Se de um lado a América Latina é uma região com uma biodiversidade extensa e altos níveis de produção de alimentos, do outro, os investimentos de Venture Capial na região em empresas de tecnologia para a produção de alimentos, as chamadas agrifoodtechs, ainda não fez jus às oportunidades que o território oferece.

Uma pesquisa da gestora americana AgFunder em parceria com a SP Ventures, divulgada nesta quinta-feira 15, mostrou que as startups de tecnologia agroalimentar da América Latina levantaram US$ 1,7 bilhão em 2022, uma queda de 39% em relação ao recorde de 2021 na região, quando bateu os US$ 2,8 bilhões.

O investimento na América Latina representa apenas cerca de 5% do total global. Segundo o AgFunder, foram levantados US$ 29,6 bilhões em 2022 para iniciativas desse tipo.

Mesmo assim, a tendência é de uma retomada no ano de 2023, com as gestoras de Venture Capital apostando principalmente em fintechs e startups que apostam na conservação de alimentos.

Mesmo ainda abaixo de 2021, o número de rodadas de financiamento em 2022 mostra um crescimento de forma intensa no longo prazo. Em 2022, foram 176 negócios que receberam aporte, enquanto em 2018, foram 85. Em 2021, o resultado foi recorde em 227.

“Embora tenha havido um declínio geral no número de negócios fechados em 2022 em comparação com 2021, mais deals em estágio de crescimento foram realizados, sinalizando um ecossistema em amadurecimento”, destacou a pesquisa.

Na divisão por estágio de cada startup, a maioria dos investimentos ainda se encontra na fase chamada seed, onde a empresa passa por uma validação de seu modelo de negócios.

No ano passado, foram 103 negócios fechados nessa fase. Na fase series A, que é a segunda inicial, foram mais 44. Nas fases intermediárias, foram 20 negócios, enquanto que na última fase de crescimento, chamada debt, foram 9 negócios.

Nessa última fase, estão negócios mais já bem estabelecidos, como a Rappi, por exemplo, que levantou US$ 112 milhões no ano passado.

O Brasil é de longe o maior mercado latino-americano para startups e investimentos em tecnologia agroalimentar, com quase 50% de participação no mercado com tecnologias que abrangem a cadeia de suprimentos no ano passado. Ao todo, foram 86 aportes fechados no período.

Para onde foi o dinheiro?

Enquanto as startups focadas na entrega de alimentos continuaram a trazer a maior quantidade de capital, duas categorias de tecnologia agrícola fecharam mais negócios: os marketplaces e as fintechs e aquelas empresas focadas em softwares de monitoramento. Enquanto a primeira captou US$ 181 milhões, a segunda recebeu US$ 127 milhões.

Na entrega de alimentos, a startup mexicana Justo, que já atua no Brasil, teve um financiamento de Série B de US$ 152 milhões. A empresa busca eliminar intermediários na entrega de alimentos, que muitas vezes impactam nos preços finais.

“Mostramos que podemos entregar comida de boa qualidade, com ótimo atendimento e de forma mais eficiente e justa em relação aos nossos fornecedores, à comunidade, à nossa própria equipe e ao meio ambiente”, destacou a empresa na pesquisa. A AgFunder é uma investidora da Justo.

No segmento de marketplaces e fintechs, a brasileira Agrolend levantou quase US$ 100 milhões durante o ano. A Agrolend oferece empréstimos de capital de giro para pequenos e médios agricultores, no ponto de venda, para financiar a aquisição de insumos agrícolas.

Do lado negativo do levantamento, Louisa Burwood-Taylor, uma das responsáveis do AgFunder pela pesquisa, apontou que os investimentos nas biotechs decepcionaram, com US$ 41 milhões investidos na categoria e apenas US$ 2 milhões para empresas de automação e robótica.

“Seria bom ver mais tecnologia profunda, ciência profunda e inovações pioneiras que capitalizam a criatividade latino-americana”, apontou Burwood-Taylor.