Em um tempo não muito distante, a chamada gestão orientada por dados (data driven) era privilégio somente de grandes companhias. Com a democratização do acesso a redes de internet no meio rural e novas (mais baratas) opções de serviços e sistemas, empreendedores apostam no início de uma era do agricultor data driven.

Essa foi a visão dos fundadores da startup Solaris Tech, de Jundiaí (SP), ao criar a Agrometrics. Fruto de um investimento de apenas R$ 300 mil, a solução combina sensores inteligentes e Inteligência Artificial para monitorar, em tempo real, a qualidade do solo e recomendar ajustes imediatos para o aumento da produtividade.

Lançada há pouco mais de um mês, a ferramenta une um equipamento portátil (que precisa ser inserido na terra) e Inteligência Artificial – hardware e software – para medir a presença de nitrogênio, fósforo, potássio (NPK), pH, umidade e condutividade elétrica (EC) no local.

Os resultados são enviados diretamente para o celular do produtor, que recebe recomendações de correção e manejo de acordo com o tipo de cultivo, instantaneamente.

O sensor da Agrometrics utiliza eletrólise para medir os elementos químicos do solo e faz registro de geolocalização, o que permite ao produtor acompanhar a evolução do terreno com precisão.

Um dos diferenciais do sistema é o tempo de resposta. Enquanto análises convencionais de solo podem levar até 30 dias, o Agrometrics entrega o resultado imediatamente, explica Gabriel Pincinato, Head de Software da Solaris Tech.

“O agricultor não precisa mais esperar dias para ter um laudo de laboratório. A leitura é feita na hora, com base em dados confiáveis, o que agiliza as decisões e reduz desperdícios”, assegura Pincinato.

“É como ter um agrônomo digital no celular. O produtor insere o sensor, faz a leitura e, em minutos, sabe exatamente o que precisa corrigir para o cultivo render mais”, resume.

De acordo com Pincinato, a agilidade pode fazer diferença no bolso. Um dos primeiros usuários a testar o sistema conseguiu, segundo ele, uma redução de até 35% nos custos de adubação. O tempo de resposta nas correções de solo caiu pela metade, diz o executivo, e a produtividade média por hectare aumentou em até 25%, chegando a 40% em áreas com desequilíbrio nutricional.

Segundo os fundadores da agtech, a solução foi idealizada para caber no bolso e na disponibilidade de tecnologia de pequenos e médios produtores. A Agrometrics custa R$ 419,90 o kit celular e R$ 1.205 o conjunto para uso fixo. Já o acesso à plataforma, que oferece banco de dados, relatórios e suporte técnico, é feito por assinatura mensal a partir de R$ 59,90.

A base de dados da Agrometrics será ampliada com informações da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que reúne dados sobre cerca de 300 tipos de solo do Brasil, permitindo análises mais precisas conforme as características regionais.

Ainda em fase inicial de mercado, a Solaris colocou recentemente os primeiros 30 sensores em uso em propriedades de São Paulo e Santa Catarina e agora trabalha na expansão da tecnologia para outros segmentos.

“Estamos estudando adaptações para jardinagem e piscicultura, com análises da água em tanques de criação de peixes e controle de amônia”, Rômulo Magalhães, co-fundador e Head de Business da Solaris.

O plano de crescimento prevê alcançar 500 sensores em operação até o fim de 2025. Para isso, a startup busca meio milhão de reais em investimento, que deve financiar produção, marketing e ampliação da equipe técnica.

A projeção é ambiciosa: com apenas 0,1% de participação no mercado nacional de pequenos e médios produtores, o potencial de faturamento é estimado em R$ 12 milhões.

Magalhães e Pincinato, porém, veem horizontes bem mais amplos e, com o produto no mercado, apostam que os próprios produtores ajudarão a identificar novas possibilidades para a ferramenta.

Resumo

  • Solaris Tech, de Jundiaí (SP), cria o Agrometrics, sensor portátil que analisa solo em tempo real com auxílio de Inteligência Artificial
  • Em testes com usuários, dispositivo reduziu custos de adubação em até 35% e aumentou produtividade em até 40%, segundo a agtech
  • Startup busca R$ 500 mil em investimento para ampliar produção e atingir 500 sensores até o fim de 2025