Uma das mais tradicionais produtoras de erva-mate do Rio Grande do Sul, a ervateira Vier pediu falência na semana passada, alegando dificuldades financeiras e administrativas, após acumular um passivo de quase R$ 50 milhões.
A sentença que autorizou o pedido de falência da companhia foi assinada no último dia 29 de outubro, pelo juíz Eduardo Sávio Busanello, da Vara Regional Empresarial da Comarca de Santa Rosa, cidade-sede da Vier.
No processo, a Vier informou que já havia encerrado suas operações em setembro do ano passado e apresentou uma série de fatores que, acumulados ao longo dos anos, teriam inviabilizado o negócio.
A lista de problemas vai do campo à gestão. De um lado, a empresa citou falta de matéria-prima em regiões onde a monocultura da soja avançou sobre áreas tradicionalmente dedicadas aos ervais, além do encarecimento de matérias-primas e do frete vindo das unidades de Rio Negrinho (SC) – que já havia fechado no passado – e São Mateus do Sul (PR).
De outro, mencionou dificuldades administrativas e financeiras, citando como fatores que comprometeram as atividades da empresa tomada de financiamentos, problemas com o Fisco, um incêndio que atingiu a sede da ervateira em Santa Rosa em dezembro de 2012 e problemas de saúde de seu antigo administrador, Oscar Ignácio Büttenbender, falecido em 2020.
A Vier tinha dívidas de R$ 49,7 milhões, muito além dos ativos, estimados em R$ 11,8 milhões.
Mesmo com a paralisação das operações, a marca segue presente nos pontos de venda. Isso porque, antes de pedir falência, a empresa firmou um acordo para que a ervateira Rei Verde, de Erechim (RS), fizesse a fabricação e comercialização de produtos sob a marca Vier.
No negócio, a Rei Verde combinou de repassar à Vier mensalmente 3% da receita líquida aferida com os produtos vendidos.
Mesmo com a falência, a princípio, nada muda no acordo firmado entre a Vier e a Rei Verde, garantindo a continuidade da presença da marca nas gôndolas, segundo o advogado André Fernandes Estevez, sócio da empresa Estevez & Guarda Administração Judicial, designada para ser a administradora judicial da massa falida.
“A definição vai depender do juiz, do Ministério Público também, que vão opinar sobre o caso, mas o nosso intento vai ser que se possa continuar utilizando a marca e, preferencialmente, tentar manter as atividades produtivas que já estão funcionando e, claro, ao mesmo tempo ter a obrigação de buscar uma forma de retribuição pelo uso da marca para poder pagar os credores”, afirmou Estevez ao AgFeed.
“Da minha parte, não tem nenhum problema que prossiga pela Rei Verde, mas claro que depende de uma série de análises. Eu não tenho como definir sozinho o que vai ser feito”, emendou.
“Essa equação pode favorecer a Rei Verde, que talvez tenha interesse em seguir a produção e seguir com o uso da marca – e talvez seja interessante nesse sentido. Não existe uma ideia de sugerir uma interrupção de produção, muito menos uma interrupção de imediato. O que se imagina é que talvez se converse para ver alguma forma de uso racional da marca.”
Além do contrato com a Rei Verde, a companhia também ainda recebe receita de aluguel da antiga unidade de São Mateus do Sul (PR), atualmente utilizada pela Maracanã Indústria e Comércio de Erva-Mate.
Fundada em 1945 por Jacob Vier, a empresa começou produzindo e vendendo erva-mate em sacos de estopa e sem marca.
A Vier passou por modernizações a partir de 1970, com a chegada de Oscar Büttenbender à gestão e forte aposta na industrialização, o que consolidou a marca como uma das principais referências do mercado local de erva-mate.
Assim, apesar do declínio administrativo, a marca segue com forte reconhecimento regional. Neste ano, por exemplo, ainda apareceu entre as mais lembradas pelos consumidores gaúchos no tradicional prêmio Top of Mind, da revista Amanhã, de Porto Alegre.
O fechamento da Vier, porém, não altera a dinâmica do mercado gaúcho da erva-mate, bastante pulverizado.
De acordo com o Instituto Brasileiro da Erva Mate (Ibramate), o Rio Grande do Sul abriga cerca de 240 empresas processadoras de erva-mate, responsáveis por mais de 1,5 mil marcas.
Resumo
- A Ervateira Vier pediu falência após acumular quase R$ 50 milhões em dívidas, citando falta de matéria-prima com avanço da soja, custos logísticos e problemas administrativos, fiscais e de gestão
 - Operação já havia paralisado desde setembro de 2024; marca segue no mercado via acordo com a empresa Rei Verde
 - Fundada em 1944, a Vier tornou-se referência regional ao longo da décadas e ainda figura entre as marcas de erva-mate mais lembradas pelos gaúchos