Se comandar uma empresa listada na bolsa já é, por si só, um grande desafio, imagine ser CEO de uma companhia do agro, em pleno período de “ajuste” do setor, em meio a um processo de recuperação judicial.
Essa é a realidade de Eron Martins, um matemático e administrador de empresas, que assumiu há quase um ano a posição de CEO da AgroGalaxy, uma das maiores empresas de revendas de insumos do País.
A companhia virou símbolo de um período conturbado no agronegócio, que em meio a preços mais baixos de commodities, margens apertadas e alto endividamento de produtores, foi marcado por resultados negativos em quase todos os elos da cadeia.
Em setembro de 2024 a AgroGalaxy apresentou um pedido de recuperação judicial, com dívidas estimadas em R$ 5,7 bilhões.
Martins havia chegado na empresa em 2023 como CFO, por isso acompanhou de perto o período mais difícil na trajetória da AgroGalaxy, aquele que culminaria com o pedido de RJ.
“É um processo dolorido, nós reduzimos o tamanho da empresa em 50% em 30 dias. Não se faz isso sem um pouco de dor, eu diria, muita dor”, admitiu ele, durante a entrevista ao AgLíderes, o videocast do AgFeed.
“A RJ é muito ruim, é muito difícil, porque você impacta tudo. Mas o que mais você impacta é a relação de confiança que existe do produtor, do fornecedor e do teu próprio colaborador, então eu digo, foi difícil”.
Apesar das dificuldades, ele diz que antes mesmo da RJ já vinha tentando adaptar a empresa a um novo contexto, reduzindo o número de lojas e simplificando estruturas.
Em simultâneo à sua chegada ao posto de CEO houve um momento em que boa parte do C-level deixou a companhia, o que poderia ter se desenhado num momento ainda mais solitário para quem liderava a operação.
“Eu perdi muita gente boa, mas o fato de algumas pessoas terem saído me permitiu ver grandes talentos dentro da empresa que estavam escondidos entre as pedras. Então hoje boa parte do meu time de lideranças, que trabalha diretamente ligado comigo, é de pessoas que já estavam na casa, então não acho que a posição de CEO é solitária, porque estou muito bem assessorado”, ponderou.
Depois de tanta “dor”, ele garante que o pior momento da empresa já passou.
“Olhando hoje, se a gente conseguiu aprovar o plano, se eu estou aqui te dando uma entrevista, se eu posso te dizer que a gente está muito bem encaminhado para entregar o que a gente prometeu no primeiro ano do plano, foi necessário e foi bem feito, mas é muito difícil”, acrescentou.
É um processo que segue em andamento, mas que já começa a gerar bons frutos, na visão dele.
No primeiro trimestre de 2025 – único balanço divulgado este ano, até agora – houve queda expressiva na receita. Na época, a empresa explicou que o período é marcado por vendas de insumos para a safrinha de milho, algo que a AgroGalaxy praticamente “não participou” - afinal, o momento em que o produtor adquiria os produtos era o auge das notícias envolvendo a RJ e houve cancelamento de pedidos.
“Para o segundo trimestre eu posso dizer que a gente vai no bom caminho de mostrar que vamos entregar, como mínimo, o plano que a gente se comprometeu a entregar”, afirmou Martins.
Ele disse que a empresa conseguiu ter os fornecedores necessários para fazer negócio e que “tem entregue muito fertilizante na ponta, o que tem gerado um movimento de confiança”.
“O sinal mais importante que eu vivi nestes últimos dias aqui é de ter fila de caminhão entregando milho nos nossos silos. Quando se entra numa recuperação judicial, o que mais é abalada é a confiança. Vejo com isso que a gente está conseguindo essa confiança e tenho que agradecer ao produtor rural”, ressaltou o CEO.
Neste cenário, Eron Martins prevê alcançar pelo menos R$ 1 bilhão de receita somente com a venda de insumos em 2025, um número que poderia ser três vezes maior, segundo ele. Mas a opção, afirmou, foi seguir “em ritmo de maratona”, reduzindo riscos do passado.
Além dos insumos, o faturamento da AgroGalaxy também envolve a comercialização de grãos, principalmente os recebidos nas operações via barter.
No ano passado, os insumos foram responsáveis por mais de 50% da receita. Se esse percentual se repetir em 2025, o faturamento da empresa ficaria próximo de R$ 2 bi, o que significaria cair pela metade em relação a 2024, mas ainda é considerado um resultado bom, em função do processo de retomada de confiança que a RJ exige.
Na conversa com o AgLíderes, o CEO da AgroGalaxy fala também da estratégia de ter retomado as marcas que deram origem ao grupo - Agro100, RuralBrasil e AgroCat – e explica qual o status atual do antigo plano de vender o negócio de sementes da empresa, a Sementes Campeão.
Quer saber os detalhes destes e outros temas abordados pelo CEO da AgroGalaxy? É só clicar para assistir o AgLíderes na íntegra nos canais do AgFeed no Youtube ou no Spotify.
Resumo
- Eron Martins, CEO da AgroGalaxy, diz, em entrevista ao videocast AgLíderes, que "não se faz RJ sem muita dor"
- CEO destaca perda de confiança no setor, mas vê sinais de retomada com fornecedores ativos e filas de caminhões nos silos
- Empresa projeta R$ 1 bi em vendas de insumos em 2025 e aposta na retomada gradual, priorizando solidez sobre crescimento acelerado