Na agenda anual da Traive, agfintech que faz a "ponte" tecnológica entre empresas do agronegócio e o sistema financeiro, um evento sempre promete novidades: o Congresso da Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários).

No ano passado, a empresa lançou lá o seu robô com IA chamado Travis. Neste ano, dobrou a aposta na inteligência artificial.
Nesta quarta-feira, 7 de agosto, Fabricio Pezente (CEO) e Aline Oliveira (CPO) receberão convidados e participantes do evento em seu estande para divulgar uma nova funcionalidade.

Ainda em formato beta, a solução vai permitir que analistas e gestores de crédito customizem um modelo próprio de IA na plataforma da Traive. Dessa forma, esses profissionais poderão importar seus próprios dados, modelos e cálculos prévios para criar uma biblioteca personalizada de modelos de risco de crédito.

Nas palavras de Aline Oliveira, a ideia é que o produto consiga “produtizar” inteligência, transformando a experiência que um cliente possui em dados concretos e otimizados.

O CEO aposta que essa parte de customização pode interessar a todas as empresas que a Traive já atende. Esse cardápio inclui algumas gigantes do agro como FMC, Syngenta e Belagrícola.

“Um analista sempre quer colocar seu dedo no resultado final de uma avaliação. O que ele vai adicionar à IA é justamente isso”, afirmou o executivo.

Quando a empresa desenvolveu o Travis, a ideia era que o robô pudesse interagir com analistas, no esquema do Chat GPT. Aline Oliveira afirmou que a Traive adicionou bases de dados que permitissem com que o bot pudesse, além de dar informações, construir um contexto assim como um analista de crédito sênior faria.

Agora, o novo produto pode funcionar de duas formas. Primeiro, melhorar a IA já existente da Traive com novos inputs de dados, levando a experiência do cliente para dentro do algoritmo.

Além disso, funciona como um produto a ser vendido para os especialistas, que calibram a IA e podem utilizar isso no próprio negócio. “É quase que um marketplace de inteligência”.

Além da base de clientes atuais, a Traive aposta em vender essa inteligência para consultorias agrícolas de pequeno porte ou consultores independentes.

Aline comenta que, em conversas com algumas empresas do tipo, eles notaram que uma companhia média produz de cinco a 10 análises por semana, num processo quase artesanal. Com a IA da Traive, ela acredita que seja possivel escalar essa produção para até 100 no mesmo período.

“É uma grande vantagem para quem tem um pequeno negócio. Não acreditamos que tirar o ser humano dessa equação seja inteligente, nem para ele nem para a máquina. O sistema vai incorporar os dados e desenhar novas hipóteses. Os dados enxergam coisas diferentes”, contou a executiva.

O lançamento acontece em um momento difícil para o crédito agrícola, causado por um avanço da inadimplência no setor e alguns casos de recuperação judicial pipocando entre produtores.

Por mais que a Traive não forneça crédito – e portanto não tome risco com esse movimento –, a desaceleração do setor impacta os negócios.

Apesar disso, Fabricio Pezente se mostra otimista em triplicar o faturamento da empresa no final do ano, algo que havia adiantado ao AgFeed em meados de fevereiro.

Um dos carros-chefes para atingir essa marca está nas operações de financiamento em dólar intermediadas pela agfintech. Ele estima que a empresa deve repetir os US$ 50 milhões transacionados no ano passado em 2024.

“Mesmo com o setor desacelerando, o mercado está melhorando. Algumas operações que já estavam no pipeline vão sair nesse segundo semestre”, contou.

Para além do lançamento dessa nova funcionalidade baseada em IA, a empresa prepara terreno para lançar, até o final do ano, o marketplace de crédito agrícola. Pezente considera essa empreitada como o principal lançamento da Traive no ano e afirma que será “disruptivo no setor”.

Neste ano, a Traive anunciou uma rodada de captação de US$ 20 milhões, com o Banco do Brasil (BB), por meio do fundo BB Impacto ASG, sob gestão da Vox Capital. A captação foi co-liderada pelo fundo de venture capital Astella e ainda contou com a participação de outros investidores atuais da startup.

Antes, a companhia havia captado em 2021 cerca de US$ 17 milhões e, ao longo dos anos, atraiu investidores como BASF Venture Capital, SP Ventures, Minerva VC, Syngenta Group Ventures, Serasa Experian VC e CSN Inova Venture.