O momento de margens apertadas e crédito escasso que tem ditado o ritmo do agro contaminou também o mercado de fusões e aquisições (M&As) no setor, que deve encerrar 2025 com um empate nos negócios frente a 2024.
Essa é a estimativa da Condere, empresa especializada na assessoria desses processos. Segundo um estudo da companhia, o agro deve encerrar o ano com algo próximo a 60 operações, um empate em relação ao volume mapeado de 2024, de 65 negócios.
Ao AgFeed, Luiz Eduardo Andrade, sócio da consultoria, disse que, mesmo em um ano “azedo” para o mercado, as operações estão acontecendo.
“Um endurecimento de margens acaba trazendo mais M&As na parte de produção primária, principalmente avicultura, pecuária e piscicultura. Mas também houve operações de insumos, agroindústrias e maquinário”, disse.
Entre 2020 e 2023, de acordo com a própria Condere, os M&As no setor ultrapassaram 70 negócios, com destaque para o ano de 2022, que registrou mais de 100 fusões e aquisições.
Apesar disso, Andrade se mostra otimista para 2026. A própria Condere, que atua no setor por meio de uma joint venture com a Ecoagro, principal securitizadora do País para títulos de dívida do agronegócio, está com uma carteira de mandatos mais aquecida agora do que estava na mesma época em 2024.
Luiz Andrade cita que existem, atualmente, 9 mandatos em execução, que envolvem empresas dos segmentos de distribuição de insumos, fertilizantes, biológicos, armazenagem, sementeiras e químicos. Ao final do ano passado, eram cerca de cinco mandatos.
Andrade é otimista com os próximos anos e acredita numa retomada do número de negócios. “2024 e 2025 são anos escassos, mas não tem como o Brasil não ser protagonista desse mercado. Cerca de 80% do que o mundo vai comer vai vir daqui, seja com taxa de juros a 2% a 20%, seja com quem estiver na presidência”, disse.
Na visão do sócio, a próxima “safra” de M&As deve vir de vários setores, mas com um objetivo em comum: tirar uma certa “fricção” entre etapas da cadeia, principalmente entre a porteira e o porto.
Segundo ele, o mercado entendeu que é complexo operar em todas as etapas e que são muitas para se fazer tudo bem feito. Com isso, vê operações com um olhar atento ao campo.
Ele cita que as teses de consolidação de fundos estavam mais focadas em eficiência operacional antes desse olhar.
“As tradings precisam ‘azeitar a cadeia’ desde a colheita até o navio. Não vejo outra forma de colocar isso de pé sem M&A. São operações intensivas em capital e em elos sensíveis na cadeia”, disse.
Segundo ele, não significa que um grupo de distribuição ou armazenagem vai virar dono de usina, mas talvez criar uma terceira operação junto de algum parceiro que congregue a operação, justamente para “azeitar” esse fluxo.
Um “case de sucesso” para o sócio da Condere é o modelo de negócio da gaúcha 3tentos. A empresa hoje possui três verticais de negócio - venda de insumos, produção de grãos e indústrias.
Segundo Andrade, as unidades operam de uma forma que os elos da cadeia são integrados. “A indústria tem um prêmio para a canola, o que faz o produtor plantar o grão sabendo que, na colheita, não precisa correr atrás de silos, por que a 3tentos tem essa estrutura. Ela ainda faz isso com barter, já sabendo quanto vai receber e moer. Como controla o armazém, tem noção da qualidade do grão”, explica.
Outro movimento visto por Andrade vem das cooperativas, players que são relevantes em M&As fora do País, segundo o sócio. “Tem muita gente também interessada em entrar no setor de serviços. Não será a vaca leiteira do agro, mas é uma demanda crescente”, acrescentou.
Andrade ainda citou alguns setores que devem ser alvos de fusões ou aquisições daqui para frente. Alguns são novos, e outros, já passam por processos de consolidação. São eles: biocombustíveis, biológicos, nutrição e saúde animal e irrigação.
Os M&As em 2025
O levantamento das transações mapeadas até novembro mostra um ano distribuído entre vários segmentos.
Das 52 operações de fusões e aquisições mapeadas até o final de novembro, a Condere calculou que foram 20 no setor de avicultura, pecuária e piscicultura, 13 no setor florestal, 9 em empresas de insumos agrícolas, 6 em agroindústrias e 4 em empresas de maquinário.
Na produção primária, que reúne o maior número de negócios no período, a avicultura celebrou mais negócios. A lista envolve desde a aquisição mais recente, da americana Hickman’s Egg Ranch pela Mantiqueira, que, por sua vez, já havia sido alvo de um outro M&A quando foi adquirida pela JBS em janeiro em um acordo de R$ 1,9 bilhão.
No mesmo setor, a Global Eggs, holding dona da Granja Faria, de Ricardo Faria, comprou a também americana Hillandale Farms no início do ano. Talvez a fusão mais comentada do setor foi a incorporação da BRF pela Marfrig, formalizando a criação da MBRF.
No setor florestal, a Condere cita operações como a venda de uma SPE (sociedade de propósito específico) ligada à Klabin para investidores.
No segmento de insumos, a lista envolve desde uma compra de participação minoritária da Promip por um fundo da gestora Angra Partners até o negócio envolvendo o BNDES e a paulista Santa Clara Agrociência.
No segmento de máquinas agrícolas, revendas de grandes grupos têm se consolidado. No capítulo mais recente, divulgado com exclusividade no AgFeed, a rede Fuganti comprou as lojas da Rodomac, reunindo lojas da New Holland em Santa Catarina.
Luiz Andrade cita que, tanto em 2024 quanto em 2025, 60% das transações envolvem a compra de uma participação majoritária nas empresas. O perfil das transações, contudo, mudou do ano passado para cá.
Em 2024, 77% dos negócios foram por oportunidades estratégicas, com 23% sendo por questões financeiras. Nas operações de 2025 até agora, são 88% estratégicas e 12% por motivos financeiros.
Resumo
- Agro deve fechar 2025 com volume de M&As próximo ao de 2024, sustentado por avicultura, pecuária e piscicultura, prevê Condere
- Empresa possui 9 mandatos em execução e projeta retomada a partir de 2026, com teses voltadas a reduzir fricções logísticas e integrar elos sensíveis da cadeia
- Próxima “safra” de negócios deve avançar sobre biocombustíveis, biológicos, nutrição e saúde animal, irrigação e serviços