Após períodos conturbados, de incertezas sobre a conclusão da compra dos ativos da Marfrig, que demandavam muitas explicações na hora de divulgar os balanços, os altos executivos da Minerva agora comemoram um trimestre de recordes nos resultados da companhia.

No balanço do terceiro trimestre divulgado nesta quarta-feira, 5 de novembro, a Minerva reportou uma receita líquida recorde de R$ 15,5 bilhões, que representou uma alta de 82,5% em relação ao mesmo período de 2024.

O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 1,4 bilhão, um avanço de 70,8% na comparação anual. A margem Ebitda caiu de 9,6% de para 8,9%.

“O principal destaque desse trimestre foram os recordes. A gente teve recorde de receita líquida, recorde de Ebitda e recorde de geração de caixa livre, de R$ 2,5 bilhões. A geração de caixa livre que foi utilizada pra baixar a dívida — a dívida líquida caiu de R$ 14,1 bilhões para R$ 11,7 bilhões e com isso a nossa alavancagem veio pro menor nível desde 2022”, destacou o CFO Edison Ticle, em entrevista ao AgFeed.

A alavancagem que era de 2,6 vezes (dívida/Ebitda) no terceiro trimestre do ano passado, agora caiu para 2,5 vezes.

A Minerva também reportou lucro líquido de R$ 120 milhões, com avanço de 27,6%. O volume total de vendas avançou quase 45%, ficando em 556,6 mil tonelada.

O destaque foi o mercado externo que representou mais de 60% da receita bruta no período. Os principais destinos foram Ásia (32%), NAFTA (29%) e Américas (12%).

O AgFeed questionou o CEO da Minerva, Fernando Vilela de Queiroz, sobre qual tem sido o reflexo do tarifaço de Donald Trump sobre a carne bovina nos negócios da companhia, considerando os dados do balanço.

“A grande tese da Minerva é ter a diluição de risco, a mitigação de risco através da diversificação geográfica. Então, nós construímos isso como uma defesa sanitária e cambial e ela está se tornando muito valiosa num momento de geopolítica instável”, explicou o executivo.

“A gente substitui as exportações de um país por outro país. Então, no caso dos Estados Unidos, a gente obviamente diminuiu brutalmente o Brasil (como origem) e substituiu pelos outros três países que podem fazer Estados Unidos, que são Uruguai, Argentina e Paraguai”, acrescentou.

Um destaque negativo do balanço foi o resultado financeiro, que ficou em R$ 1 bilhão negativo. Edison Ticle admitiu que a última linha só não foi ainda melhor porque houve uma maior despesa financeira, sendo um dos motivos a taxa de juros mais alta em relação ao ano passado.

“Como a gente estava num processo de dívida mais alta — a gente lembra que reduziu o endividamento, começou a reduzir mais forte agora, a partir do segundo para o terceiro trimestre — então a gente já pegou mais uma dívida alta com uma taxa de juros alta, despesa financeira mais alta”, explicou.

“E a gente teve despesa com hedge. O real se apreciou ao longo do trimestre, gerou uma despesa financeira adicional por conta de hedge. Alguma coisa ao redor de 400 milhões de reais”.

Conclusão antecipada e “vantajosa” do negócio com Marfrig

Além dos números positivos em receita e lucro líquido, a avaliação dos executivos é de mais uma “vitória” em relação ao difícil processo para concluir a compra dos ativos da Marfrig.

No balanço, a Minerva informou que antecipou a conclusão da integração das plantas, que sempre foi prevista para 2026, mas agora já está finalizada, segundo a empresa.

Segundo Edison Ticle, a empresa aproveitou o primeiro mês com todas as plantas adquiridas da Marfrig totalmente integradas ao sistema de gestão para recalcular o valor pago pelo negócio.

Ao anualizar a receita de setembro e aplicar a margem média de 9%, o Ebitda estimado para esses ativos chegou a cerca de R$ 1,55 bilhão. Com base nisso, o múltiplo pago pela Minerva — isto é, a relação entre o preço da compra e o lucro operacional gerado — ficou entre 4,4 e 4,6 vezes, enquanto as ações da própria companhia negociavam na época a cerca de 5,5 vezes o Ebitda.

Na prática, o objetivo da Minerva com o cálculo, que será detalhado aos investidores, é tentar “provar” que a operação não foi “cara” como em alguns momentos agentes envolvidos teriam argumentado, especialmente do ponto de vista do “vendedor”, que gostaria de mostrar ao mercado que fez um bom negócio.

Quando foi concluída a aquisição, no ano passado, a Minerva anunciou ao mercado em fato relevante que a compra das 13 unidades industriais e de um centro de distribuição pertencentes à Marfrig totalizavam aproximadamente R$ 5,68 bilhões. Quando o negócio foi anunciado, em 2023, as duas empresas falavam em R$ 7,5 bilhões.

“A gente sabia o que estava comprando, sabia do potencial de extração de sinergias, e se num primeiro momento pareceu caro, a gente está mostrando para o mercado que a operação foi accretive, que tinha não só caráter estratégico, mas também financeiro — foi uma operação bastante vantajosa”, afirmou Ticle.

Na avaliação da Minerva, o ano está caminhando para que o guidance apresentado nos últimos meses seja alcançado, que era uma receita entre R$ 50 bi e R$ 58 bilhões em 2025.

“Se você pegar os últimos 12 meses, a gente está em 51 (bilhões), quase 52. Já deve caminhar para ficar dentro do range”.

Na visão de participantes de mercado, há chances de uma receita de até R$ 56 bilhões para a Minerva este ano.

Resumo

  • Minerva alcança R$ 15,5 bilhões no 3º tri de 2025, alta de 82,5%, e Ebitda de R$ 1,4 bilhão, avanço de 70,8%
  • Integração das 13 plantas compradas do Marfrig foi antecipada, e múltiplo pago é considerado vantajoso pela emrpesa
  • Alavancagem caiu para o menor patamar desde 2022, com dívida líquida reduzida em R$ 2,4 bilhões