A Petrobras parece mesmo estar disposta a voltar ao mercado de fertilizantes, do qual saiu no fim da década passada. O movimento ganhou força nesta semana, quando a diretoria da estatal se reuniu na Bahia, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para anunciar oficialmente a retomada das operações de suas fábricas no Nordeste, uma em Camaçari (BA) e outra em Laranjeiras (SE).

As fábricas da Bahia e de Sergipe – chamadas pela empresa de FAFEN-BA e FAFEN-SE – devem estar operando já no começo de 2026. Com as três unidades em operação, a expectativa da estatal é de que, já no começo do ano que vem, consiga suprir 20% da demanda de fertilizantes nitrogenados do país.

Na Bahia, serão produzidas amônia, ureia perolada e ARLA-32. O contrato prevê ainda que a Petrobras opere terminais marítimos de amônia e ureia no Porto de Aratu, em Candeias (BA). Já na planta de Sergipe, serão produzidas amônia, ureia perolada e ureia granulada.

O anúncio acontece três meses depois de a estatal retomar as atividades da planta de Araucária (PR), a Ansa (Araucária Nitrogenados), inclusive com a primeira entrega de ARLA-32, que foi feita para a Yara, mediante contrato de industrialização com a companhia privada de fertilizantes.

"A gente está muito empolgado em passar a produzir a ureia brasileira", disse Wagner Felício, gerente-executivo de processamento de gás natural, em entrevista ao lado da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, a jornalistas na quarta-feira, dia 9 de fevereiro.

Para colocar as unidades da Bahia e de Sergipe novamente em operação, a Petrobras estima que serão necessários investimentos de R$ 38 milhões e um contrato de R$ 1 bilhão com a empresa Engeman, válido por cinco anos, para operação e manutenção das plantas.

O aporte se faz necessário porque as fábricas estão paradas desde o ano passado, depois de terem sido arrendadas à petroquímica Unigel em 2020.

O movimento fazia parte de um programa de saída da estatal do setor de fertilizantes que foi desenvolvido durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e se iniciou ainda em 2019, com a interrupção das atividades das fábricas de fertilizantes, culminando com o arrendamento à Unigel no fim daquele ano.

O contrato com a petroquímica privada tinha um prazo de duração previsto de dez anos, mas não chegou nem à metade da extensão original. Em março do ano passado, a companhia anunciou que iria interromper a operação das plantas.

O principal fator que levou a Unigel a tomar essa decisão foi o preço do gás natural. A empresa alegou, na ocasião, que os valores de gás natural no Brasil estavam entre os mais elevados do mundo, seis vezes mais caro que no Oriente Médio e nos Estados Unidos, tornando a operação insustentável.

Agora, Magda Chambriard garante que as condições de preço do gás natural estão melhores, em decorrência de uma maior disponibilidade interna. Hoje, segundo ela, a Petrobras está fornecendo cerca de 50 milhões de metros cúbicos diários ao mercado, ante 39 milhões há poucos anos.

Com isso, o preço do gás, de acordo com Chambriard, caiu de US$ 16 para um patamar entre US$ 6 e US$ 7 por milhão de BTU no mercado livre. "As FAFENs não seriam viáveis economicamente se o preço do gás estivesse no patamar anterior", disse a presidente da Petrobras. “A gente não acredita em negócio ruim. Para a Petrobras, todo negócio tem que ser bom”, complementou.

Somadas, as duas fábricas terão capacidade de produzir 3,1 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, sendo 1,8 milhão em Sergipe e 1,3 milhão na Bahia, segundo dados informados pelo gerente-executivo de processamento de gás natural, Wagner Felício, que acompanhou Chambriard e outros executivos na coletiva.

Adicionando a capacidade total de produção da planta do Paraná, de 1,3 milhão de toneladas por ano, ele estimou que as fábricas de fertilizantes da Petrobras serão capazes de suportar 20% da demanda nacional.

