O grande público conhece a Dexco (antiga Duratex) pelas marcas que estão dentro de casa, como Deca, Hydra e Portinari. Mas é fora das cidades, num setor que permeia o agro e em meio a mais de 180 mil hectares de florestas, que está a essência da empresa.
É na “divisão madeira”, que corresponde aos negócios de venda de painéis de madeira e de celulose solúvel, que a empresa encontra mais de 70% de sua receita líquida, que bateu R$ 8,23 bilhões no ano passado.
“Nossa floresta é o principal ativo da Dexco hoje, é o que fazemos de melhor”, afirma Guilherme Setúbal, diretor de Relações com Investidores e ESG da empresa. Ele estima que a empresa conta com R$ 2,7 bilhões em ativos biológicos florestais.
“A divisão florestal é a base que sustenta toda a competitividade do negócio, e representa uma fortaleza construída ao longo de quase 70 anos”, acrescentou.
E é justamente esse know-how que começa a despertar novas oportunidades. Segundo revelou o diretor florestal da empresa, Anderson Lins, a empresa tem sido provocada para realizar uma expansão regional, levando sua expertise e seus negócios para o Mato Grosso.
Lins cita uma estimat|iva de mercado indicando que, para suprir a demanda de madeira no estado, utilizada principalmente em indústrias como usinas, são necessários cerca de 130 mil hectares de florestas plantadas. “Só para equilibrar a oferta e demanda das fábricas já instaladas, sem mencionar projetos futuros”, menciona.
Hoje, a Dexco possui 21 unidades industriais e florestais pelo País, com destaque para as operações em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e, mais recentemente, em Alagoas.
“O mercado como um todo vive uma escassez de madeira e, como temos um histórico de mais de 70 anos ‘plantando, colhendo e entregando florestas’, temos sido chamados a analisar oportunidades em regiões que não atuamos”, disse Lins.
Segundo ele, as safras recordes nos grãos têm impulsionado uma série de outros investimentos, como por exemplo no etanol de milho, que trazem uma necessidade de madeira para secagem dos grãos e como fonte energética (biomassa) para usinas processarem o milho.
“Potenciais clientes têm nos procurado e estamos analisando algumas regiões. Olhamos com muito cuidado o momento de entrar, mas essa talvez seja a próxima região para nossos novos negócios. Existe um potencial grande de aproveitar esse nosso know-how nessa região carente”, acrescentou Lins.
Por mais que esteja sendo “convidada” a atuar no Mato Grosso, a empresa olha atualmente para o negócio sob uma perspectiva mais tímida sob a ótica de novos grandes investimentos.
“Saímos de um ciclo de investimentos que está se encerrando, mas não deixamos de plantar o futuro. Cuidamos para nos adequar a esse momento com taxa de juros alta em meio a um processo de desalavancagem”, afirmou Anderson Lins.
No seu último balanço divulgado, referente ao segundo trimestre de 2025, a empresa informou uma alavancagem, medida pela relação do endividamento líquido e o Ebitda, de 3,3 vezes.
O último movimento de expansão florestal da empresa tem se dado no estado de Alagoas. Lá, a empresa possui uma joint venture com a Caeté, chamada de Caetéx, e que deve chegar aos 40 mil hectares de florestas nos próximos anos. Atualmente, já são 20 mil hectares.
Antes, em 2019, a empresa firmou uma parceria com a austríaca Lenzing para formar a LD Celulose. Foi nesse momento que passou a atuar também no mercado de celulose solúvel.
A fábrica e a área florestal dessa companhia ficam na região de Uberlândia, Minas Gerais, entre as cidades de Indianópolis e Araguari. Foram quase US$ 1,4 bilhão investidos pelas companhias na unidade, em que a Dexco tem 49% de participação.
Essa operação, segundo Setúbal, veio como uma oportunidade de amenizar ciclos de venda. “É uma empresa 100% exportadora e, no fim das contas, balanceia o resultado e dá equilíbrio ao negócio da Dexco. Nós entramos com o conhecimento florestal e a Lenzin com a parte industrial e de fibras”, contou.
ESG dentro dos negócios e dando retornos
A estratégia de compra de terras está diretamente ligada, segundo os diretores, às estratégias ESG que a Dexco possui. Dos cerca de 187 mil hectares sob manejo da empresa, são 176 mil apenas no Brasil, onde a empresa ainda possui 55 mil hectares dedicados à conservação.
Para além dos números e do alto percentual conservado, a Dexco aposta em outras práticas sustentáveis. Lins cita que a empresa tem se dedicado a encurtar as distâncias entre as florestas e as fábricas.
Sete anos atrás, o raio médio de distância entre as unidades fabris e as florestas era de 72 quilômetros. Hoje, o raio está em 55 quilômetros. “Talvez seja o menor raio médio do mundo em plantas do porte que operamos. Nesses anos trocamos fazendas, vendendo mais distantes e comprando áreas mais próximas”, disse.
A meta é chegar a um raio médio de 50 quilômetros nos próximos cinco anos. Lins explica que essa ação, que parece apenas uma economia de tempo, contribui para as metas de descarbonização da empresa, ao mesmo tempo que diminui custos com combustíveis.
“Traz ganhos ambientais, pois reduzimos emissões com isso no combustível. O frete reduz e, mesmo com um aumento no preço do diesel, somos menos impactados que concorrentes. Hoje, o mercado de celulose tem players com 200 quilômetros de raio médio”, cita.
Guilherme Setúbal relembrou que a companhia hoje tem uma meta de reduzir em 37% das emissões da operação como um todo até 2030.
