Depois de atravessar dificuldades no ano passado, com queda de faturamento e de volume de recebimento de grãos em função de quebra de safra dos produtores no campo, a paranaense Cocamar, de Maringá (PR), vislumbra encerrar o ano de 2025 de forma positiva.
Passados dois terços do ano calendário, a perspectiva da cooperativa é de que o faturamento deste ano se aproxime da marca de R$ 12 bilhões. Se esse número se confirmar, representará um crescimento de quase 15% em relação aos R$ 10,5 bilhões registrados no ano passado.
"Esperamos que a safra volte à normalidade, contribuindo para um resultado melhor, depois de termos sofrido uma queda expressiva de produtividade na região no ano passado", diz José Cícero Aderaldo, o Zico, vice-presidente executivo da Cocamar, em entrevista ao AgFeed.
Na safra 2024/2025, a Cocamar recebeu 1,95 milhão de toneladas de soja – 800 mil toneladas a menos do que havia previsto inicialmente, explica Zico – e 1,9 milhão de toneladas de milho.
Para a safra 2025/2026, o orçamento esperado para a soja “certamente vai ser superior” a 2,75 milhões de toneladas, estima o vice-presidente da Cocamar, que ainda não tem números fechados de expectativa de recebimento de grãos para esta safra.
O Paraná tem apresentado um plantio que pode ser considerado acelerado até o momento, conforme informações da consultoria AgRural, com 9% da semeadura desta safra já efetuada na semana passada, ante 4% no mesmo período do ano passado.
Zico diz que os cooperados da Cocamar já conseguiram plantar cerca de 5% da área, após um período de chuvas ao redor do dia 20 de setembro, e que agora aguardam um novo momento de aumento da precipitação.
"Não dá para dizer que o plantio está atrasado em relação ao ano passado. Está praticamente em linha, até porque o grande volume de plantio nosso se dá na segunda quinzena de outubro", afirma o vice-presidente executivo da Cocamar.
Uma oferta maior de soja amplia também a expectativa em relação ao maior projeto de toda a história da cooperativa, iniciado recentemente: uma nova indústria de processamento de soja dentro de seu parque industrial em Maringá (PR).
Investimento orçado em mais de R$ 800 milhões e que deve ficar pronto até 2027, a esmagadora terá capacidade de processamento para 5 mil toneladas de grãos por dia, volume que no futuro poderá ser ampliado para 7,5 mil toneladas por ida.
A capacidade total de moagem será de 2,5 milhões de toneladas de soja ao ano e, com isso, a produção de óleo de soja vai passar de 200 mil toneladas para 350 mil toneladas ao ano.
Além do projeto da nova usina de soja, também há a possibilidade de ampliação de sua indústria de biodiesel, localizada no mesmo parque industrial de Maringá e que hoje tem capacidade de produção de 90 mil metros cúbicos do biocombustível.
"Imaginamos que podemos duplicar a produção de biodiesel quando a indústria de óleo de soja entrar em operação", diz Zico.
Enquanto a esmagadora está em construção, a Cocamar continua executando investimentos anunciados anteriormente neste ano.
Primeiro, em janeiro, a cooperativa inaugurou sua primeira unidade de recebimento e armazenamento de grãos em Mato Grosso, na cidade de Água Boa, no Vale do Araguaia.
A estrutura tem capacidade de armazenamento de 150 mil toneladas de grãos e veio para suprir a demanda de cooperados matogrossenses por serviços, assistência técnica e produtividade.
Logo após, no mês seguinte, a cooperativa deu mais um passo para ampliar sua presença no Mato Grosso do Sul, onde já atua no recebimento de grãos e comercialização de insumos nas cidades de Nova Andradina, Ivinhema e Itaquiraí, possuindo também lojas nos municípios de Naviraí, Chapadão do Sul e na capital, Campo Grande.
A bola da vez é Anaurilândia (MS), onde a Cocamar começou a construção de uma unidade de recebimento de grãos, que vai contar com um armazém com capacidade de receber 60 mil toneladas e dois silos capazes de estocar 10 mil toneladas cada, além de loja de atendimento ao produtor e um armazém de insumos.
A unidade está recebendo um investimento de R$ 40 milhões e deve entrar em operação em janeiro, para atender os produtores já no recebimento da safra de verão.
