A busca por alternativas ao uso de químicos no controle de doenças e pragas nas lavouras é uma tendência irreversível. O mercado de biológicos cresce a cada dia por conta do menor impacto ambiental e já está presente nos fertilizantes e defensivos de diversos produtores mundo afora.
O desafio ainda é maior quando se trata das alternativas aos herbicidas. A startup britânica RootWave, por exemplo, adotou uma abordagem inovadora: trocar a química pela física para eliminar ervas daninhas com um verdadeiro tratamento de choque.
Andrew Diprose, CEO da agtech, pensou no uso da eletricidade para, em suas palavras, “ferver a erva de dentro para fora, da raiz para cima”. A ideia por trás disso é dar uma nova escala a uma tecnologia que já foi testada em jardins, em máquinas de cortar grama elétricas.
A RootWave desenvolveu um implemento que, acoplado a tratores, arrasta esteiras energizadas sobre o terreno a ser limpo. Em contato com as plantas daninhas, gera uma descarga elétrica que faz com que elas morram.
A tecnologia, em um primeiro momento, está sendo aplicada em pomares de frutas e vinhedos, aproveitando seu método patenteado de eletricidade de alta frequência.
“É física e não química”, pontuou o CEO da startup ao AgFunder News, veículo de comunicação do AgFunder, fundo de venture capital com foco em agtechs.
O CEO afirma que a solução da empresa ainda tem um efeito positivo no solo, já que, ao contrário de uma capinação mecânica feita por um cultivador, sua máquina não perturba a estrutura do solo. “Ele cura os solos e permite que os solos capturem mais carbono”.
Somado a isso, a empresa vê uma uma vantagem sobre os químicos na constância de capinação. Nos cálculos da empresa, a tecnologia permite um tratamento duas ou três vezes maior em dias, o que acaba cobrindo mais hectares.
Apesar disso, nem tudo são flores. A tecnologia baseada em choques traz dois problemas. O primeiro é a possibilidade de as descargas elétricas provocarem incêndios quando em contato com vegetação excessivamente seca. Além disso, há o risco de desencadear acidentes graves com trabalhadores rurais.
A RootWave afirma estar atenta a isso e, por isso, optou por usar ondas a partir de 18 mil hertz, que garante ser seguras para operadores e espectadores.
A startup já recebeu um aporte numa rodada do tipo Série A no valor de US$ 9,7 milhões em 2020, num processo que incluiu V-Bio Ventures, Rabo Food & Agri Innovation Fund, do Rabobank, e Pymwymic.
Antes de entrar numa série B, a agtech optou por buscar um financiamento coletivo, atualmente aberto na plataforma CrowdCube. Já levantou 1,1 milhão de euros, acima da meta de 1 milhão colocada na plataforma.
No site do CrowdCube, a RootWave indicou um mercado endereçável de US$ 1 bilhão para o mercado do capinador elétrico, que pode tratar parques, jardins e espécies invasoras.
Segundo a agtech, esse modelo gerou uma receita de 560 mil euros no ano anterior, e no primeiro semestre de 2023, já teve um crescimento de 38% frente ao ano anterior.
“Estamos lançando um produto para o mercado de pomares e vinhedos de US$ 3 bilhões e já temos 578 mil euros em reservas, metade de nossa meta, incluindo um fabricante global de defensivos agrícolas com quem temos um acordo para distribuição na UE”, destacou a empresa.