A São Martinho iniciou a safra 2025/2026 com lucro líquido de R$ 62,8 milhões no segundo trimestre, entre julho e setembro deste ano, queda de 40,9% em relação ao mesmo período da safra anterior. Segundo balanço da companhia sucroenergética, o resultado sofreu impactos, principalmente, pela variação do ativo biológico e pela mudança no calendário de pagamento de juros sobre capital próprio, agora concentrado no período.
Apesar da redução no lucro, o EBITDA ajustado atingiu R$ 805 milhões, avanço de 19,7% sobre o 2T25, com margem de 43,3%, alta de 2,7 pontos porcentuais. O desempenho operacional foi sustentado pelo aumento nos preços e volumes comercializados de etanol, parcialmente compensado pela queda nas vendas de açúcar.
Paralelamente, a São Martinho reduziu levemente seu guidance de moagem para a safra, que se encerra em março de 2026, o que alertou analistas que cobrem a companhia. Segundo o guidance atualizado, a companhia agora estima processar 22 milhões de toneladas de cana, redução de 2,7% em relação à estimativa anterior, divulgada em junho.
O ATR médio (Açúcares Totais Recuperáveis) também foi revisto para 137,6 kg/tonelada, ante 139,9 kg/tonelada, o que representa queda de 1,6%. Com isso, a produção total de ATR deve alcançar 3,03 milhões de toneladas, 4,2% abaixo do guidance inicial.
Na produção, a, São Martinho projeta 1,42 milhão de toneladas de açúcar e 914,6 milhões de litros de etanol, mantendo praticamente inalterado o mix de produção, com 49% voltado ao açúcar e 51% ao etanol. A geração de energia elétrica a partir da biomassa está estimada em 896,4 mil MWh, enquanto a produção de levedura deve atingir 20,6 mil toneladas.
A companhia destacou que a revisão reflete o impacto de condições climáticas desfavoráveis ao longo do ciclo de crescimento da cana, especialmente em áreas de São Paulo e Goiás, o que reduziu o desenvolvimento da planta e, consequentemente, o potencial de extração de ATR.
Mesmo com o ajuste, a São Martinho segue indicando um cenário de rentabilidade resiliente, sustentado por preços favoráveis do açúcar no mercado internacional e pela eficiência operacional de suas unidades.
Esse histórico resiliente da empresa e outros resultados financeiros positivos agradaram investidores e as ações operaram em alta superior a 4% na primeira metade do pregão da B3 desta terça-feira, 11 de novembro.
A receita líquida consolidada cresceu 12,2%, para R$ 1,86 bilhão, puxada pelo etanol, cujas vendas aumentaram 51,3%, alcançando R$ 856,5 milhões. O avanço refletiu alta de 30,1% nos volumes e de 16,3% nos preços, com destaque para o etanol de milho, apoiado em estoques de passagem da safra anterior.
Outros produtos também contribuíram. As vendas de energia elétrica cresceram 14,7%, para R$ 84,3 milhões, impulsionadas por melhores preços e maior volume contratado, e as de DDG - obtido na produção de etanol de milho - subiram 42,9%, para R$ 44,6 milhões
Em contrapartida, a receita com açúcar caiu 12%, para R$ 804 milhões, diante da queda de 8,2% no preço médio e de 4,1% na quantidade vendida. A comercialização de CBIOs caiu 50,3%, totalizando R$ 6,9 milhões, em razão da redução de 26,1% nos volumes e de 32,8% nos preços médios.
A companhia processou 8,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no trimestre, retração de 7,6% em relação ao 1T25, devido à menor produtividade agrícola (-11,7%) provocada pelo déficit hídrico de fevereiro e março.
A produção de açúcar somou 475,1 mil toneladas, baixa de 11,3%, e a de etanol, 297,8 milhões de litros, queda de 13,1%. Já a moagem de milho alcançou 137,3 mil toneladas, com aumento de 11,6% na produção de etanol e ganhos de eficiência nos coprodutos, como DDG.
O custo dos produtos vendidos (CPV) atingiu R$ 926,6 milhões, alta de 10,4%, refletindo o maior volume de etanol e custos adicionais no processamento de milho. As despesas gerais e administrativas somaram R$ 93,1 milhões, queda de 4,4%, enquanto as despesas com vendas subiram 25,8%, acompanhando o crescimento das entregas de etanol.
Outro resultado que agradou investidores foi a dívida líquida, que encerrou junho em R$ 4,9 bilhões, queda de 1,4% frente a março, com índice de alavancagem de 1,36x dívida líquida/Ebitda ajustado.
Além do balanço, a São Martinho anunciou a emissão de R$ 500 milhões em debêntures simples, não conversíveis em ações, no âmbito do “Programa Eco Invest Brasil”, suportado pelo governo federal e que capta recursos em dólar com proteção contra a volatilidade cambial.
O programa viabiliza projetos estratégicos para a indústria verde, recuperação de biomas, infraestrutura para lidar com os efeitos das mudanças do clima e de inovação tecnológica
E os analistas?
Apesar de agradar investidores, o balanço da São Martinho alertou analistas que cobrem a companhia. Em relatório, o BTG Pactual cita a revisão para baixo do guidance e destaca o reflexo do cenário mais desafiador de safra e preços no guidance de capex, também revisado para baixo “um sinal de postura mais cautelosa em relação ao fluxo de caixa livre, diante da fraqueza dos preços do açúcar”
O banco alerta que, embora a empresa pareça confiante de que os preços do açúcar se recuperarão e abrirão melhores janelas de fixação, os valores atuais estão mais de 10% abaixo do custo total estimado de produção em caixa da companhia.
Já o ItaúBBA também cita a revisão no guidance e a prudência da São Martinho, mas aponta que “o cenário ainda desafiador para os preços das commodities, tem reduzido o apetite dos investidores pela tese de investimento”.
Na XP, Gustavo Troyano relatou que os resultados da São Martinho vieram acima das estimativas, mas em linha com o consenso. “Portanto, acreditamos que a revisão negativa do guidance de moagem e do ATR total deve pesar mais no desempenho das ações, o que esperamos ser negativo na sessão de negociação de amanhã”. O que não ocorreu até o momento.
Resumo
- Lucro líquido da São Martinho caiu 40,9%, para R$ 62,8 milhões, mas Ebitda subiu 19,7%, impulsionado por preços e volumes maiores de etanol
- Companhia reduziu o guidance de moagem e ATR por causa do clima adverso, mas manteve resiliência com boa eficiência e controle de custos
- Apesar do alerta dos analistas, ações subiram mais de 2% com a confiança dos investidores e novas emissões de debêntures sustentáveis