Entre 2021 e 2024, a empresa afirma ter reduzido 41,6% de suas emissões dentro dos chamados escopos 1 e 2. O primeiro, relacionado a emissões diretas, diminuiu 35% no intervalo e o segundo, que está relacionado à emissão relacionada com a produção de eletricidade consumida pela Dexco, recuou 59%.
“O nosso negócio de madeira tem uma característica favorável ao sequestro de carbono. Um móvel hoje produzido com um painel de madeira da Dexco é um móvel que sequestra carbono e isso nem é colocado nessa conta das emissões”, citou Setúbal.
Questionado se a empresa pretende atuar com créditos de carbono, capitalizando esses sequestros, o diretor de RI e ESG citou que o movimento pode até acontecer, mas num momento em que esse mercado estiver maduro e consolidado no País.
“Ele engatinha e é complexo, sem contar casos que atrapalharam o desenvolvimento de créditos não homologados. Vai ter que vir uma regulamentação de obrigatoriedade das empresas e, quando isso acontecer, podemos ajudar a regulamentar e fazer boas contribuições”, disse.
Ainda longe do mercado de carbono, a empresa carrega um diferencial histórico na agenda sustentável. A companhia foi a primeira companhia do setor no Hemisfério Sul a conquistar a certificação do Forest Stewardship Council (FSC), ainda em 1995.
É essa chancela que acabou virando parte da cultura do negócio e que hoje molda as práticas que envolvem, além do manejo de florestas e de cuidados com emissões, a sua relação com as comunidades vizinhas e trabalhadores rurais.
A companhia cita que 100% da madeira usada na produção de painéis no Brasil provém de florestas certificadas ou de fontes controladas.
Em 2025, a companhia atingiu um feito inédito nas Américas ao obter os cinco “Impactos Verificados” do FSC, que comprovam ganhos ambientais e sociais em dimensões como biodiversidade, conservação da água, cuidado com o solo, sequestro de carbono e até serviços recreacionais ligados às áreas florestais.
Outro fator que relaciona o negócio com as práticas de sustentabilidade é a produtividade das florestas. Segundo o balanço da empresa referente a 2024, foram investidos R$ 108 milhões em “Projetos de produtividade, melhoria de mix e automação de louças”.
Essa relação com o mundo da sustentabilidade ainda abriu espaço para novas linhas de receita. Em 2024, a empresa exportou cerca de R$ 1,4 bilhão, 17% da receita líquida, em painéis certificados para outros países da América Latina, Europa e EUA.
Um bom momento na madeira
Os investimentos recentes em áreas, produtividade, práticas ESG e para formar a LD Celulose aconteceram, segundo Lins, em meio a um momento favorável ao mercado de madeira.
“A divisão madeira vive um momento especial e ter nossa própria madeira quando esse produto viu o preço explodir no mercado é muito relevante”, disse, citando que, em quatro anos, esse valor triplicou.
Segundo dados do Cepea/Esalq, de março de 2022 até março de 2025 os preços de algumas madeiras realmente deram saltos expressivos. O caso mais emblemático é o do pinus em pé para celulose — exatamente o tipo de matéria-prima bruta usada por empresas como a Dexco —, que passou de cerca de R$ 40 a R$ 50 para R$ 145, uma alta próxima de 300% no período.
O eucalipto em pé também avançou, de uma faixa próxima dos R$ 65 para R$ 135, praticamente dobrando de valor. Já os produtos semiprocessados, como pranchas de pinus e de eucalipto, tiveram aumentos mais moderados, em torno de 40% a 60%, enquanto madeiras nativas, como a peroba, ficaram quase estáveis.
Diante disso, Lins cita que a Dexco atua “cuidando do custo da madeira para ter ela competitiva na fábrica”. Nesse cenário, ter uma madeira mais produtiva e mais próxima da unidade fabril ajuda.
Segundo ele, a alta do preço acontece por uma escassez no mercado em algumas regiões de alto consumo, como São Paulo. Isso tem motivado, segundo ele, empresas a anteciparem o ciclo produtivo das árvores, passando de um patamar próximo aos 7 anos para realizar o corte para cinco anos.
“Sabemos, pelo nosso monitoramento, que só no estado de São Paulo há um déficit de madeira de mais de 30 milhões de metros cúbicos. Isso faz com que a dinâmica de preços em patamares elevados continue por alguns anos”, acredita.
Ao mesmo tempo, o setor de celulose - que depende totalmente da madeira -, vive um boom de investimentos nos últimos anos.
Somando projetos anunciados por Bracell, Arauco, Eldorado Celulose e Suzano nos últimos anos, são R$ 90 bilhões em novas unidades, novas áreas florestais e melhorias projetadas para os próximos anos.
“Em até três anos uma empresa coloca uma fábrica de pé, mas a floresta demora seis anos. Investir o dobro em floresta não faz ela crescer pela metade do tempo”, citou Guilherme Setúbal.
“Cortar uma madeira com quatro anos ao invés de sete é vender almoço para pagar janta. Você cria um problema lá na frente. O planejamento florestal é muito relevante”, acrescenta o diretor.
Resumo
- Dexco avalia expandir base florestal para o MT para atender demanda energética de novas usinas e reforçar presença além dos atuais 145 mil hectares plantados
- Empresa integra práticas ESG ao modelo de negócios, preservando 55 mil ha de áreas nativas e reduzindo o raio médio de transporte de madeira de 72 km para 55 km,
- Preços da madeira triplicaram em quatro anos, impulsionados por déficit de mais de 30 milhões de m³ e por investimentos bilionários no setor de celulose