O mês de julho de 2024 ainda corre para o seu final, mas para Nadege Saad, head da plataforma E-agro, já tem seu lugar na ainda curta história do marketplace digital do Bradesco. E por vários motivos.
Depois de ter fechado o primeiro semestre do ano com a marca de R$ 1 bilhão em créditos concedidos desde o seu lançamento, em maio de 2023 em sua carteira, o E-agro começou a segunda metade do ano em alta velocidade, o que permite a Nadege fazer previsões ousadas.
"A gente quer crescer bastante. Não divulgamos exatamente um número, mas a expectativa é que tenhamos pelo menos 70% a mais do tamanho que a gente tem hoje até dezembro”, diz ela ao AgFeed.
O otimismo está calcado em uma série de gatilhos acionados nos últimos dias. Ou, mais especificamente, a partir de 8 de julho, apenas cinco dias após a divulgação, pelo governo, da edição 2024/2025 do Plano Safra, que aponta o volume de recursos oficiais destinados ao financiamento do novo ciclo produtivo do agro brasileiro.
A data marca o lançamento, pelo E-agro, das linhas de custeio rural e custeio pecuário vinculadas ao programa federal. Será o primeiro ano em que a plataforma participa, de forma plena, da estratégia do Bradesco para o Plano Safra – que deve ser divulgada oficialmente nos próximos dias.
“As operações já estão rodando”, afirma Nadege. “É nosso primeiro ano. No fim do ano passado, quando começamos a trabalhar recursos do Plano Safra, eles praticamente já haviam esgotado. Então fizemos poucas operações. Agora, com o recurso novo, vindo após o 8 de julho, a gente já começou a fazer operações em grande número, mais em custeio”.
Outro gatilho acionado recentemente pelo E-agro e que tem feito os números se multiplicarem na plataforma é a abertura de suas porteiras digitais para consultores agronômicos que operam junto a produtores rurais, sobretudo na estruturação de projetos visando justamente o acesso a recursos dos programas do Plano Safra.
“Estamos com bastante tração nesse canal”, diz Nadege. Ela conta que a possibilidade de que eles inserissem suas propostas diretamente dentro da plataforma, em um processo totalmente digital, foi oferecida a profissionais ou empresas parceiros do Bradesco há cerca de dois meses.
Nesse período, o número de produtores cadastrados no E-agro saltou de pouco mais de 7 mil para cerca de 21 mil, com aceleração ainda maior após o 8 de julho.
“A gente teve um boom de procura”, comemora. Segundo Nadege, os consultores, já mantinham relacionamento com as agências do bancos conhecem até as agências do banco na região em que atuam e foram convidados a testar a novidade.
Para a executiva, os consultores são “uma parte bastante importante” na estratégia para o Plano Safra, por conhecerem os produtores bem de perto e terem relacionamento com os gerentes dos diversos bancos que operam com recurso obrigatório.
“Eles deixam propostas em vários bancos. O que sai com recurso primeiro, eles acabam aproveitando ali a oportunidade”, diz. Assim, com o uso da tecnologia embarcada no E-agro, Nadege afirma que tem conseguido ser competitiva na conquista desses clientes.
“Quando o E-agro começou a operar digitalmente com uma estrutura terceirizada, meio que viralizou, que foi até uma surpresa boa para a gente. E esses consultores começaram a nos procurar muito mais do que a gente ia atrás”, diz. “Eu vi muito como uma demanda reprimida, porque antes eles iam fisicamente na agência e deixavam propostas”.
Atualmente, de acordo com Nadege, há pouco mais de 100 consultores atuando ativamente nesse modelo. O número parece modesto dentro de uma estrutura como a do Bradesco, cuja carteira de crédito no agro supera os R$ 108 bilhões.
Ou seja, o E-agro representa hoje apenas cerca de 1% desse total. A tendência, entretanto, é que esse percentual aumente de forma rápida, com a participação cada vez maior da plataforma nas estratégias do Bradesco para o setor.
Acesso ao produtor
“É preciso lembrar que o E-agro é voltado para médios e pequenos produtores, pessoas físicas”, diz Nadege. “A gente tem objetivos ousados e quer fazer com que o digital ocupe uma parte importante dentro da estratégia de go-to-market de forma geral”.
Assim como com os consultores agronômicos, o E-agro tem buscado acesso aos produtores em várias frentes e ampliado sua presença junto a canais que que já possuem contato direto com eles e buscam alternativas para financiar suas operações.
O marketplace abriga “lojas” de mais de 65 parceiros, que vão de distribuidores de insumos a montadoras de máquinas agrícolas e oferecem seus produtos aos produtores cadastrados. O comprador tem a opção de buscar ali mesmo, dentro da plataforma, o financiamento.
Para dar mais agilidade às operações, o banco lançou no ano passado a CPR digital, hoje já responsável, segundo Nadege, por uma fatia relevante da concessão de crédito na plataforma.
