A PwC, uma das quatro maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, tem planos de fazer do AgTech Garage, hub de inovação instalado em Piracicaba, no Interior de São Paulo, em uma marca global.

“Vamos sim passar por um processo claro de expansão internacional” confirmou ao AgFeed Maurício Moraes, líder global de Agribusiness na PwC. “Isso vem sendo discutido de forma relevante e ainda nesse primeiro semestre devemos ter esse projeto mais desenhado, para que passemos a agir de forma coordenada”.

O movimento faz parte do projeto original desenhado pela PwC ao decidir pela aquisição do Garage, principal centro de inovação aberta do ecossistema brasileiro de agtechs, concluída há apenas seis meses.

Mas se fortaleceu com a repercussão do negócio entre clientes da empresa em vários países. Fundador e CEO do Garage – e agora também sócio da PwC –, José Tomé afirma que, desde o anúncio da transação, o hub passou a ser muito acessado por clientes internacionais da companhia para compreender como o novo modelo funcionaria e como poderia contribuir em projetos de inovação desenvolvidos por eles.

De fato, a aquisição do AgTech Garage surpreendeu o mercado pelo ineditismo da estratégia. A PwC já frequentava o hub há pelo menos dois anos, como uma das mais de 70 empresas do setor que, participam em diferentes níveis, de um ecossistema que envolve também mais de mil startups.

“Passamos a atuar e entender o que eles faziam”, afirma Moraes. “Ficou claro que o Garage faz entrega muito competente para os clientes, que, em sua maioria, eram também nossos clientes”.

Veio daí a ideia de que os serviços do Garage, de contribuir com a jornada de inovação das empresas, podiam ser incorporados na oferta de valor da PwC. “A gente descobriu que o Garage sempre foi uma PwC, uma prestadora de serviço com inteligência, organização e pessoas que conhecem o agro e inovação e conseguem dar tração e agregar no processo de inovação” afirma.

A negociação durou cerca de um ano de conversas. Um dos desafios, segundo Moraes, foi convencer internamente seus pares sobre a lógica da aquisição. “Sempre que alguém ouvia a ideia pela primeira vez não conseguia entender”, conta.

Foi preciso, então, testar algumas ideias e mostrar na prática quais os benefícios de se tornar dona de um hub de inovação aberta. “Precisávamos estar seguros de que a premissa era válida”, explica. “Não queríamos fazer aquisição para matar o negócio, tirar concorrente do mercado. A condição era nos unirmos pra todo mundo ganhar”.

Com todo o ecossistema a sua volta, a PwC afirma ter agora condição de incluir em suas propostas às empresas clientes projetos mais complexos de inovação como forma de buscar soluções para problemas trazidos por elas.

A dinâmica do hub permite acoplar expertises de outras empresas e startups a esses projetos, adicionando ideias e competências que podem resultar em soluções inovadoras. A PwC entraria como “um grande orquestrador” desses projetos, com sua capacidade de coordenação e gestão.

“A gente sente que muitas empresas implementaram áreas de inovação aberta, mas não conseguem dar tração porque fazer dentro de casa é muito difícil”, afirma Tomé. “A gente consegue apoiar e fazer as conexões com o que realmente é estratégico”.

Para as ofertas do hub às empresas residentes e, sobretudo, às startups, a chegada da PwC acrescenta o acesso a outro nível de informação antes não disponível ali. “A gente não falava de estratégia de negócios, a PwC fala”, explica Tomé. “As empresas precisam disso, nossa praia era apenas inovação aberta”.

A aquisição reforçou a posição da PwC Brasil como centro de desenvolvimento de soluções para o agro dentro da companhia. Desde 2007 o país sedia o Centro de Excelência Global em Agribusiness da empresa, mas a presença do Garage dentro da estrutura permitirá à subsidiária ter um impacto maior em nível internacional.

Maurício Moraes, líder global de Agribusiness na PwC

A empresa acredita que, assim, pode globalizar projetos de clientes que estão no hub atualmente desenvolvendo inovação em nível local. Grandes companhias do agro como Bunge, John Deere, Bayer, Nutrien e Cargill, por exemplo, fazem parte do ecossistema.

“Os clientes se falam globalmente. Antes, ao falarem do AgTech Garage, tinha um alcance menor, regional. Hoje, com a marca da PwC associada, isso ganha relevância e gera confiança, o que nos posiciona para sermos players globais”, diz Tomé.

Os primeiros projetos usando as competências complementares já estão sendo entregues a clientes da empresa. Segundo Moraes, a convivência dos dois times permitiu encontrar soluções inéditas, que a PwC provavelmente não alcançaria sem um time especializado em estratégias de inovação.

Com isso, dento da consultoria, a compreensão do valor agregado pela aquisição se consolidou. “Tem muita gente até com ciúmes aqui”, brinca. Segundo ele, já se discute, nas outras verticais da empresa, a ideia de movimentos semelhantes.

O modelo da expansão internacional do AgTech Garage ainda está em definição. A empresa deve usar diferentes formatos, dependendo da característica e dos clientes da PwC em cada país. Em alguns deles, será possível até replicar a estrutura física do hub. Em outros, a conexão será virtual, apoiada pela “matriz” em Piracicaba.

Um dos pontos a serem observados pela empresa na busca por locais adequados é o perfil das regiões. Um dos segredos do sucesso do Garage está justamente no fato de estar encravado em um pólo de geração de conhecimento para o agronegócio, junto a grandes empresas e, sobretudo, à Esalq-USP, reconhecida mundialmente como uma das principais instituições de ensino e pesquisa em ciências agrárias.

“Parte do estudo que estamos fazendo é responder onde, quando e como levar o Garage, explorar os modelos mais atrativos para cada situação”, diz Moraes.

José Tomé, CEO do AgTech Garage

A internacionalização de hubs de inovação é uma tendência que ganha corpo. No início do ano, por exemplo, o Cubo, pertencente ao Itaú, também anunciou o início desse processo, com a contratação de um profissional para comandar sua expansão pela América Latina.

Da mesma forma, a conexão com esses centros, iniciada no agro pela PwC, passou a fazer parte da agenda das grandes empresas de consultoria. No ano passado a Deloitte instalou seu novo escritório em Cuiabá dentro do Agrihub, criado há cinco anos pela Federação da Agricultura do Mato Grosso (Famato).

Impulsionada pela PwC, a expansão do AgTech Garage não será apenas internacional. A própria sede do hub, em Piracicaba, passa por obras que devem duplicar sua capacidade a partir de agosto. “Depois que passamos a integrar o network PwC, ficou mais fácil o contato com o C-level das empresas para trazer para o hub”, afirma Tomé.

Segundo ele, mesmo com a ampliação as posições disponíveis já estão praticamente tomadas. “Vamos dobrar o número de empresas residentes, com novos corporates e startups”, garante.

Também em estudos está a abertura de “filiais” em outras regiões do Brasil. “Nossa vocação indiscutível é ser o principal hub de inovação do Brasil. Queremos cada vez mais sermos protagonistas”, diz Tomé.