A carne de porco é uma das mais consumidas no mundo, e também é cercada de vários mitos e receios. Mas uma preocupação legítima e real, inclusive de governos em todo o mundo, é com o tipo de alimentação fornecida aos animais pelos criadores.
Uma empresa brasileira que atua no ramo de nutrição vegetal e animal projeta rápido crescimento nos próximos anos tentando resolver exatamente este problema.
Com pouco mais de dois anos de existência, a 88 Agro-Vetech desenvolve produtos à base de extratos vegetais para uso como adjuvantes na agricultira, e também em nutrição animal. Com faturamento de R$ 15 milhões para 2023, ela quer entrar de sola na suinocultura, acreditando ser um canal para engorda rápida das receitas..
“A projeção é quintuplicar essa receita em cinco anos, somente com o produto que desenvolvemos para nutrição de suínos”, afirma João Zanardo, sócio administrador da 88.
O grande problema relacionado à alimentação de leitões e porcos é o uso de antimicrobianos e do óxido de zinco. A primeira categoria pode atingir mais diretamente a saúde humana.
Relatório do governo do Reino Unido aponta que as mortes relacionadas à resistência de microorganismos causada por antimicrobianos podem chegar a 10 milhões por ano até 2050.
No caso do óxido de zinco, o consumo pelos animais levam a um excesso de zinco no solo, via dejetos, explica Zanardo. “É um material muito difícil de se retirar do solo, que acaba se contaminando”.
Por isso, o óxido de zinco, que é muito utilizado para controlar a diarreia dos leitões após o desmame, é proibido na União Europeia desde o ano passado.
A 88 enxergou nesta discussão uma oportunidade. A empresa desenvolveu e já registrou um composto que pode substituir até 100% do óxido de zinco e dos antimicrobianos, fabricado somente com extratos de plantas.
O novo produto já foi autorizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para leitões e pretende entrar em um mercado de 20 milhões de toneladas de ração por ano, quando se fala de suínos.
“Somente para leitões, são 4 milhões de toneladas por ano. E na ração são utilizados três quilos de óxido de zinco por tonelada na fase inicial e um quilo na fase final na granja”, explica Zanardo.
No caso do produto desenvolvido pela 88, a proporção utilizada é 400 gramas por tonelada, segundo Zanardo. “A despesa média com óxido de zinco é de R$ 40 por tonelada. Com o nosso produto, o custo é de R$ 30”.
O produto já está em fase avançada de testes para os suínos em fase de terminação, ou seja, que já deixaram de ser leitões e estão próximos do ponto de abate.
No caso dos leitões, os testes feitos pela 88 indicam uma melhora na produtividade para os criadores.
“O consumo de ração passou de 100 gramas para 132 gramas por dia. O leitão sai da creche com um quilo a mais, em média, e na terminação, fica com cinco quilos a mais em relação aos animais com óxido de zinco”, relata Zanardo.
Ele afirma ainda que os testes mostraram um aumento na qualidade do leite das porcas, o que aumenta a resistência dos leitões a doenças.
A empresa já está de olho em um mercado ainda maior, o de aves. Neste caso, a produção estimada é de 60 milhões de toneladas por ano, segundo o sócio da 88.
“No caso das aves, já estamos em conversas com o Mapa, e já completamos três semanas de testes, das seis semanas que pretendemos realizar”, diz Zanardo.
No caso de bovinos, os estudos ainda estão em fase embrionária. Ele afirma que o desenvolvimento neste caso precisa de mais tempo, por conta da maior complexidade do sistema digestivo de bois e vacas.