Outros aportes menores foram feitos em Rolândia (PR), com a alteração do endereço de uma loja, e uma nova unidade da concessionária Cocamar Máquinas, que representa a John Deere, em Andirá (PR).
Zico diz que a cooperativa segue e continuará fazendo aportes como de costume, na faixa de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões por ano, mas que, no momento, está analisando novos investimentos com bastante cautela e, em alguns casos, até congelando aportes.
“A taxa de juros e o custo do dinheiro no Brasil estão muito elevados. Como as nossas atividades não são atividades de alta rentabilidade, mas sim de baixa rentabilidade, com a taxa de juros corrente é difícil você realizar um investimento”, explica.
Etanol de milho
Nas últimas semanas, a Cocamar esteve também envolvida em rumores de que poderia entrar como parceira em um projeto de produção de etanol de milho liderado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), centenária empresa que já atuou em diversas áreas e hoje tem foco no setor sucroalcooleiro.
No fim de setembro, Gastão Mesquita, CEO da CMNP, afirmou a diferentes jornais que a companhia estaria estudando a construção de uma usina voltada para o biocombustível..
De acordo com informações do jornal Valor Econômico, a ideia seria erguer a nova planta ao lado de outra unidade da CNMP, a Usina Jussara, que opera com cana-de-açúcar na cidade de mesmo nome. A nova instalação teria uma capacidade de processamento de 120 mil toneladas de milho por safra, gerando R$ 300 milhões por ano.
O executivo disse que a CMNP teria conversado com a Cocamar para viabilizar a operação da nova estrutura, com a cooperativa fornecendo milho e comprando DDGs.
Mas os planos de construção da usina teriam sido congelados pela CMNP, segundo reportagem do site NovaCana publicada no dia 10 de outubro. “Os projetos estão suspensos pelo momento de grande incerteza pelo qual passa o país. Os juros altos inviabilizam o investimento nesses projetos”, teria dito Gastão Mesquita ao veículo de comunicação.
Questionado pelo AgFeed sobre os planos, Zico diz que a Cocamar está aberta a dialogar sobre o assunto, mas que não houve nenhuma reunião sobre esse assunto com a CMNP ainda.
"A Cocamar sempre estará conversando com aqueles que têm interesse em se estabelecer na região para industrializar a produção agrícola", diz.
"Se, amanhã, a Companhia Melhoramentos optar por construir uma usina de etanol de milho na região, certamente seremos fornecedores de milho para eles. Mas, oficialmente, não há nada discutido sobre isso. Não foi feita nenhuma reunião", diz.
Ele destaca que a Cocamar pode oferecer milho não apenas para a CMNP, como também para outras empresas interessadas em utilizar o cereal na produção de etanol.
"As indústrias que estão surgindo no Brasil normalmente precisam de 600 mil, 700 mil toneladas de milho. E nós recebemos quase 2 milhões de toneladas de milho. Temos muito milho para fornecer para os outros", afirma.
Dessa forma, a Cocamar até poderia executar um investimento em etanol de milho, mas por ora, segundo Zico, prefere focar na conclusão da indústria de soja.
"Esse investimento está mais distante, porque não dá para a gente coincidir com esse investimento na indústria da soja. Primeiro, vamos concluir esse investimento, colocá-lo em maturação, para depois decidirmos outro investimento dessa natureza."
Procurada pelo AgFeed, a CMNP disse que houve um “mal entendido” em relação ao que havia sido publicado pelo Valor Econômico. “O que meu pai quis dizer foi que como temos um bom relacionamento há muitas décadas com a Cocamar e poderíamos eventualmente adquirir milho ou vender DDG, por eles serem um player enorme e estarem na mesma região, e não que nosso projeto seria realizada em sociedade com a Cocamar”, disse Gastão Mesquita Filho, diretor da CMNP.
Resumo
- Cocamar projeta encerrar 2025 com faturamento próximo de R$ 12 bi, alta de quase 15% sobre o ano anterior, após recuperação da safra de grãos no PR
- Cooperativa executa o maior projeto de sua história, com investimento de mais de R$ 800 milhões em nova indústria de processamento de soja em Maringá
- Expansão territorial segue com novas unidades em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul