De olho na adaptação de pequenos produtores às mudanças climáticas, um fundo de impacto sem fins lucrativos dos Estados Unidos, o Acumen, vai investir US$ 1,5 bilhão até 2030 em agtechs em países em desenvolvimento.
Do valor total a ser aportado até o fim desta década, US$ 300 milhões serão destinados a investimentos diretos e US$ 1,2 bilhão em cofinanciamento.
A ideia é financiar, proteger e aumentar a renda de pequenos agricultores, que podem ser os mais afetados pelas mudanças climáticas, via investimentos em startups.
Serão feitos investimentos em 100 empresas de países como Paquistão e Índia e em regiões como África Ocidental e Oriental e América Latina – o Acumen não detalhou quais países do continente latino-americano receberão cheques. Os aportes serão dos tipos pré-seed, seed e growth.
O portfólio das investidas deve ser variado, abrangendo de biodigestores à base de esterco para a produção de fertilizantes líquido e combustível para cozinha até secadores solares, que retém a luz solar para secar frutas e legumes.
“Pequenos proprietários são desproporcionalmente impactados pelas mudanças climáticas e não estamos vendo investimentos climáticos indo para adaptação”, afirmou Jacqueline Novogratz, CEO da Acumen, à Bloomberg.
Dois fundos dedicados ao investimento nas agtechs devem ser criados no ano que vem, um já no primeiro trimestre e outro até o fim do ano. Novogratz preferiu não identificar os investidores desses fundos.
Nem a CEO nem o Acumen são iniciantes no mundo dos investimentos de impacto – muito pelo contrário. Criada em 2001 por Novogratz, uma ex-consultora do Banco Mundial e da Unicef na África, o fundo já nasceu com bolsos relevantes por trás como a Fundação Rockefeller, Cisco e filantropos individuais.
A organização investe em cinco setores estratégicos -- energia, agricultura, força de trabalho, saúde e educação, e faz investimentos do tipo capital paciente, cujo recurso geralmente vem de filantropia, seja por fundos ou pessoas individuais, que é aportado em projetos de longo prazo em termos de retorno e desenvolvimento.
Em mais de duas décadas, o fundo contabiliza números robustos. Desde sua criação, o fundo contabiliza ter impactado 648 milhões de pessoas, com investimentos de US$ 260 milhões em soluções de escala e aportes em 215 empresas.
Somente na agricultura, o fundo contabiliza ter apoiado US$ 74 milhões nos últimos 20 anos, desde 2004, tendo investido 52 empresas no período.
Na África, onde tem forte presença, o Acumen tem um fundo de US$ 58 milhões, o Fundo de Agricultura Resiliente Acumen (ARAF, na sigla em inglês), com participação do Fundo Verde do Clima, da Organização das Nações Unidas (ONU). Soros Economic Development Fund, do bilionário George Soros, Ikea Foundation, da maior varejista de móveis do mundo, e outros participantes.
Já na América Latina, o Acumen faz investimentos em agricultura há pouco mais de uma década, desde 2013.
No período, aportou US$ 9,5 milhões em 16 empresas na região, com investimentos na Colômbia e no Peru, tendo investido em negócios bastante diferentes entre si, que vão de um produtor peruano de salgadinhos orgânicos que obtém matérias-primas de pequenos agricultores até uma empresa que compra e faz o processamento de grãos de pequenos produtores em áreas que haviam estado sob conflito anteriormente na Colômbia.