Mais recentemente, o E-agro passou a disponibilizar também a CPR com garantia de máquinas. “A CPR é um produto bem importante no mercado, especialmente por conta do fato de os recursos subsidiados do Moderfrota se esgotarem rápido”, avalia.
Além disso, lembra, máquinas seminovas não podem ser financiadas com todos os tipos de recursos subsidiados. “A CPR entra como um grande aliado do produtor que quer trocar a máquina, porque ele pode dar a própria máquina em garantia daquela tomada de crédito”.
Com isso, a participação das fabricantes de máquinas tem sido um dos pontos de destaque, para Nadege, dentro da plataforma. A primeira a aderir ao marketplace foi a AGCO, dona das marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt. Depois vieram John Deere, Case e as brasileiras Stara e Jacto. Na semana passada, foi a vez da New Holland também passar a oferecer seus produtos ali.
Nesse mercado, o acesso ao produtor não se limita, entretanto, às lojas das montadoras na plataforma. O E-agro tem buscado ampliar parcerias com distribuidores e concessionárias, para que eles mesmos acessem a ferramenta, simulem o financiamento e cadastrem os produtores.
“A CPR vem tomando bastante proeminência dentro do mercado de máquinas, é um ponto forte que a gente aproveitou do Bradesco, com as linhas especializadas”, afirma Nadege.
“A criação de um produto que usa a máquina como garantia era uma demanda aí do mercado, com a possibilidade de que o próprio concessionário lá na ponta coloque a operação e que isso seja analisado de forma sempre digital aqui dentro”.
Até o fim deste ano, a expectativa do E-agro é ter cerca de 70 concessionárias de máquinas como parceiras. “Essa é outra estrutura também que fez com que a gente triplicasse a base de produtores ativos dentro da plataforma”, afirma ela.
Risco compartilhado
O mesmo vale para os distribuidores de insumos, outra frente estratégica para o E-agro. Para esse mercado, o E-agro desenvolveu uma ferramenta específica, chamada E-agro Finance, em que o próprio distribuidor também pode colocar a proposta de crédito em nome do agricultor.
E então, Bradesco e o distribuidor dividem o risco da operação, mesmo que o produtor não tenha relacionamento com o banco. A análise de crédito é 100% digital, dentro da plataforma.
“Se eu não tenho dados a respeito dele e não consigo analisar o crédito o distribuidor tem. Então, pagamos a distribuição diretamente e ficamos com essa dívida do produtor compartilhada”.
Segundo Nadege, isso traz benefícios para os dois parceiros. Para o distribuidor, porque não prejudica o capital de giro dele. Para o E-agro, porque consegue trazer clientes novos para dentro da carteira.
“Esse era um gargalo do mercado, porque o distribuidor estava se alavancando ali, prejudicando o balanço dele. Distribuidor não é formado para dar crédito”.
O E-agro Finance hoje já roda com parcericos como as cooperativas Coopercitrus, Cotrijal e Coopasul e revendas como Fiagril, Royal Agro, Fiber, Agronexa, Solução Agronegócios, Ceres e Belagrícola. O mesmo sistema é utilizado pelas concessionárias de máquinas das redes Fourmaq (Massey Ferguson), Agrolíder (Fendt) e Shark Tratores.
“A gente trabalha com várias estruturas no acesso ao mercado para realmente fazer a proposta de democratização de crédito”, diz Nadege.
Ao mesmo tempo em que cresce de forma rápida, o E-agro trabalha no desenvolvimento das novidades que vão lhe permitir dar outros saltos em um futuro próximo. Criado dentro da estrutura do Inovabra, hub de inovação mantido pelo Bradesco, o marketplace se mantém intimamente ligado ao ecossistema que reúne startups voltadas para o setor financeiro e também para áreas como o agro.
Um dos focos atuais de desenvolvimento no E-agro é a inteligência artificial. “Inclusive a IA generativa, tanto para poder fazer recomendação de insumos dentro da plataforma quanto para fazer análise de crédito”, conta Nadege.
Além disso, estão em formatação ali um produto voltado para operações de barter e para a oferta de linhas verdes de crédito junto a startups hospedadas no Inovabra, “para ampliar o portfólio de ESG”.
“O Inovabra sempre possibilita para a gente também a inovação aberta. Essas são as propostas mais imediatas, mas tem outros projetos futuros”, diz.
“A gente é posicionado para as concessionárias, a gente é posicionado para o distribuidor de insumos, a gente é posicionado para esses projetistas, até para as agências bancárias, que têm também um acesso ao e-agro, o que facilita a transformação digital por parte do banco”, reforça Nadege.
“A ideia é, no futuro, as operações de pessoa física sejam feitas quase que 100% dentro do E-agro. A gente quer ocupar um espaço importante. É muito jovem ainda, tem só um aninho”.