Quando André Filipe Dummar, um dos acionistas do conglomerado de mídia cearense O Povo, voltou de uma viagem para os Estados Unidos, em 2016, uma ideia estava plantada em sua cabeça.

Após uma série de encontros no norte da América, principalmente no Vale do Silício, ele conheceu o mundo do Venture Capital e estava determinado a criar uma iniciativa parecida em Fortaleza, onde morava. “Esse negócio de Venture Capital é muito poderoso no mundo e impacta muita gente! Precisamos estar nisso!”, ele contava, animado aos outros acionistas.

Anos e uma série de conversas depois, o Jornal O Povo decidiu se juntar à consultoria EloGroup numa joint venture. De um lado, o braço de mídia tinha um espaço físico e uma presença ampla e reputação forte no Ceará. Do outro, a empresa somava em inovação.

Foi daí que nasceu, em 2017, a Casa Azul Ventures, primeira aceleradora de startups da região.

Num primeiro momento, a atuação estava restrita em Fortaleza, mas depois, se expandiu para o restante do estado e posteriormente para a região.

“Nos entendemos como aceleradoras, pois atuamos de forma diferente aos hubs de inovação. Nosso business é essa aceleração dos negócios”, contou ao AgFeed Rafael Silveira, diretor de operações da Casa Azul Ventures.

No modelo de negócio da joint venture, a empresa investe um valor em mídia por 7% de participação no capital (equity) de uma startup selecionada. Essas startups estão sempre em estágios iniciais do negócio, ou até mesmo em ideação.

Os negócios sempre estão ligados à tecnologia. Além dos 7%, a Casa Azul tem uma preferência para comprar mais 3% posteriormente, se o negócio brilhar os olhos dos envolvidos.

“Damos mídia para a empresa no grupo em troca de participação e fazemos a aceleração com um grupo de mentores. Com isso, conectamos as empresas com o mercado. É o grupo O Povo apostando em um negócio”, afirmou Silveira.

Até hoje, já foram 27 startups aceleradas, com 12 ativas no momento. Ao todo, já foram desembolsados cerca de R$ 3 milhões de funding próprio, segundo o diretor. Nessa história, o agro entrou um pouco depois, fruto de um convênio que a Casa Azul firmou com o Banco do Nordeste.

No Delta-V, como o programa se chamou, foram destinados R$ 2,4 milhões para 60 startups selecionadas. Dentre as agtechs estavam a BodeTech, de gestão de criação de cabras, e a Teletanque, que mede índices de alimentação e oxigênio de tanques de peixes. O programa aconteceu durante o ano passado.

Dentre as 60 empresas selecionadas, foram seis consideradas vencedoras. Entre elas, a agtech Souper. A startup é uma logtech que facilita o transporte de cargas agrícolas, conectando motoristas a produtores rurais.

Silveira contou que, mesmo que a empresa pudesse atuar com qualquer tipo de carga, a família dos fundadores é de produtores rurais. “Familiares e amigos tinham problema de escoar a produção. Era caro tirar os produtos do campo e era difícil ficar na mão de transportadoras. Eles criaram essa empresa, uma espécie de ‘Uber do agro”.

Incursão para o Norte

A partir de 2024, a Casa Azul Ventures entra num novo estágio e passa a buscar startups para serem aceleradas no Norte do país. Por enquanto, o plano é conhecer as regiões e pólos de empresas nas principais capitais.

A ideia é que, com o avanço e conhecimento do local, a Casa Azul entre como uma parceira de fundos e empresas de venture capital de outros locais do Brasil que queiram investir em iniciativas fora do eixo Rio-São Paulo e, no caso das agtechs, no Centro-Oeste.

Nesse sentido, a empresa já tem uma parceria com a ACE Ventures. “Eles são nossos representantes na Faria Lima e nós os representamos no Norte e Nordeste”.

Na região Norte, as empresas e ideias buscadas têm que tocar em temas como transição energética e sustentabilidade. Mais do que isso, o diretor comenta que essas iniciativas precisam “transformar a sociedade, desenvolver a região e gerar empregos”.

“Tivemos poucas agtechs no Delta-V e isso me incomodou. Primeiro pela extensão do Nordeste e por uma falta de entendimento de algumas pessoas do campo de que uma ideia pode ser um negócio”, comentou o diretor de operações.

No Norte, Rafael Silveira conta que tem visto muitos empreendedores sociais sem fins lucrativos que, de alguma forma, tocam no agro. Essas iniciativas englobam desde gerar uma renda para uma comunidade local via produção ou ensinamentos sobre culturas nativas. Daí vem a ideia da joint venture de identificar produtos que podem virar negócios.

Silveira conta que a empresa já tem conversado com uma startup que utiliza drones para monitoramento de créditos de carbono e de plantações de açaí. A agtech ainda está numa fase de deixar de ser um produto e virar um negócio. “Acreditamos que tem dinheiro de venture capital ou empresas interessadas”.

A Casa Azul Ventures não trabalha com metas de valores ou startups aceleradas, mas Silveira conta que a ideia é, em dois ou três anos, equiparar o dinheiro de venture capital em empresas do norte com o PIB da região.