveis nos sistemas de gestão de produtores clientes da Aliare. Com eles, diz Tangari, será possível fazer uma análise mais detalhada do risco individual dos produtores que concordarem em compartilhar informações como produtividade, consumo de insumos, margens e relações com fornecedores ao longo dos anos.
A ideia é dar uma perspectiva mais detalhada sobre o potencial de crédito de cada produtor, uma antiga preocupação de Tangari. Em entrevista ao AgFeed no início do ano, ele já havia manifestado sua preocupação com os efeitos de um ano mais complexo para as cadeias do agro, com empresas e produtores com margens ainda mais justas enfrentando um cenário de safras comprometidas por problemas climáticos.
Com a relação de troca apertada, a discussão sobre investir em modelos que melhorem o nível de informação para decisões sobre dar ou não crédito aos produtores fica mais intensa.
A parceria com a Aliare é inédita no mercado de crédito do agro por viabilizar o uso de dados da gestão (ERP) do produtor para fazer essa análise. “Os dados históricos podem ser usados para avaliar o risco de crédito e trazer uma solução de crédito mais barato”, afirmou.
Tangari acredita que, com o “crunch de crédito” que o mercado agro vive, os bancos têm deixado de emprestar dinheiro para as revendas, que por sua vez, “emprestam” ao produtor. Com a parceria, a instituição financeira credora extrairá os dados ERP de cada produtor com mais transparência
“As exigências estão aumentando para as cadeias do agro. O crédito rápido e seguro é o que pode fomentar o crescimento do setor, por isso buscamos integrações que possam acelerar essa jornada”, afirmou, em nota, o CEO da Aliare, Carlos Barbosa.
Em sua página na internet, a Aliare – nascida em 2022 da fusão das empresas de software para o agro Siagri e Datacoper – afirma ter mais de 40% de share no mercado de revendas de insumos, com mais de 65 mil usuários.
Segundo Tangari, há várias outras parcerias projetadas pela Tarken que vão na direção de dar mais camadas à análise de crédito.
“Estamos desenvolvendo um produto de crédito com financiadores que permite olhar para o ‘risco sacado’, ou seja, o risco do produtor. Uma das coisas que podemos fazer para dar mais visibilidade a esse ‘risco sacado’ são as informações, de uma forma a conhecer mais sobre o produtor”, afirma Tangari.
Isso pode ampliar a oferta de crédito e ser positivo para o banco que movimenta o dinheiro com um lastro real mais efetivo, acredita Luiz Tangari.
Ele cita que um Fiagro, por exemplo, que tem em carteira vários CRAs, geralmente divulga as informações somente das revendas que emitiram esses CRAs, e não dos produtores que estão na ponta final recebendo esse crédito. Com os dados da Aliare, esse acesso fica mais fácil.
“O dinheiro é colocado de outro jeito no sistema, mas a indústria consegue fazer ele voltar a circular. Ao mesmo tempo, o mercado de capitais começa a olhar o risco sacado, algo que acreditamos aqui na Tarken que esse será um aprendizado nessa crise”, afirmou o executivo.
“Precisamos olhar para o risco individual e isso nos dará uma visão melhor das carteiras e permite prever melhor um evento de stress”, acrescentou.
Tangari ainda citou que cerca de 11% do crédito do agro acaba passando pela plataforma da Tarken, o que traz à empresa um market share significativo. Do outro lado, a Aliare é uma das líderes em software de gestão para o agro, com cerca de 10% do mercado.
No fim das contas, essa diferenciação vai premiar com um crédito melhor o produtor que tem uma gestão mais sofisticada, e se preocupou em ter registros ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, dá mais liquidez às revendas e uma certeza ao financiador, acredita Tangari.