O engenheiro agrônomo Mozart Fogaça Junior já morou nas principais regiões agrícolas do Brasil e liderou lançamentos de grandes marcas globais de insumos agrícolas, especialmente defensivos e sementes.
Agora, com 30 anos de carreira, decidiu se arriscar em algo novo: uma tecnologia que, se realmente avançar, promete mudar a lógica no uso de fertilizantes.
Depois de 25 anos de Corteva (desde os tempos de Dow Agroscience) e passagens por empresas como Long Ping e Superbac, o executivo está assumindo como CEO da Nanofert, projeto que envolve a produção de nanofertilizantes, em parceria com a IFFCO (India Farmers Fertiliser Cooperativa Limited), considerada a maior cooperativa da Índia, com cerca de 55 milhões de produtores associados.
Fogaça Júnior estava atuando como consultor, na Multcom, quando conheceu o empresário Fausto Caron, ex-presidente do banco ABN-Amro no Brasil e um dos fundadores da Nanofert, juntamente com o indiano Ritesh Sharma.
“Me chamou atenção o propósito e a tecnologia, que é disruptiva. Decidi ajudar a Nanofert primeiro como consultor e depois decidi encarar esse novo desafio (de ser o CEO) muito acreditando no modelo e nas pessoas. É uma tecnologia diferente, que ninguém tem, então por isso eu decidi voltar (a ser executivo do agro)”, disse Mozart, em entrevista exclusiva ao AgFeed.
As obras da primeira fábrica da Nanofert no Brasil estão em andamento, segundo ele. O local escolhido foi Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná. A pedra fundamental foi inaugurada em fevereiro deste ano.
A previsão é de que até março de 2026 a fábrica já esteja operando, à medida que o plano é atender a demanda da safra 2026/2027 com 100% de produtos produzidos no Brasil. No mesmo terreno, está sendo construído um laboratório de nanotecnologia.
Desde que foi criada a Nanofert e as primeiras parceiras com os indianos foram sendo estabelecidas, a empresa já começou a comercializar nanofertilizantes, mas trazendo todos os itens importados do país asiático.
Agora já há um portfólio adaptado ao perfil brasileiro. Enquanto na Índia, o principal produto é a nano ureia, aqui são oferecidas marcas como Nanonitro e Nanophos, que consistem no fertilizante nitrogenado e no potássico, de forma líquida, em nano partículas.
Na atual safra, segundo o CEO, já estão sendo tratados 100 mil hectares com os produtos da Nanofert (que por enquanto são importados).
A fábrica brasileira, no primeiro ano, vai produzir 1,5 milhão de litros de nanofertilizantes, mas a capacidade da planta é para 4,5 milhões de litros, quando estiver operando em três turnos.
Com esses patamares de produção, a expectativa é atingir 1 milhão de hectares tratados no primeiro ano da fábrica e 3 milhões de hectares até 2030.
A empresa, atualmente, prefere não detalhar informações sobre a receita estimada. No ano passado, Fausto Caron disse ao AgFeed, que quando chegasse a tratar 3 milhões de hectares a empresa teria potencial para faturar R$ 480 milhões.
Até agora, os negócios vinham sendo tocados pelos sócios fundadores, que calculam estar fazendo um investimento inicial de R$ 68 milhões.
Com a contratação do CEO, o plano é definir uma estratégia mais robusta de comercialização e acesso a clientes nas diferentes regiões do País. Mozart Fogaça Júnior já atuou, por exemplo, em Mato Grosso, onde negociava diretamente com “mega farms” Bom Futuro, de Eraí Maggi, e Bom Jesus.
Ele também já ocupou cargo executivo na Corteva nos Estados Unidos e liderou negócios com diversos países da América Latina, o que deve ajudar na expansão da Nanofert além do mercado brasileiro.
“A companhia vinha sendo tocada muito bem e o intuito agora é acelerar o crescimento. Começo a estruturar todos os departamentos, o que começou essa semana com o departamento comercial”, destacou Junior.
Ele se refere à contratação do engenheiro agrônomo Gustavo Bueno como diretor comercial na Nanofert. Bueno também atuou por 9 anos na Dow Agrosciences e em outras multinacionais, ao lado de Mozart.
Os dois sócios fundadores agora ficarão somente no conselho da empresa, que está sendo formado. Segundo o CEO, o planejamento estratégico de 10 anos começa a ser detalhado.
