A tese da agricultura regenerativa do Patria Investimentos, materializada na holding Allterra, que inclui fertilizantes especiais e biológicos, deve ganhar reforços em breve.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CMO da Allterra, Roberto Risolia, disse a empresa já cresceu “mais de 15%” no primeiro semestre e está confiante que seguirá neste ritmo com a premissa de convencer mais agricultores sobre os benefícios de investir na saúde do solo.

Os negócios da Allterra envolvem duas empresas adquiridas pelo grupo: a TMF, de fertilizantes especiais, e a Microgeo, de biológicos.

“O nosso maior desafio é o desafio de geração de demanda. Não é necessariamente um desafio de brigar pelo mercado. O que nós precisamos é convencer o produtor, aumentar o nosso acesso, para que ele entenda o conceito, porque não é algo trivial, não é algo usual no dia a dia dele”, afirmou Risolia.

Na época em que foi criada a holding, o grupo informou ao AgFeed que já nascia com R$ 300 milhões de faturamento.

Um ano depois, o executivo preferiu não detalhar números sobre a receita, mas reforçou que o crescimento em 2025 deve ser de duplo dígito e “acima do mercado”.

Nem mesmo as incertezas geopolíticas, como o tarifaço de Donald Trump, devem afetar os planos da Allterra, segundo Risolia.

A visão é de que, em tempos de margens apertadas, cada vez mais o agricultor que conseguir eficiência e produtividade, terá um diferencial. O executivo disse que há relatos de clientes de uma queda de 15% nos custos após a adoção da agricultura regenerativa.

Além disso, ele diz que produtos para o solo tendem a oferecer resultados de médio e longo prazo, portanto, não sofrem tanto com altos e baixos pontuais de mercado, em determinadas culturas.

“TMF e a Microgeo se complementam, sob o ponto de vista de entregas, em relação ao que a gente fala principalmente de agricultura regenerativa. Agora, cada vez mais, a gente está juntando essa proposta. Assim, o produtor vai começar a perceber que a complementariedade vai ser muito mais forte”, explicou.

No começo os dois times atuavam de forma separada, mas agora a empresa está unificando o acesso ao cliente, entendendo que não basta apenas oferecer produtos e sim conscientizar mais agricultores a respeito de uma solução mais completa em agricultura regenerativa, que traga, inclusive, redução no custo de produção.

“A empresa nasceu bastante voltada para biofertilizantes, que ainda é o principal core, mas hoje a gente expandiu bastante esse conceito. O que nós queremos é, tudo aquilo que for tratar de solo, melhoria da qualidade do solo, para melhoria de eficiência, a gente vai buscar”, disse.

Na TMF, a principal abordagem é a nutrição especial via solo, com nutrientes como cálcio, magnésio, enxofre, entre outros, em formulações que permitam uma maior absorção da planta, com ganhos em relação ao fertilizante tradicional, NPK.

Já na Microgeo, que fica em Limeira (SP), o portfólio inclui produtos como biofungicida, bionematicida, bioativadores radiculares e inoculantes.

A Allterra diz ter investido recentemente na terceira expansão da fábrica da TMF em Pains, Minas Gerais, além da construção de um laboratório de formulações e análises, com planta piloto, mas não revela os valores aportados.

A sinergia entre as duas empresas, com a “consolidação” via Allterra, seria um dos segredos que vêm garantindo o crescimento da receita.

“A Microgeo tem 25 anos e a TMF tem 18 anos. Então tem muito conhecimento, muita experiência ali. Quando a gente consolida, a gente ajusta o acesso ao mercado, a gente ajusta a proposta de valor. Consegue acelerar, por exemplo, Mato Grosso, Goiás, as regiões que eles não conseguiram talvez isoladamente. Então o crescimento é certo”.

A escolha das revendas também tem sido pautada por canais menos “comoditizados”, segundo Risolia, pelo fato de que é necessário fazer uma venda mais especializada.

Na visão dele, a empresa já está bem posicionada em mercados como Paraná, Minas Gerais, sul de Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. A maior oportunidade de crescimento estaria no Cerrado, tanto nos estados do Centro-Oeste quanto no Matopiba.

Aposta em forrageiras

O CMO da Alterra contou ao AgFeed, em entrevista realizada durante o Congresso Andav 2025, em São Paulo, que o plano é ampliar oferta de soluções para práticas regenerativas na agropecuária. “Temos uma proposta muito clara hoje, que é liderar essa discussão da agricultura regenerativa”, disse ele.

Do ponto de vista de mercado, essa “liderança”, ele admite, tem como foco ser líder em vendas de produtos para o solo, não incluindo foliares, por exemplo.

Uma das novas frentes foi uma parceria fechada, recentemente, pela Allterra, com uma empresa do Sul do País produtora de sementes de “mix de cobertura, as chamadas forrageiras.

“A cobertura de solo, na época em que não tem nada plantado, mantém a vida no campo, mantém a umidade e a estruturação do solo”, destaca.

A empresa já lançou uma linha de sementes de cobertura para cana-de-açúcar, como um primeiro piloto, mas diz que “vai expandir o negócio”. O projeto já está em fase de definição da marca, que deve ser lançada em breve no mercado.

“É um mercado nichado, não sei se vai ser super grande, mas dentro do nosso contexto ele se torna importante, encaixa muito bem na nossa proposta”.

Em paralelo, a Allterra também vê oportunidades na pecuária. A empresa prepara um lançamento para setembro de seu primeiro produto com foco neste segmento.

“A gente pegou uma formulação de um cálcio móvel e colocamos nitrogênio de liberação controlada. Fizemos um produto em que o pecuarista consegue recuperar a pastagem dele. O pasto, na maioria das vezes, tem muita falta de cálcio”, explicou Risolia, que além de executivo de empresas do agro, também se diz “pecuarista”.

A ideia é que o novo produto permita reduzir a necessidade de aplicação de calcário, com a vantagem da liberação do nitrogênio, beneficiando a pastagem. “É um produto que eu acho que vai encaixar muito bem para o Cerrado, para áreas degradadas”.

Futuro dos biológicos

A Allterra diz que está atenta a oportunidades de avançar na oferta de biológicos, seja por meio de P&D, com novos produtos, seja por meio novas parcerias, para ampliar o leque de bioinsumos.

Sobre tendências para o futuro do setor, Roberto Risolia diz acreditar em grande potencial para “produtos de base biológica, mas não diretamente biológicos”. Neste grupo estariam, por exemplo, soluções feitas a partir de extratos vegetais ou extratos de microrganismos, ele explica.

“Isso vai ter que ter investimento, vai ter que ter boas empresas suportando. Não são mais os bioativadores ou coisas simples, é uma outra indústria para pegar essas plantas, esses microrganismos e extrair compostos deles”.

A aplicação destes produtos seria não apenas para controle de pragas e doenças, mas também para fisiologia vegetal.

Resumo

  • Allterra, holding do Patria que reúne TMF e Microgeo, cresceu mais de 15% no 1º semestre de 2025
  • Empresa deve lançar marca própria de sementes forrageiras e um produto inovador para recuperação de pastagens
  • Companhia aposta em soluções de base biológica mais complexas e reforça sua estratégia de diferenciação com investimentos em inovação