Lembra da Nextel? A operadora de telefonia norte-americana ganhou fama nos anos 2000 no Brasil com seus aparelhos que lembravam walkie-talkies e funcionavam via ondas de rádio. Apertando apenas um botão era possível conversar em tempo real com outra pessoa do lado da linha.

Após acumular prejuízos e ver os smartphones chegarem com força aos rincões do país e tomarem parte de seu mercado, a Nextel brasileira foi adquirida pela Claro em 2019, por US$ 905 milhões em valores da época.

Agora, bem depois da ascensão e queda da Nextel no mercado nacional, a chinesa Hytera, que vende rádios e sistemas de comunicação no Brasil, está trazendo para o país um rádio que lembra o formato de comunicação instantânea trazido pela Nextel, mas com funcionalidades adaptadas ao momento atual e que podem ser utilizadas principalmente nas propriedades rurais, que ainda tem problemas de acesso à telefonia e internet.

“Esse modelo novo aproxima um pouco da experiência do Nextel, porque o usuário consegue falar via botão PTT (sigla para função Push-To-Talk) usando a rede celular. Mas a diferença é que há total interoperabilidade com a rede privada de rádios já instalada no campo”, explica Flávio Fuchs, vice-presidente da Hytera para o Brasil, em entrevista ao AgFeed.

Os rádios da empresa operam com chip das operadoras tradicionais de telefonia e oferecem duas funções: comunicação instantânea via rádio e chamadas telefônicas convencionais.

Dessa forma, gestores em escritórios ou até mesmo em outras cidades conseguem se comunicar em tempo real com operadores de máquinas agrícolas em áreas remotas. Além disso, conseguem integrar esse novo equipamento com outros rádios já existentes na fazenda, com tecnologias diferentes.

Essa característica é relevante porque a Hytera continua oferecendo desde rádios portáteis, usados em campo, até rádios móveis instalados em tratores e caminhões, que garantem maior alcance por conta da potência e da antena externa.

Com sede em Shenzhen, na China, a Hytera comercializa seus produtos no Brasil há 12 anos e considera o agronegócio um de seus principais mercados no País desde que começou seus negócios por aqui.

O foco da empresa, que tem 80 produtos homologados no País junto à Anatel, são os rádios móveis, mas a Hytera também comercializa bodycams e outros acessórios no mercado nacional.

A companhia vende seus produtos por meio de três distribuidores e um parceiro, que vendem os produtos no varejo, atendendo clientes como Raízen e Evermat. “Trabalhamos 100% focados em parceiros, sem vender o produto diretamente para o produtor”, diz Fuchs.

Os produtos podem ser comprados pelos clientes dos parceiros ou ainda alugados. "Eu fabrico, vendo para o distribuidor, ele faz a importação, vende para uma revenda, e essa revenda atende as fazendas, as indústrias na região, locando ou vendendo. Assim, o fazendeiro ou a cooperativa não necessariamente tem que fazer aquisição do bem, mas pode ter o rádio como serviço”, detalha Fuchs.

A forma de atuação comercial é mais uma das diferenças em relação à Nextel, que atuava como operadora de telefonia e também fornecia os equipamentos.

A Hytera, por sua vez, é exclusivamente uma fabricante de equipamentos, sem fornecer planos e pacotes de telefonia e internet, por exemplo.

No caso dos aparelhos que lembram os da Nextel, eles operam via IP e podem se conectar a qualquer rede de internet – 4G, 5G ou wi-fi. Já os demais rádios utilizam as frequências tradicionais de VHF e UHF.

“Na prática, conseguimos unir o legado da radiofrequência com a tecnologia mais moderna de transmissão de dados disponível hoje”, afirma Fuchs.

O executivo destaca também a confiabilidade do rádio em comparação com outras formas de comunicação.

“A radiocomunicação não pode falhar. Seja num incêndio, numa colheita ou numa operação de risco, como em usinas sucroalcooleiras ou ambientes com pó de soja, sempre vai ter um rádio funcionando. Celular, nesses casos, não entra”, afirma o executivo.

Listada na Bolsa de Shenzhen, a empresa não divulga números dos resultados da operação local, mas Fuchs diz que a companhia quintuplicou seu faturamento no país nos últimos cinco anos. No mundo, a Hytera teve uma receita de 6,142 bilhões de yuans (o equivalente a R$ 4,6 bilhões) no ano passado.

Resumo

  • Fabricante chinesa de rádios, a Hytera está lançando no Brasil equipamentos que lembram a experiência da extinta operadora Nextel.
  • Os rádios são conectados à internet e podem ser comprados ou alugados por meio de distribuidores e parceiros, atendendo clientes como Raízen e Evermat.
  • Companhia quintuplicou faturamento no Brasil ao longo dos últimos cinco anos e vê agronegócio como importante vetor de crescimento.

Equipamentos da Hytera usados no agronegócio