Desde sua fundação, em 2016, a agtech Bart Digital, companhia que atua na criação de soluções digitais para documentações de financiamento agrícola, já foi duas vezes buscar recursos no mercado para financiar seu crescimento.

Na primeira captação, em 2017, levantou junto ao fundo SP Ventures,um dos mais ativos em investimentos de venture capital do ecossistema agtech brasileiro. Na época, o dinheiro ajudou a desenvolver a ferramenta que é hoje o seu principal produto, o Ativus, plataforma onde justamente são feitas as emissões, assinaturas digitais e registros eletrônicos.

Depois dessa rodada inicial, a startup fechou, em setembro do ano passado, uma captação de R$ 5 milhões, numa rodada ‘bridge’ junto ao E3 Negócios e à Bossanova Investimentos.

Os recursos ajudaram a empresa a desenvolver o Synergy, produto que conecta os clientes da Bart entre si. “Com isso, é possível criar o ‘match’ de serviços entre uma cooperativa com uma trading, uma revenda com um fundo de investimento ou esse fundo com um assessor jurídico, por exemplo”, explica a própria empresa.

Segundo Mariana Bonora, CEO da empresa, só este ano o Synergy já soma R$ 250 milhões em atividade, entre contratos já concluídos e assinados.

Agora é hora de voltar para a estrada, em um novo road show junto a investidores. Segundo adiantou Mariana ao AgFeed, a empresa prepara terreno para buscar uma rodada de investimentos, do tipo Série A. A largada será dada nos próximos 30 dias.

Os recursos captados servirão para construir um novo produto específico voltado para grandes empresas, com potencial para serem tanto clientes quanto investidores.

“Como vamos captar para investir num produto, preciso atrair e ter empresas utilizando. vamos focar no Brasil em CVC e em empresas que tenham sinergia com o serviço”, diz Mariana.

A executiva deve apresentar ao mercado uma empresa em franca expansão, com números já expressivos. Em 2020, a plataforma da Bart transacionou cerca de R$ 3 bilhões, montante que passou para R$ 7 bilhões em 2021 e encerrou 2022 na faixa dos R$ 8,5 bilhões. Em 2023, a expectativa é encerrar o ano com R$ 15 bilhões.

Segundo a CEO, o resultado do primeiro semestre já foi 50% maior neste ano do que no ano passado.

Advogada de formação, Mariana já atuava diretamente com o agro antes de fundar a Bart. Nesse momento da carreira, ela lidava com muitas operações de barter, algo de que gostava por trazer um tipo de negócio e comercialização diferentes, além de uma dinâmica documental também fora do usual.

Com a presença cada vez maior do mercado de capitais no agro, atuando inclusive com CPRs, Bonora viu um gargalo operacional para formalizar, juridicamente, os títulos de crédito. “Esse tipo de operação sempre me desafiou, pois não podíamos deixar nenhuma ponta jurídica solta”.

Em 2016 então, ela criou a Bart, e nos primeiros anos foi equilibrando a atuação empreendedora com o trabalho que possuía na época. A executiva só foi se dedicar exclusivamente ao negócio próprio quando participou de um programa de aceleração.

O desafio, na época, era convencer os clientes que uma assinatura digital era algo válido, algo que hoje em dia é mais comum.

“Precisávamos de um produto que nos permitisse entrar no mercado e nos estabelecer enquanto a digitalização crescia. Criamos um sistema de gestão de assinaturas de contrato, que na época era mais focado em agroquímicas e empresas grandes, com ciclos de vendas longos”, comenta Bonora.

A empresa teve uma “sorte”, pois contou com a criação da MP do Agro em 2020 e a pandemia de Covid-19, que acelerou a digitalização do campo. “Naquele ponto, já tínhamos os produtos prontos”.

A Bart Digital foi a primeira empresa a emitir, em 2021, uma e-CPR (Cédula do Produto Rural Digital) com trâmites 100% digitais.

“Começamos cedo e, por isso, demoramos três anos para entender o melhor produto para o mercado, e foi algo que fizemos junto com os clientes”, diz a CEO.

Nos cálculos da empresa, que já conta com cerca de 160 clientes, ao digitalizar esse processo que comumente envolvia assinaturas e burocracias físicas, o tempo necessário para formalização pode ficar até 85% menor.

De acordo com Mariana, do ano passado para cá a Bart Digital deu um salto na busca de informações, principalmente com certidões de regularidade e cartórios que os clientes usavam para fazer análise de crédito. A ideia é aumentar a infraestrutura customizada da Bart.

“Quando um cliente nos buscar, já temos muitos tipos de documentos prontos, e vamos moldando a entrega conforme a demanda do cliente. Evoluímos muito nisso de um ano para cá”.

Para ajudar nesse avanço, a empresa passou a oferecer novas operações na plataforma, como duplicatas e documentos de financiamento que não necessariamente envolvem CPRs.

“Surgiram muitas startups que querem ‘unir a Faria Lima ao campo’ ao longo dos anos. A Bart se posicionou como uma estrutura tecnológica para essas companhias. Atendemos muitas agfintechs, agtechs e fintechs, por exemplo”, diz a CEO.

Para além de atuar somente digitalizando documentações e processos, a empresa também joga lado a lado com o cliente para identificar em qual etapa da burocracia ele tem mais problemas, e a partir disso, ver como o tempo pode ser ainda menor. “Temos reuniões constantes com todos os clientes, onde atuamos como uma espécie de assessoria e consultoria”, afirma Bonora.