Após a entrada em vigor do shutdown do governo dos Estados Unidos na última quarta-feira, dia 1º de outubro, quando o orçamento federal do país não é aprovado pelo Congresso antes do início do novo ano fiscal, o mercado agrícola global começa a sentir os primeiros efeitos da paralisação.
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) foi diretamente impactado pela medida. Pouco mais de 42 mil funcionários – praticamente metade do quadro total de 85,9 mil empregados – que compõem os quadros do departamento foram colocados sob licença, prática recorrente durante outros episódios em que shutdowns ocorreram no governo americano.
De acordo com a agência de notícias Reuters, atividades consideradas críticas continuam em operação, como inspeções de segurança alimentar e alguns trabalhos de laboratório. No entanto, pesquisas e outras funções de rotina estão suspensas.
Um dos impactos imediatos do shutdown nas atividades do USDA é a não-divulgação de relatórios de dados de commodities do departamento, acompanhados de perto por analistas, traders e produtores rurais de todo o mundo.
Já nesta quinta-feira, dia 2 de outubro, o relatório de vendas de exportação, cuja divulgação estava prevista no calendário do USDA, deixou de ser publicado.
O site oficial do departamento também passou a exibir um aviso aos visitantes: “Devido ao radical shutdown democrata, este site do governo não será atualizado durante o período de falta de fundos. O presidente Trump deixou bastante claro que ele quer manter o governo aberto e dando suporte àqueles que alimentam, abastecem e vestem o povo americano”, diz o comunicado.
Entre os dados divulgados pelo USDA, o chamado WASDE – relatório global de oferta e demanda – divulgado mensalmente, é considerado um dos mais importantes, porque costuma balizar negócios pelo mundo em mercados como soja, milho e trigo, à medida que traz dados sobre a produção e as exportações de países como Brasil, Estados Unidos e China.
O próximo estava previsto para 9 de outubro, mas segundo o próprio USDA, não deve haver divulgação.
“É a principal ferramenta (WASDE) usada para definir fundamentos globais e, sobretudo, da safra americana”, afirmou Raphael Bulascoschi, analista de inteligência de mercado da consultoria StoneX, ao AgFeed.
Para o analista, a não-divulgação dos relatórios já traz um impacto já perceptível e tendência de se intensificar caso a situação não seja resolvida rapidamente.
Além dos relatórios do USDA, Bulascoschi lembra que documentos do CFTC (Comissão de Negociação de Futuros e Commodities), responsável por regular o mercado futuro nos Estados Unidos, também podem ter sua divulgação comprometida, ampliando a preocupação dos agentes do setor.
Outro efeito que deve ser sentido pelos agricultores, segundo a Reuters, envolve o não-processamento de empréstimos agrícolas e a realização de pagamentos aos agricultores, incluindo bilhões de dólares em ajuda para desastres contidos no projeto de lei de corte de impostos e gastos do governo Trump.
Não é a primeira vez que o governo americano atravessa um período de shutdown — desde 1976, já foram pelo menos 21 episódios do tipo. O próprio Donald Trump lidou com a situação em seu primeiro mandato, entre o fim de 2018 e o início de 2019, quando enfrentou o mais longo shutdown da história, que durou 35 dias.
Resumo
- Governo dos EUA entrou em shutdown, quando o orçamento federal do país não é aprovado pelo Congresso antes do início do novo ano fiscal, afetando serviços utilizados pelos agricultores americanos.
- Mais de 42 mil funcionários do USDA foram colocados sob licença, interrompendo pesquisas, atividades de rotina e processamento de empréstimos e pagamentos.
- Relatórios de dados de commodities, como o de vendas de exportação, já deixaram de ser publicados.