Criada há cinco anos por um engenheiro agrônomo, a Inspecto Agri já conquistou clientes de peso em sua trajetória.
Bunge, Cargill, Lavoro, Amaggi, Basf, Monsanto e Bayer são algumas das empresas que apostaram no “hub de soluções de crédito agrícola” que a companhia diz oferecer.
Para escalar a solução, lançar novos produtos e dobrar sua receita, a startup está em fase de captação de recursos.
Com uma rodada aberta na plataforma de investimentos via crowdfunding Eqseed, a agfintech está em busca de R$ 4,8 milhões.
De acordo com Genival Nascimento, CEO e fundador da Inspecto Agri, os recursos servirão para a empresa aumentar a equipe e melhorar a tecnologia. A ideia é escalar e criar novos produtos financeiros para atender produtores e toda rede de distribuição já conectada na plataforma.
A companhia desenvolveu uma plataforma que utiliza IA, geolocalização e monitoramento por satélite para automatizar a análise de risco, formalização de garantias e acompanhamento contínuo das operações.
Com isso tudo em mãos, fornece os dados a bancos, seguradoras, tradings e produtores. Hoje a base da companhia possui 33 mil produtores cadastrados e monitora 21 milhões de hectares.
A empresa faturou R$ 6,4 milhões em 2023, o triplo de 2022. Para 2024, a projeção é atingir R$ 10 milhões. A meta da empresa é alcançar R$ 18 milhões de faturamento em 2025.
“A maior parte do cheque que estamos buscando será para trazer novos produtos, criando veículos próprios de financiamento como CRA e um Fiagro”, contou Nascimento. “Toda agtech vai se tornar uma fintech algum dia, e estamos virando essa chave agora”.
A ideia é que quando um produtor acesse a plataforma, tenha, entre as opções de contratação de crédito, um fundo da própria Inspecto Agri. Segundo o CEO, hoje a plataforma possui R$ 6,2 bilhões em CPRs, o que abre espaço para a startup atuar com antecipação de recebíveis.
Ele prevê que o veículo de financiamento próprio comece com R$ 40 milhões, mas pela demanda, talvez seja ainda maior. “Hoje o mercado de financiamento agrícola via tradings e empresas de químicos é maior que R$ 200 bilhões”, estima.
Em termos comparativos, a TerraMagna, uma das startups líderes em crédito agrícola, beira os R$ 2 bilhões, o que abre espaço para atuar nesse mercado cem vezes maior.
Para driblar a inadimplência e produtores com problema, a esteira de crédito completa da plataforma da Inspecto Agri é o antídoto.
“Existem bons produtores, e essa tempestade que o agro vive deu uma sacudida na árvore. Vão ficar só os produtores profissionais”. Hoje, ele estima que muitos credores contratam a plataforma inclusive como uma forma de mitigação de risco, para não financiar produtores que possam entrar em recuperação judicial.
Na plataforma, 70% do faturamento é originado de credores, como tradings, revendas e empresas de agroquímicos. O restante (30%) vem de produtores. A Inspecto permite, para além da análise de risco e da contratação de crédito, um monitoramento pós-crédito.
O modelo de negócio é Saas (software as a service), num esquema de assinatura mensal da plataforma.
A rodada atual de R$ 4,8 milhões é exclusiva na EqSeed. Igor Monteiro, CEO da EqSeed, afirma que a tecnologia da agtech chamou a atenção da empresa, que faz um crivo sob as startups que captam na plataforma.
“Em apenas um ano, a startup triplicou o faturamento e mantém uma margem de lucro robusta de 35%, comprovando a alta aderência da solução no mercado. Eles oferecem aos credores uma solução que reduz riscos e amplia o acesso ao crédito”, opinou Monteiro.
Antes dessa rodada do tipo seed, a startup havia levantado R$ 2,2 milhões com investidores anjo, incluindo Itamir Viola, CEO da Techinvestor, fundo paranaense que investe em agtechs e com Sérgio Pigozzo, executivo que já foi CFO da Bunge na América Latina.
Genival Nascimento é um baiano nascido em Baixa Grande. “Uma cidade onde raramente chove, por isso quis sair de lá”, brincou.
Quando criança, ajudava seus pais no trabalho que envolvia plantação de mandioca, tangerina e amendoim num pequeno sítio e a venda em feiras locais aos finais de semana.
Foi nessa época que o executivo percebeu que “gostava de vender”, e chegou a comprar carrinhos de mão para ajudar clientes a levar as compras.
Quando adolescente, foi morar com uma tia em Tangará da Serra (MT). Por lá cresceu, se formou em engenharia de produção e iniciou sua trajetória profissional.
Genival Nascimento já atuou numa usina da Uisa, antiga Itamaraty, na Odebrecht e em meados de 2015 foi para o oeste da Bahia, atuar com soja, milho e algodão em Luís Eduardo Magalhães.
Por lá ele atuou na Kuhlmann Monitoramento Agrícola, uma startup que foi posteriormente comprada pela Bureau Veritas. Em 2019 atuou na Solinftec, onde “ajudou a empresa a expandir para o Matopiba”.
“Ao longo desse tempo mapeei dores nas fazendas, nas tradings, como era feita a compra, financiamento e senti que havia um problema de assimetria de informações. Faltava dados para acelerar processos de crédito”, diz.
Em 2019 a Inspecto Agri nasceu, segundo o fundador, para ser uma plataforma de gestão de crédito que conecta produtores a credores do agro, formalizando operações e monitorando o pós-venda com satélites.
Nascimento projeta que em 2026 a empresa pode passar por uma rodada do tipo Série A. Ainda sem noção dos valores, ele acredita que nesse momento a companhia poderá trazer como sócios fundos de venture capital.