A história se repete. Um grupo agropecuário investe na expansão e em infraestrutura, faz dívidas, sofre com as mudanças do mercado e no cenário econômico e recorre à Justiça. Com um passivo de R$ 211 milhões, foi a vez do Grupo Nova Triângulo, com sede em Sapucaia (PA) pedir recuperação judicial.

O conglomerado de três empresas e quatro sócios, liderados pelo empresário Hebert Ribeiro Araújo, entrou com o pedido em Xinguara (PA) na tentativa de renegociar as dívidas. A demanda foi distribuída à 2ª Vara Cível e Empresarial do município, um dos principais centros pecuários daquele estado, e aguarda julgamento.

O foco da crise foi a fazenda que batiza o grupo, com 6.500 hectares, dos quais 3.650 hectares estão ocupados com agricultura e, principalmente, pecuária. Lavouras de milho ocupam 900 hectares, são 40 currais de confinamento aberto, com capacidade para 5 mil cabeças bovinas, uma fábrica de ração com capacidade de produzir 150 toneladas por dia, além de currais, balanças e bretes para o embarque de animais ao abate.

A fazenda conta com ainda uma pista de pouso, barracão de máquinas de 5.400 m², oficina, centro administrativo, alojamento e uma sede que foi reformada. Os investimentos da propriedade começaram em 2021, segundo a inicial do processo que tramita na justiça paraense, à qual o AgFeed teve acesso.

“Foi um período de muitos e vultosos investimentos, da ordem de milhões de reais, para que a fazenda, já produtiva, se transformasse em uma verdadeira empresa do agronegócio”, relatam os advogados da companhia. Fotos com o avanço da infraestrutura na unidade entre 2021 e 2023 foram anexadas ao processo.

“Todavia, a despeito da robustez e da expertise acumuladas, o grupo requerente, como demonstrado, foi abruptamente inserido em um cenário de grave crise econômico-financeira do segmento do agronegócio nacional, decorrente de problemas climáticos e de mercado que são notórios”, informam no pedido de recuperação judicial.

Entre os documentos anexados no processo pelo o Grupo Nova Triângulo, um deles, denominado “Exposição das Causas da Crise - Atividade Rural", é especificamente sobre os motivos da crise que levaram a companhia a recorrer à recuperação judicial.

O principal motivo foi a queda, entre 2022 e 2024, nos preços da arroba bovina no Pará e no Tocantins, onde os animais eram comercializados, “o que comprometeu significativamente o faturamento das unidades produtivas, inviabilizando a cobertura dos custos operacionais e financeiros”.

O grupo também cita, tanto no processo como no anexo, a disputa societária de Hebert Ribeiro Araújo e o ex-sócio Tarcísio Alcântara, classificada como “uma batalha judicial” que, mesmo resolvida em abril deste ano, fragilizou ainda mais a operação do grupo.

“O encerramento da sociedade implicou na necessidade de aportes substanciais de capital por parte dos demais integrantes do grupo. (...) Essa movimentação afetou a liquidez geral do grupo, já em meio a um cenário de retração econômica”, destacou.

Outros fatores apontados para a crise foram a expansão na empresa agropecuária com recursos próprios e a aposta em um novo crédito, que não veio, o que comprometeu o capital de giro. Também são apontados como motivos a restrição para novos financiamentos; o alto endividamento de curto prazo incompatível com os ciclos de produção e comercialização da atividade agropecuária e a suspensão das atividades.

No requerimento, os advogados do Grupo Nova Triângulo pedem, caso seja concedida a recuperação judicial, a proibição de arresto de grãos ou animais dos requerentes, a proibição do corte de serviços básicos essenciais, como energia, telefonia e internet, e o encerramento de contas bancárias mantidas junto às instituições financeiras credoras, “de forma a evitar a apropriação indevida de eventuais valores depositados nessas contas”

Entre outras medidas solicitadas, estão autorizações da Justiça para que, durante o processo, ativos não essenciais sejam alienados durante a recuperação judicial e linhas de financiamento sejam contratadas para garantir o funcionamento das operações da companhia agropecuária.

Credores

Segundo a lista de credores anexada ao processo, o passivo dos sócios e das empresas do Grupo Nova Triângulo é de R$ 210.981.247. Desse total, mais da metade, ou 56,5%, está entre três bancos de controle público.

Com 12 operações, a Caixa Econômica Federal, maior credora, teria a receber R$ 50.773.358, em empréstimos feitos com garantia real. A Caixa é seguida pelo Banco do Brasil, com R$ 37.925.339, em 11 operações com e sem garantia real, e pelo Banco da Amazônia, com 12 empréstimos com garantia real e um total de R$ 30.679.324.

A segunda maior credora individual do grupo é a São José Empreendimentos e Participações, com um total a receber de R$ 46.939.017, mas sem garantia real. A companhia pertence ao empresário mineiro Estevam Duarte de Assis e o crédito é relativo à venda de uma fazenda ao grupo.

Entre outros credores estão instituições financeiras, empresas de insumos, outras sem e pessoas físicas.

Resumo

  • Grupo Nova Triângulo pede recuperação judicial com passivo de R$ 211 milhões após expansão acelerada, endividamento e impacto da queda no preço do boi
  • Crise financeira foi agravada por disputa societária, restrições de crédito, alto endividamento de curto prazo e falha na captação de novos recursos
  • Credores incluem grandes bancos públicos, como Caixa, Banco do Brasil e Banco da Amazônia, além de empresas e pessoas físicas