Não houve um comunicado oficial. Apenas relatos e lamentos, que pipocaram recentemente nas redes sociais trazendo a notícia. Há um mês, discretamente, a agtech Taranis informou aos clientes, fornecedores e funcionários o encerramento de suas operações no Brasil após oito anos.
Fundada há uma década em Israel e sediada nos Estados Unidos, a startup se destacou no mercado agrícola com a proposta de combinar imagens aéreas e de satélite com informações meteorológicas para fornecer modelo preditivo para prevenção de pragas agrícolas.
Primeira grande empresa de agricultura de precisão de Israel, a Taranis levantou mais de US$ 100 milhões com investidores - de Microsoft a gigantes do agro como Nutrien e Sumitomo - até desembarcar no Brasil, em 2017, para atuar em canaviais de grandes grupos sucroenergéticos, como Pedra Agroindustrial, Tereos e BP Bioenergy e Alta Mogiana.
Por aqui, também recebeu aportes de venture capital e, no final de 2023, anunciou que ampliaria o leque de soluções tecnológicas para produtores de café e lavouras de grãos e fibras. Até que, em meados de julho, encerrou as atividades, mantendo apenas os contratos existentes.
Em comunicado ao AgFeed, o CEO da Taranis, Opher Flohr, informou que a companhia passa por uma reestruturação global para reforçar as operações em seu principal mercado, o norte-americano. Flohr, no entanto, não descartou retomar os negócios no Brasil.
"A Taranis passou por uma reestruturação global para reforçar seu foco em nosso principal mercado, os Estados Unidos, onde continuamos a crescer apesar dos desafios que a agricultura global enfrenta. No momento certo, planejamos retornar mais fortes ao mercado brasileiro", informou Flohr.
O gerente-geral e vice-presidente Brasil da Taranis, Fabio Franco, informou que não iria se pronunciar no momento sobre o assunto.
Uma fonte ligada à companhia confirmou ao AgFeed que a decisão de focar as operações nos Estados Unidos, aprovada pelo conselho da Taranis, ocorreu pelo crescimento mais acelerado do mercado norte-americano.
“O mercado americano foi um pouco mais rápido do que imaginavam em termos de aceitação e crescimento e o brasileiro, um pouco mais devagar”, relatou.
Pelo potencial que o agronegócio brasileiro tem para a tecnologia oferecida pela Taranis, a expectativa era de obter um resultado maior e mais rápido, o que não se concretizou.
Outro fator é o ambiente mais difícil de captação de recursos para startups em geral. Não há mais dinheiro abundante como havia há dois ou três anos, avalia.
“Hoje é muito mais difícil captar, demora mais tempo, todos os investidores estão forçando as empresas a serem mais eficientes, chegarem perto do breakeven, não queimarem caixa”, relatou a fonte.
Sem “dinheiro infinito” para cobrir o mundo inteiro, a decisão foi mirar onde o payback é maior, onde está andando mais rápido. No caso da agtech, nos Estados Unidos.
“O Brasil ainda vai demandar um investimento longo e relevante até realmente gerar uma atração que faça sentido”, relatou.
A fonte confirmou também que a companhia planeja voltar ao Brasil após um ciclo de crescimento e de captação de recursos e que os contratos em andamento no País serão cumpridos.
“Eles informaram: ‘a gente deixou de um jeito que está e, na hora que quiser voltar, a gente tem uma boa relação com os clientes. Não teve um grande estresse’”.
O site da companhia no Brasil segue funcionando e destaca os mais de 2 milhões de hectares monitorados e mais de uma centena de clientes pelo mundo. Há também os endereços da Taranis no País, em Campinas (SP), nos Estados Unidos e em Israel. Quem acessa o portal global da companhia já não encontra o endereço brasileiro.
A Taranis fornece, em sua plataforma própria, uma série de informações baseadas na captura de imagens de altíssima resolução feita pelos satélites e por câmeras instaladas em drones e aviões. Uma tecnologia capaz de obter detalhes em plantas mesmo com fotos realizadas em alta velocidade.
Com o modelo de Software as a Service (SaaS), o produtor assina o serviço que, a partir da análise das imagens, combinadas com outras informações sobre a área, como meteorológicas, gera uma série de insights para o manejo da lavoura.
A Taranis desembarcou no Brasil em 2017 com a ajuda de investidores como Rodrigo Iafelice dos Santos, experiente executivo do setor, e a Mindset Ventures, gestora de venture capital brasileira com foco em empresas de tecnologia americanas e israelenses.
Além do aporte, a Mindset ajudou a empresa a contratar um time local, além de fazer conexão com clientes e parceiros. Em uma das rodadas de captação, na série A, da qual a Mindset Ventures participou, a Taranis levantou US$ 7,5 milhões, numa rodada que contou com a Microsoft.
Quando estava em estágio inicial, a Taranis recebeu investimento da Acelera Partners, holding de investimentos em startups também apoiada pela Microsoft. Nessa época, recebeu aportes também da SalesForce.
Na Serie B, captou mais US$ 20 milhões e contou com a Nutrien e a Sumitomo. Já na série C, foram mais US$ 30 milhões, com apoio de grupos como a Vertex Growth – uma afiliada do fundo soberano de Cingapura – e a Hitachi, japonesa global de tecnologia focada em aparelhos de climatização.
A rodada de Série D foi responsável por 40% da captação, em setembro de 2022. Esse aporte foi liderado pela Inven Capital, fundo europeu focado em tecnologia climática, com participação de novos investidores como Seraphim Space Investment Trust e Farglory Group.
Resumo
- Taranis encerra atividades no Brasil para focar no mercado norte-americano, mais acelerado em crescimento
- Startup israelense captou mais de US$ 100 mi e afirma monitorar mais de 2 milhões de hectares no País
- Empresa promete cumprir contratos atuais com empresas como Tereos e BP Bioenergy e estuda retorno futuro ao agronegócio brasileiro