Quando a Cargill decidiu investir na Agriness, de tecnologia para granjas, e a Serasa Experian comprou a Agrosatélite, no ano passado, um dos atores envolvidos era a assessoria especializada em M&As, LKC Capital, que atua há 8 anos no mercado.

Em entrevista ao AgFeed, o diretor executivo da LKC, Luis Felipe Trovo, explicou que a empresa, nos últimos seis anos, se especializou em assessorar companhias de tecnologia no processo de fusões e aquisições.

Mais recentemente, vem percebendo que a demanda maior neste segmento tecnológico está ocorrendo entre aquelas que oferecem soluções para o agronegócio.

Além das duas operações com Agriness e Agrosatélite, entre os destaques do que já foi liderado pela LKC Capital estão a recente captação da Cromai - especializada em Inteligência Artificial (IA) aplicada na detecção de plantas daninhas na lavoura -, que recebeu aporte de um fundo de corporate venture capital da Totvs em transação concluída este ano, e a fusão da Inobram, de automação agroindustrial, com a Munters, fabricante de sistemas de controle climático para aplicações agrícolas.

Ao todo a empresa diz ter participado de 40 transações de M&As que totalizam cerca de R$ 4 bilhões, sendo pelo menos 20% relacionadas ao agronegócio.

“Estamos trabalhando em alguns projetos do agronegócio neste momento e existe uma demanda muito forte por parte de investidores”, afirmou Trovo.

Ele explicou a maior parte dos estrangeiros, especialmente, busca empresas de tecnologia que desenvolvam soluções com foco no agronegócio. O executivo atribui esta característica a relevância internacional do agro brasileiro, que lidera o ranking mundial de exportadores em diversos segmentos, como carne bovina, frango e soja.

“Ainda faço parte do conselho de algumas empresas e temos visto que o mercado não estava fácil para o agro, com margens apertadas e até negativas, em setores como frango e suínos”, admitiu o diretor da LKC.

Ele garante, porém, que o cenário desafiador para o agronegócio não é obstáculo para o movimento que vem sendo observado de retomada no apetite por fusões e aquisições entre as empresas de tecnologia.

“O ano de 2023, para as empresas de tecnologia, foi muito difícil, porque os juros voltaram a subir no pós-pandemia e deu uma congelada no mercado de M&As. Varias empresas que entraram na bolsa na pandemia desvalorizaram muito, isso tirou um pouco da confiança dos investidores”, explicou.

Mas para a LKC Capital, segundo ele, foi um ano bom, à medida que fecharam, por exemplo, as operações da Inobram e da Agrosatélite, comprada pela Serasa.

“Tecnologia para o agronegócio é uma tendência e trabalhamos com clientes considerados acima da média”, disse Trovo.

A expectativa para 2024 é ainda mais otimista, segundo ele, porque os investidores que estão se movimentando estão olhando para daqui a 10 ou 20 anos, vendo um grande espaço de crescimento em várias vertentes de tecnologia para o agronegócio.

“Agora em 2024 o mercado está voltando a se normalizar, tanto de M&A quanto de tecnologia, por conta da queda de juros e também por uma confiança melhor do empresário. Isso fez com que a demanda voltasse”.

Trovo prevê mais operações este ano e uma possibilidade de voltem alguns IPOs que estavam “congelados”.

Ele não revela quais seriam estes casos com mais chance de se concretizar, mas prevê que isso ocorra no segundo semestre do ano.

Além do segmento de sistemas de gestão, fazem parte do portfólio de clientes da LKC Capital as fintechs e as empresas que “conectam as pontas”, como os marketplaces.

Trovo diz que o Brasil está se desenvolvendo em várias dessas frentes e que deve haver movimentações em todas elas. Segundo ele, as fintechs e os marketplaces são mais propensas a captar novos investimentos porque existe uma necessidade maior de capital para viabilizar seu negócio.

“No caso das empresas de sistemas de gestão, elas são tão propensas para captar quanto para gerar vendas e, algumas delas, estão olhando para fazer aquisições”, revelou.

“Daqui 10 anos vamos ver um monte de fintech e empresa de IA já chegando em um tamanho grande, formando grupos maiores e se tornando compradoras. E assim ajuda a desenvolver novas empresas como ocorreu em setores tradicionais como laboratórios de saúde, universidades e supermercados”, acrescentou.

Perguntado sobre o que seria exatamente essa “demanda forte”, Trovo disse que clientes que vinham sendo preparados para deixar as coisas em ordem caso um dia aparecessem interessados, estão ligando para a LKC para dizer que “apareceram dois compradores”.

Ele completa dizendo que “o M&A é a consequencia para uma empresa que está bem, gerando caixa, todo mundo vai querer comprar”. Cerca de 80% dos clientes da assessoria são empresários de médio porte. E os compradores, muitas vezes, são grandes empresas, inclusive multinacionais.

Sobre a “crise” do agro, ele diz que a contratação de software e hardware realmente costuma ser maior em momentos de alta para as empresas.

“Por outro lado, soluções como a Cromai, que aumenta eficiência, é o que todos buscam quando a margem está baixa. Também se torna mais importante ter um programa de gestão”, disse o executivo.

Entre as maiores tendências, ele aponta a procura por empresas que ofereçam soluções de IA.
“Há dois tipos de software, o horizontal, que costuma atender diferentes segmentos, e o vertical, para um setor mais específico. A IA é mais aderente aos softwares verticais, o espaço para crescer está aí”. Mas os horizontais estão querendo aumentar a participação deles no agronegócio.