Conquistar a liderança do mercado brasileiro e latino-americano parece não ser suficiente para a Agriness, empresa catarinense com mais de duas décadas de vida atuando com uma plataforma digital de gestão na suinocultura e aumento de produtividade.

A companhia surgiu em 2001, quando tudo ainda era mato no segmento das agtechs brasileiras, e, segundo o CEO e fundador da empresa, Everton Gubert, o objetivo atual é ambicioso - ser um player relevante no maior mercado de suínos do mundo, o chinês.

O início desse movimento vem de 2016, quando a Agriness queria renovar seu parque tecnológico e expandir a atuação. Não apenas fez isso como passou a ter a Cargill como sócia.

“Ajeitamos a casa em 2017 e em 2018 fomos ao mercado captar recursos para um novo momento da empresa”, diz Gubert. “Dentre os interessados, a empresa que tinha mais ‘fit’ com o que pretendíamos era a Cargill. Em setembro de 2018 eles entraram como sócios na Agriness, aportando capital, conhecimento e distribuição global”, explicou o CEO.

O mercado de suínos na China é o maior do mundo. De acordo com dados do USDA, a produção de suínos em 2022 ficou em 55 milhões de toneladas no país. A União Europeia era o segundo lugar com maior produção, com 22 milhões de toneladas.

“Estamos crescendo muito na Ásia, principalmente na China, Singapura, Vietnã e Tailândia. Atualmente já estamos em mais de 33 países”, disse. Nesses países, a empresa atua em mais de 2,8 milhões de matrizes suínas.

No Brasil, a Agriness é dona de 95% no mercado de gestão da suinocultura. Na Colômbia possui mais de 80%, na Argentina mais de 70% e em países como Uruguai e Paraguai, cuida de todo o mercado.

“Todos falam de entrar na China, mas não têm noção do que é fazer isso e o esforço para entrar num país mais fechado e com forte presença do governo. Sem a Cargill, não pisaríamos na China” comenta.

Para além da expansão chinesa, a empresa está pronta para agregar aos seus serviços, soluções para a avicultura e para a pecuária leiteira.

O primeiro fica pronto até o final do ano, enquanto que o segundo será lançado no início do ano que vem. “Queremos fazer tudo que fizemos na suinocultura nessas outros segmentos”.

O diferencial que a empresa espera entregar, a partir de agora, é uma gestão em tempo real para esse produtor. Segundo ele, o que é feito geralmente é uma “gestão olhando pelo retrovisor”, em que um produtor vê o que acontece e só então reporta na plataforma.

“Na gestão tradicional, os dados são inseridos na plataforma depois da averiguação sobre um lote. Só depois disso os resultados são consolidados. Com nossa tecnologia, possibilitamos que os clientes façam a gestão em tempo real”, diz Gubert.

De 2001 até o encontro com a Cargill

Em 2001, uma época em que o termo agtech praticamente não era usado, Everton Gubert, recém-formado em ciências da computação pela UFSC, buscava empregos no oeste de seu estado, Santa Catarina.

O background do CEO não era do agro, mas a região é considerada o berço da suinocultura brasileira. Foi lá que surgiram as primeiras instalações de Sadia, Perdigão, Seara e Aurora.

Foi então que um primo de Gubert fez uma ponte entre ele e produtores locais para pensar num software, que na época era chamado de “programa de computador”, para ajudar na gestão das propriedades.

“Os dados dos produtores eram bagunçados e eles gerenciavam tudo em cadernos, fichas, de forma rudimentar. Nisso vi uma oportunidade”, conta. “Me chamou a atenção na época que muitos não tinham nem computador, mas sabia que era algo inevitável no futuro”, diz.

Depois de uma experiência de 82 dias vivendo em uma das granjas, surgiu o primeiro produto desenvolvido por Gubert, que já era programado em Windows, algo moderno para a época.

Depois disso, um vendedor de ração da Nutron o convidou para uma parceria, o que fez Everton se mudar para Campinas e desenvolver sistemas para a empresa de forma exclusiva por dois anos. “Ali, em 2001, nasceu a Agriness. Virei empresa e comecei a aprimorar os programas”.

Nessa época, enquanto a Agriness ganhava mercado, ele conta que chegou a comprar muitos computadores para os clientes, que não sabiam qual modelo adquirir, por exemplo.

“O programa chamou atenção da Seara e da Sadia, porque tínhamos colocado os programas nos produtores deles. Eles viram uma oportunidade para todos seus integrados. Nesse momento houve um boom na Agriness e estabeleceu a primeira fase da empresa”, explicou o CEO.

A partir dali, a Agriness passou a premiar os melhores produtores clientes e percebeu que tinha criado uma espécie de benchmark, que media quem tinha uma boa produtividade ou não.

Foi então que a empresa passou de um modelo de negócio que entregava o software para ajudar a gerir a produção e aumentar a produtividade junto do programa.

Em 2016, a empresa já era líder do mercado latino em suinocultura e resolveu renovar o parque tecnológico, que ainda era focado em soluções para computadores, para passar a pensar em soluções em nuvem.

Além disso, percebeu que era a hora de criar uma “plataforma de gerenciamento multiespécie”, para criar soluções para avicultura e para a pecuária leiteira.

O problema era que esse tipo de investimento demandava muito dinheiro. Foi aí então que a empresa se juntou com a Cargill.

A empresa não abre dados de faturamento por conta do contrato que possui com a Cargill, mas o CEO afirmou que, desde o início da parceria, a receita triplicou de tamanho.

A empresa possui atualmente 158 funcionários e, na América Latina, atua com uma equipe própria no Brasil e representantes nos outros países. Na Ásia, é tudo feito via Cargill. Antes da chegada do parceiro, a empresa não havia recebido nenhum tipo de aporte, segundo explicou o CEO.

O desafio para uma companhia veterana na tecnologia voltada para o agro é se manter atualizada. Everton Gubert diz que, em 2001, a empresa contava com cerca de três ou quatro tecnologias nos seus produtos. Hoje, o número é imensurável.

“Não existe absolutamente nada que usávamos na época que continuamos usando hoje”.
Atualmente, a empresa busca sempre estar na vanguarda das novas tecnologias, que segundo o CEO, possuem um tempo de vida bem mais curto do que em anos anteriores.

A Agriness já atua também com inteligência artificial. Essa IA própria já manda notificações e “puxa a orelha” dos produtores, segundo o CEO, e está disponível para os clientes em todos os países em que atua.