A startup americana Atomo Coffee gosta de arrumar soluções inesperadas. Criada em 2019 por Andy Kleitsch, atual CEO, e pelo microbiologista Jarret Stopforth, a Atomo começou sua trajetória criando cervejas geladas sem cevada ou outros grãos.

Com a dificuldade da escalar a produção devido a tecnologias de fábricas, a empresa pivotou o negócio. Então, mirou a segunda bebida mais tomada no mundo depois da água: o café.

O conceito segue o mesmo: produzir uma bebida sem ter como insumo o seu grão de origem, mas que traga a mesma experiência. Ou seja, café sem o aromático fruto torrado e moído.

Para replicar o sabor e textura da bebida já conhecida, a nova fórmula da agora Atomo Coffee, apresentada neste mês em um evento em Nova York, envolve sementes de tâmaras, sementes de ramon, extrato de semente de girassol, frutose, proteína de ervilha, milho, limão, goiaba, sementes de feno-grego desengorduradas, cafeína de verde chá e bicarbonato de sódio.

Essa combinação, segundo afirmou o CEO da empresa ao AgFunder News, proporciona um espresso “incrível com sensação, aroma e sabor de café”. E conquistou o paladar de investidores.

Até agora, a startup já levantou US$ 51,6 milhões de grupos como S2G Ventures, o próprio AgFunder e Horizons Ventures.

Com o foco atual no fornecimento de produtos para cafeterias, a agtech está se preparando para abrir uma instalação em março de 2024 que será capaz de produzir quatro milhões de libras de “café” moído por ano, algo em torno de 1,8 mil toneladas ou o equivalente a cerca de 80 milhões de xícaras.

De acordo com o cofundador e CEO da Atomo, o objetivo é “mostrar alguma tração inicial em centenas de cafeterias e depois usar esse impulso para arrecadar fundos adicionais para construir uma fábrica que produza 40 milhões de libras por ano”.

A solução da startup se mostra útil dado o cenário global para o mercado de café. A China e a Índia, países mais populosos do mundo, começam a importar cada vez mais o produto.

A questão é que, com a oferta atual, o aumento exponencial de demanda que esses países podem trazer acaba desequilibrando o jogo. Para se ter uma ideia, em setembro, a China teve um aumento de 132,5% em suas importações de café brasileiro frente ao ano passado. O país é atualmente o décimo no ranking de maiores destinos da commodity local.

Essa entrada no top 10 foi projetada pelo diretor geral do Cecafé, Marcos Matos, em entrevista ao AgFeed em agosto deste ano.

Antes da pandemia de Covid-19, em 2019, o Brasil exportava algo em torno de 170 mil sacas de café para a China, um número quatro vezes menor do que o atual.

Segundo Matos, esse aumento no consumo do café por lá se deve principalmente pela população chinesa de perfil jovem e que atua no ambiente corporativo. "O café é um símbolo cultural. As pessoas entram em uma cafeteria para se sentirem globalizadas. Para nós, isso gera muitas oportunidades, e aumentar as exportações para a China numa época em que reduzimos as exportações gerais é um ótimo sinal", afirmou.

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial desse produto. Em 2022, por exemplo, vendeu cerca de 2,2 milhões de toneladas, o equivalente a 39,4 milhões de sacas de café, com embarques para 145 países. A exportação do produto e de seus derivados atingiu US$ 9,2 bilhões no ano passado.

Além da demanda, a Atomo Coffee já prevê que, com as mudanças climáticas, o cultivo de café pode ficar prejudicado em diversas áreas pelo globo, o que também diminuiria a oferta.

Ao Agfunder News, Kleitsch disse que a empresa já foi abordada por quase todas as grandes empresas de café do mundo para ajudar a solucionar o “problema de 2050”. O termo se refere ao ano em que o setor acredita que existirão problemas consideráveis ​​na cadeia de fornecimento de café.

Um estudo publicado pela National Geographic aponta que até 2050, o mundo terá 50% menos de terra arável que pode ser adequada para o cultivo de Arábica, uma das mais consumidas variedades de café.

“Portanto, parte do nosso plano a longo prazo é criar uma plataforma que seja suficientemente adaptável para que possamos utilizar ingredientes de diferentes regiões que ainda funcionem na fórmula”, afirmou o CEO.

Por enquanto, a Atomo Coffee busca um público “consumidor alternativo de leite”, ou como explicou Kleitsch, uma pessoa que fez mudanças na dieta por razões ambientais ou de saúde.

“Nosso pedido número um é um café que não contenha absolutamente nenhuma cafeína, mas que proporcione toda a experiência do café”, disse. Em testes com pessoas do segmento, as primeiras impressões foram boas, garantiu o CEO.

Nesta fase do negócio, a Atomo está cobrando das cafeterias ​​US$ 20,99 por libra do produto, algo entre US$ 5 e US$ 10 a mais do que um pacote de café tradicional. Até agora, o CEO garante que não houve resistência dos compradores.

No próximo ano, a empresa trabalhará com essas cafeterias para “oferecer uma experiência premium de alta qualidade em um café onde os consumidores possam ter uma experiência selecionada”.

A ambição para depois é um pouco maior, e a empresa já se prepara para atuar em grande escala. Dentre os destinos possíveis, a Ásia está inserida.