“A expectativa é que em dois anos nós tenhamos que fazer já um segundo turno na fábrica. O plano estratégico está na minha cabeça, em aproximadamente cinco anos a gente tem que construir uma nova fábrica, porque já passa dos 4,5 milhões de litros”, afirmou Fogaça Júnior.
Se isso ocorrer, a “nova fábrica” seria uma expansão que poderá ser feita no mesmo terreno do Paraná, dizem os executivos. Eles calculam que haverá demanda para o dobro da capacidade atual, ou seja, 9 milhões de litros de nanofertilizantes.
O sistema funciona como uma espécie de biofábrica, explicou Junior. “Você vai ter diferentes equipamentos e reatores que trabalham em conjunto para produzir o produto final”.
A partir de uma matéria-prima “ultra-fina de pureza”, segundo ele, um sistema de ondas consegue desagregar as moléculas e um outro reator produz um polissacarídeo específico que impede que a estrutura volte a se aglomerar.
“Na hora que você quebra com essas ondas, você transforma uma partícula normal em partícula nano. O que acontece geralmente quando você adiciona água, essa partícula volta a se juntar. Então você precisa dessa tecnologia para que essas moléculas não se juntem. Continua em fórmula nano”.
Nano ureia
Como mostrou o AgFeed em primeira mão no ano passado, o governo indiano chegou a investir US$ 300 milhões em pesquisas com a nano ureia líquida, com o objetivo de substituir 14 milhões de toneladas de fertilizantes tradicionais.
A tecnologia avança, mas também vem sendo alvo de muitas críticas. Algumas reportagens na Índia destacam a opinião de cientistas sobre o tema.
Uma delas, do site agrinews.in, por exemplo, destaca que o governo indiano sugere que 500ml de nano ureia equivalem a 50kg de ureia tradicional.
Porém, na visão de professores ouvidos pelo site, os materiais agem de forma diferente na escala "nano", “que é cerca de um bilionésimo de metro, do que no mundo visível”.
Na tecnologia da IFFCO, o processo usaria "polímeros orgânicos" para manter as nano partículas de nitrogênio estáveis e em uma forma que pode ser pulverizada nas plantas.
O detalhe é que, segundo essas fontes, um saco de 45 kg contém cerca de 20 kg de nitrogênio e a nano ureia vendida em frascos de 500 ml, por outro lado, teria apenas 4% de nitrogênio (ou cerca de 20g).
“Os cientistas não entendem como isso pode compensar os quilos de nitrogênio normalmente”, diz o texto. A menor quantidade de nutriente teria impacto na produtividade da cultura, na visão destes cientistas.
O AgFeed questionou o novo CEO da Nanofert sobre estes argumentos.
“Eu fiquei um ano praticamente estudando, participando do projeto como consultor, vendo a viabilidade, acompanhando no campo, em 60 áreas do Brasil, para entender o produto, para ver se realmente funcionava. E por isso estou eu aqui hoje”, ressaltou.
Fogaça Junior explica que alguns players de mercado alegam ter a nanotecnologia, mas quando é feita a análise do produto final, se verifica que apenas “1% ou 2% do produto é nano”.
Já a Nanofert, segundo ele, patenteou a tecnologia da IFFCO para produzir o nanofertilizante.
Ele alega que a prova de que os resultados têm sido animadores no campo é o investimento crescente na própria Índia.
“A IFFCO hoje já tem 5 fábricas na Índia e acabou de assinar um acordo para construir mais 3. Praticamente ela está aumentando 50% da capacidade dela em muito pouco tempo. A gente super acredita na tecnologia”, reforçou.
Quando todas as fábricas indianas estiverem operando, a estimativa é de uma produção de mais de 18 milhões de litros.
Resumo
- Anunciado em primeira mão pelo AgFeed em 2024, projeto da Nanofert ganha novo impulso com contratação de Mozart Fogaça Junior, ex-Corteva, como CEO
- Empresa, que tem como sócia a maior cooperativa indiana, deve inaugurar fábrica no PR para produção de nanofertilizantes a partir de 2026
- Novo CEO diz que uma segunda fábrica pode ser necessária em cinco anos, quando prevê que demanda já ultrapasse 4,5 milhões de litros