Pompeo Scola, CEO da Cyklo Agritech, aceleradora voltada exclusivamente para startups do agronegócio, estabeleceu um limite de investimento em 10 projetos por ano. Como ele mesmo descreve, “é o máximo de crianças que consigo cuidar”.

Em muitos casos, ele coloca dinheiro em empreendimentos que ainda não passam de uma apresentação no Power Point, segundo o executivo. Mesmo assim, já conseguiu levantar recursos para um primeiro fundo de R$ 5 milhões, que foram alocados em 20 empresas.

Scola fez um percurso original para encontrar suas “crianças”. Elas estão em uma região de muito potencial para inovação no agronegócio, segundo descreve. Foi o que o levou a instalar a Cyklo em Luis Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, espécie de capital informal do Matopiba, região que reúne também as fronteiras agrícolas do Maranhão, Tocantins e Piauí.

“Destas vinte empresas investidas com o primeiro fundo, doze ainda estão em operação depois de dois anos, que é considerado o período decisivo para uma startup”, diz Scola. “A média mundial é de duas sobreviventes a cada 10 iniciadas depois desse período”.

O bom desempenho incentivou o investidor a trazer mais crianças para debaixo de suas asas. Neste momento, a Cyklo está em fase de captação de seu segundo fundo, que terá o dobro de patrimônio do primeiro, com R$ 10 milhões.

“Já conseguimos compromissos para R$ 6 milhões. Acredito que até o final do ano, consigamos fechar o restante, para que no ano que vem já possamos começar os investimentos”. A perspectiva é estar com todo o recurso investido até junho de 2024, afirma Scola.

Scola tem décadas de experiência cuidando do desenvolvimento inicial de startups. Ele foi vice-presidente do Buscapé, plataforma de comparação de preços no e-commerce, e também criou a aceleradora Darwin Startups.

A empreitada no Matopiba começou com um convite recebido por Scola de produtores rurais da região. “Foram eles, inclusive, que começaram os investimentos no primeiro fundo”, conta. “Lá, se ganha menos com a produção que em outras parte do país, mas a inovação é uma parte fundamental”, explica.

E os números comprovam essa tese. Em média, os aportes do primeiro fundo por startup foram de R$ 250 mil.

Segundo a Cyklo, as 12 empresas sobreviventes já faturam, somadas, cerca de R$ 25 milhões por ano e estão avaliadas em algo próximo de R$ 100 milhões.

“No final, somando as empresas que ficaram pelo caminho e as que deram certo, cada uma com um grau diferente de sucesso, o retorno para cada investidor deve ficar entre três a quatro vezes o valor investido”, diz Scola.

O ciclo de investimento dura, geralmente, cinco anos. Mas das 12 "crianças" que cresceram, metade já recebeu aportes adicionais de outros investidores.

O maior exemplo é a Dioxd, de tratamento de sementes, que conseguiu captar R$ 1,5 milhão com o clube de investimentos Agroven e com a GR8 Ventures.

Esse aporte envolveu 15% de participação na empresa, ou seja, ela está avaliada em R$ 10 milhões”, explica Scola.

Outros exemplos são a SSCrop, de tecnologia para gestão, que recebeu R$ 800 mil; a AgHolmes, que oferece serviços contábeis com Inteligência Artificial, com aporte de R$ 200 mil; e a plataforma de educação e informação Agro Insight, que recebeu R$ 300 mil.

Questionado sobre os motivos que levam a essa taxa de sucesso, Scola afirma que ele é fruto do pouco número de startups do agro que existem no Brasil.

“Hoje, são cerca de 1.500. Na Cyklo, nós recebemos entre 50 e 60 casos por ano, e temos que escolher 10. E somos a única aceleradora voltada para o setor. Agora está sendo montada mais uma. O empreendedor não tem a quem recorrer”.

Além do aporte financeiro, a Cyklo oferece também uma mentoria para os empreendedores. “Eles ficam nove meses aprendendo, e depois, quando é feito o investimento, nós montamos um conselho consultivo que acompanha de perto a startup, com reuniões mensais”, diz o CEO.

Ele afirma que pelo seu tamanho, o agronegócio brasileiro poderia estar com cerca de 40 mil startups. “Pelo menos 12 mil novos empreendimentos o Brasil poderia ter, pela força do setor na economia”.

Scola faz questão de ressaltar a diferença entre hub de inovação, muito comum principalmente dentro de grandes empresas, e uma aceleradora.

“O hub faz o trabalho de buscar startups que combinem com as necessidades das grandes empresas. Na maioria das vezes, startups já bem consolidadas. Enquanto um hub precisa de R$ 500 mil em investimentos por ano, uma aceleradora demanda cerca de R$ 2 milhões”, compara.

Mesmo com esse alto custo, Scola está colocando em prática o plano de expansão da Cyclo. A aceleradora já fechou com parceiros para ter um escritório em São Paulo, e está em negociações para iniciar operações em Joinville, na região oeste de Santa Catarina.

Outro objetivo do executivo é conseguir parcerias com o poder público, especialmente conseguindo recursos para a atividade de aceleradora de startups.

“Estávamos com uma conversa já bem adiantada com o governo do Mato Grosso, mas vieram as eleições e ela ainda não foi retomada. Hoje, o estado que me parece mais pronto para um programa assim é o de Goiás”, diz Scola.

O modelo, segundo ele, seria de uma empresa pública que conseguiria recursos, e estes seriam direcionados pela aceleradora para as startups.