Os dirigentes da estatal avaliam que esse percentual pode aumentar quando a fábrica de nitrogenados da Petrobras em Mato Grosso do Sul, a UFN III, localizada em Sete Lagoas (MS), entrar em operação, marcada para acontecer em 2029.

O projeto da UFN III prevê a produção anual de cerca de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia.

“A UFN III incrementa em mais 15% essa produção de ureia, o que causa uma redução na mesma proporção de 35% em relação à demanda que a gente tem hoje”, explicou o gerente-executivo de processamento de gás natural, Wagner Felício.

A Petrobras anunciou no ano passado que iria retomar as obras de construção da unidade no Mato Grosso do Sul, que se iniciaram em 2011 e foram em 2014, quando cerca de 81% da planta já estava concluída.

Apesar de estar reativando suas operações no setor de fertilizantes, importante passo para reduzir a dependência nacional de insumos vindos do exterior, ainda há uma peça nesse quebra-cabeça a ser resolvida pela Petrobras: a sustentabilidade.

Em um evento em abril passado, a presidente da Petrobras disse que a produção de fertilizantes nitrogenados no Brasil exigiria um volume de 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural caso o país optasse por suprir toda a demanda internamente.

Só que o gás natural por si só já é um combustível fóssil, gerando uma grande emissão de gases de efeito estufa. E, naturalmente, aumentar a produção desse gás pode implicar em uma expansão também das emissões do CO2, o que entra em choque com a meta da própria Petrobras, de se tornar neutra para as emissões dos escopos 1 e 2 até 2050.

Além disso, a companhia terá de conviver com uma transformação em curso: hoje, já há uma desaceleração da demanda mundial por produtos tradicionais, ligados ao universo do NPK e, por outro lado, cresce a procura por fertilizantes especiais, mais eficientes e conectados com a redução das emissões de CO2.

Para responder às demandas de mercado por fertilizantes mais sustentáveis, a estatal estaria estudando, por exemplo, utilizar biometano na fabricação de fertilizantes na planta sul-matrogrossense.

“Tem avaliações sendo feitas, inclusive para UFN-III. Vai ser a nossa unidade mais energeticamente moderna e econômica”, disse a gerente de fertilizantes da estatal, Vivian Passos de Souza, em entrevista ao AgFeed em junho passado.

Em paralelo, a estatal já teria apresentado ao Ministério da Agricultura e Pecuária um pedido para registrar um biofertilizante, fruto de pesquisas internas, que é produzido à base de bioalgas e cianobactérias.

Ambas teriam alta capacidade de crescer usando o CO2 produzido nas plantas industriais da Petrobras. Ao fazer a fotossíntese, fixam nitrogênio do ar. “Isso pode ser transformado em biofertilizante, bioestimulante, fertilizante orgânico e organomineral”, explicou Passos de Souza à reportagem.

Neste momento, as pesquisas que estão validando os resultados do produto “estão ganhando escala”, chegando em breve a uma área de 3 hectares. O registro no Mapa será fundamental para, futuramente, transformar o biofertilizante em produto comercial, mas a gerente preferiu não arriscar dizer quando isso deverá ocorrer.

“O prazo depende porque há avaliações de maturidade tecnológica e comercial, queremos fazer rápido, mas temos que acompanhar os processos, como modelo de negócios, e viabilizar a planta de demonstração”, disse ela. Resta, portanto, aguardar que rumo a Petrobras vai tomar nesse campo, enquanto reativa suas operações de fertilizantes.

Resumo

  • A Petrobras vai retomar a operação de fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe, voltando ao mercado do qual havia saído no fim da década passada
  • Investimentos no Nordeste somam R$ 38 milhões e contrato de R$ 1 bilhão com a Engeman prevê operação das plantas por cinco anos
  • Estatal pretende estar atendendo 20% da demanda nacional por fertilizantes já no início de 2026, com três fábricas de fertilizantes