A estratégia digital da Basf, uma das maiores empresas globais de defensivos e sementes, é dividida entre “o antes e o dentro da porteira” e ambos devem crescer de forma exponencial, disse ao AgFeed o diretor de Digital e Novos Negócios da Basf para a América Latina, Almir Araújo.

Entre as metas estratégicas do executivo, atualmente, está a ampliação da plataforma Conecta.ag, um ecossistema digital lançado em 2022 por meio de uma parceria com a Vertem, empresa especializada no desenvolvimento de ecossistemas de negócios.

Araújo explica que este é um projeto do pilar "antes da porteira”, já que o objetivo é ajudar o agricultor no desafio que representa comprar insumos, ter acesso a crédito e saber quais são as novas tecnologias disponíveis.

"Lá estamos fazendo parcerias com diversas empresas para oferecer para o agricultor um canal único, para que ele consiga adquirir produtos, serviços e recomendações agronômicas”, afirma.

Na primeira fase, o Conecta começou apenas com o modelo de marketplace, promovendo o encontro dos canais de distribuição, cooperativas e agricultores, para a aquisição de produtos e serviços, não apenas das marcas da Basf.

Na conversa com o AgFeed, Araújo revelou que ainda este ano serão lançados mais dois eixos importantes da plataforma, sendo um deles o engajamento ou "loyalty" – a Vertem também é uma empresa especializada em programas de fidelidade – e um próximo passo, que é a oferta de serviços financeiros.

"Diferentemente de alguns players que tem no mercado, nosso foco no Conecta é o distribuidor. Os serviços serão oferecidos por meio deles, sendo que a prioridade é a parte técnica", diz o executivo.

Segundo ele, isso é necessário porque são soluções de alta tecnologia que precisam ser primeiro apresentadas e avaliadas para que depois haja a decisão de compra. Portanto, "o aspecto transacional é a última etapa”.

No programa de fidelidade, a Basf promete uma plataforma mais customizada para o setor e menos relacionada ao varejo.

“O nosso programa será independente e a diferença em relação às empresas de loyalty é a amplitude do ecossistema que ele vai oferecer", diz.

Sobre os serviços financeiros, Araújo não dá detalhes de quais estarão disponíveis no Conecta, mas promete “um portfolio amplo” e por meio de parcerias.

Perguntado sobre quais são as tendências digitais na área financeira, ele cita como exemplo as fintechs ou agfintechs.

"Entre as possibilidades que o mercado oferece estão desde mecanismos de pagamento diferenciados, como o uso de token, operações de barter, de plano safra, até trazer a análise de crédito de forma mais assertiva e com base em dados, entre outros, mas não definimos ainda quais estarão no Conecta", afirmou o executivo ao AgFeed.

Além do marketplace, do programa de fidelidade e do eixo financeiro, Araújo disse que, futuramente, o Conecta também deve agregar serviços de logística. "E todos eles estão sendo construídos em conjunto com a Vertem”, ressaltou.

Parceria recente

No bloco chamado “dentro da porteira” novos serviços também vêm sendo adicionados. Nele está um dos principais produtos digitais da multinacional alemã, o xarvio, plataforma global de agricultura digital da empresa, com soluções que envolvem softwares, captação e análise de dados, consultoria agronômica, entre outras funcionalidades.

"A base do funcionamento do xarvio é a inteligência artificial, afinal são algoritmos, modelos estatísticos, que geram soluções do plantio até a colheita", explica Araújo.

O cruzamento de dados e a geração de mapas e recomendações permite, por exemplo, que o algoritmo mostre em qual talhão se deve colocar mais ou menos fertilizante, ou qual o melhor manejo de plantas daninhas para áreas específicas de uma mesma propriedade, além de uma das grandes tendências atuais que é o plantio com taxa variável.

O diretor de Digital da Basf ressalta que o projeto começou do zero em 2018 e hoje já conta com 11 milhões de hectares mapeados.

No começo eram atendidos os clientes de Goiás e atualmente já estão mapeadas áreas de Mato Grosso, Bahia e região Sul do Brasil.

"Todo ano estamos triplicando os números, especialmente de área e usuários, porque em digital não há crescimento linear, devemos seguir crescendo de forma exponencial", diz ele.

Há duas semanas a Basf agregou mais um serviço à plataforma, com o lançamento do programa xarvio Agro Experts.

O sistema foi aberto para que consultorias agrícolas independentes utilizem as funcionalidades e prestem serviços aos clientes.

Segundo a Basf, é uma espécie de “Quinto Andar", numa analogia à startup voltada para o mercado imobiliário urbano, onde os corretores de imóveis são os consultores agronômicos, se conectando com os clientes.

Inovação constante

Na opinião de Almir Araújo, o grande avanço atual é o maior acesso das pessoas, inclusive dos agricultores, às tecnologias que há 5 anos estavam muito distantes de todos, como a inteligência artificial, a internet das coisas e o blockchain.

"As empresas estão entendendo como trabalhar estas tecnologias, como o ChatGPT, e como extrair valor disso, como tornar isso em algo que gere valor para o agricultor" afirma.

E para seguir trazendo novas soluções, o executivo destaca que o projeto de inovação aberta é fundamental.

Um terceiro pilar da Basf, que anda em paralelo com o xarvio e o Conecta, é o chamado Agrostart, programa de inovação aberta dedicado a startups, que também promete ampliar a oferta de serviços.

O projeto é baseado em parcerias e fomento, além da parte de intraempreendedorismo, em que os colaboradores são incentivados a trazer algum tipo de disrupção para o mercado.

O Agrostart também trabalha próximo da Basf Venture Capital, uma unidade separada que faz investimentos em projetos de inovação.

Perguntado sobre quais são as tendências futuras na agricultura digital, o diretor da Basf acredita que, no curto prazo inteligência artificial e taxa variável são alguns dos focos. Também destaca as novas soluções voltadas ao mercado de carbono e as próprias fintechs.

Já no longo prazo, acredita que haverá uma forte junção entre as tecnologias espaciais e a agricultura, na chamada AgSpace, o que deve extrapolar o que se conhece como agricultura 5.0, com participação cada vez maior de empresas de satélites, além de um forte avanço de equipamentos autônomos para fazer o manejo agrícola.