Na Boa Safra, uma faca de dois gumes no balanço do terceiro trimestre de 2025. Se de um lado a empresa viu sua receita avançar 56% em um ano e atingir R$ 1,1 bilhão, do outro, viu o lucro também crescer, mas numa velocidade bem menor.

O resultado líquido da companhia foi de R$ 68 milhões, um avanço de 26% frente ao anotado um ano antes. Marino Colpo, CEO da Boa Safra, é direto ao falar dos “detratores do resultado”: “juros mais altos que causaram uma maior despesa financeira, além da variação do preço das commodities”.

“Apesar de crescermos volume, tivemos dificuldade de crescer a margem. Isso fica claro no balanço. Crescemos, mas com um lucro abaixo do esperado”, pontuou. De fato, as projeções da XP e do Citi para o balanço previam lucros líquidos de R$ 80 milhões e R$ 91 milhões.

Apesar disso, Colpo também olha pelo lado positivo, e cita que apresentar um resultado positivo, mesmo com menos margens, mostra uma resiliência do negócio ao olhar para outras empresas do setor.

Já olhando para o quarto trimestre, a direção se mostra otimista com uma carteira de pedidos recorde anotada ao final de setembro, quando encerrou o terceiro trimestre. De acordo com a boa safra, esses pedidos somavam R$ 862 milhões, um recorde para o período. Desse total, R$ 761 milhões são de sementes de soja, principal produto da companhia.

“Tudo nos parece indicar que vamos ter um quarto trimestre melhor do que no ano passado, com mais faturamento. Isso vai ajudar a compor o resultado do ano, mesmo com essa queda de margem”, disse.

Quando divulgou os resultados do segundo trimestre, a Boa Safra olhava para o segundo semestre do ano com bons olhos. Na ocasião, pontuou que contava com uma carteira de pedidos de R$ 1,6 bilhão.

Colpo explica que desse patamar apresentado em junho, R$ 1,1 bilhão já foi vendido, o que resta algo próximo a R$ 570 milhões de pedidos do primeiro semestre que ainda não foram faturados. Dessa forma, a companhia ainda conquistou cerca de R$ 300 milhões em novos pedidos.

Outro ponto positivo destacado por Colpo e também por Felipe Marques, CFO da Boa Safra, em uma conversa com jornalistas para comentar o balanço, foi o avanço da carteira de pedidos de outras culturas além da soja.

Ao final de setembro de 2024, o faturamento com esses produtos (sementes de milho, sorgo, feijão, trigo e forrageira), somava R$ 28 milhões e uma carteira para o quarto trimestre de R$ 33 milhões.

Já neste ano, as vendas no segmento somaram R$ 108 milhões no terceiro trimestre, alta de 279% em um ano, e a carteira para os três últimos meses do ano soma outros R$ 101 milhões.

“O crescimento mais forte vem do sorgo, cultura que tem se expandido no Brasil principalmente pelas indústrias de etanol de cereais, assim como o milho, que também mostra crescimento forte. Outras culturas crescem rápido, mas ainda menores no mix”, acrescentou Colpo.

Da carteira de R$ 862 milhões atual, o CEO conta que grande parte são pedidos das regiões Norte e Nordeste do País, áreas que o plantio ainda não se iniciou pela escassez de chuva, cenário oposto ao visto no Mato Grosso, que concentrou o faturamento do terceiro trimestre.

Como ainda existem casos de replantios no Centro-Oeste, Colpo acredita que o faturamento final deve até ultrapassar a carteira de pedidos.

“O plantio começou muito forte, e achamos que teríamos um terceiro trimestre aquecido. A chuva iniciou e depois cessou. Ainda estamos embarcando produtos, mas nos estados do Matopiba ainda não choveu, e por isso, não embarcamos. Houve uma ‘boa largada’ em Mato Grosso’, mas depois travou”, disse.

A Boa Safra encerrou o trimestre com R$ 1,2 bilhão em caixa e aplicações financeiras, principalmente devido a duas emissões de CRA no valor de R$ 500 milhões cada.

O CFO, Felipe Marques, cita que as captações impactam o resultado financeiro, que também sofreu com impacto de derivativos. “Com sinalizações de queda nos juros, talvez esse trimestre seja o pior momento nas despesas financeiras”, disse. A Boa Safra viu, em um ano, a despesa financeira sair de R$ 24 milhões para R$ 36 milhões no terceiro trimestre.

Parte dos encargos está relacionado a um swap feito no indicador que remunera os investidores dos CRAs. A Boa Safra emitiu os títulos com patamares prefixados, mas, vislumbrando a baixa nos juros sinalizada pelo mercado financeiro a partir do ano que vem, trocou a remuneração para uma taxa atrelada ao CDI.

“Na medida em que ocorrer a queda na Selic a gente acompanha na nossa dívida”, disse Marques.

 

Resumo

  • Faturamento da Boa Safra avançou 56% em um ano, impulsionado pelo aumento de volumes comercializados e pela carteira recorde de pedidos
  • Lucro de R$ 68 milhões veio abaixo das projeções de analistas devido ao aumento da despesa financeira, refletindo juros elevados e impacto de derivativos
  • Companhia encerrou o trimestre com R$ 1,2 bilhão em caixa, após duas emissões de CRAs de R$ 500 milhões cada, e projeta um quarto trimestre mais forte, puxado por vendas no Norte e Nordeste