Ainda não setá desta vez. A assembleia de acionistas que votaria a fusão entre BRF e Marfrig, programada para a próxima segunda-feira, 14 de julho, será adiada mais uma vez.

A CVM, órgão que regula o mercado de capitais brasileiro, acatou o pedido mais recente feito pela Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) e de Alex Fontana e determinou mais um adiamento.

O anúncio da fusão e criação da MBRF foi feito no dia 15 de maio deste ano e a primeira data prevista para a reunião era 18 de junho. Um dia antes da data, a CVM adiou a reunião por 21 dias, acatando o pedido inicial de Alex Fontana, minoritário que faz parte da família fundadora da Sadia, empresa que deu origem à BRF junto com a Perdigão.

As duas empresas estudaram um recurso para manter o cronograma original, mas a data havia ficado para a próxima segunda.

O argumento central dos requerentes e acatado pela CVM é a insuficiência de documentos que embasam a relação de troca de ações proposta pela Marfrig.

Nesta sexta-feira, 11 de julho, uma reunião do colegiado da CVM determinou o adiamento da assembleia por 21 dias a partir do momento em que as companhias que se fundirão apresentarem as informações solicitadas.

Nos documentos disponibilizados até agora pelas empresas, há trechos com tarjas pretas que impedem a visualização de informações relevantes, especialmente nas apresentações incluídas no anexo preparado pelo Citi ao comitê da BRF e pelo JP Morgan ao comitê da Marfrig, justamente nos pontos que tratam da relação de troca entre as companhias.

Na proposta da Marfrig, uma ação da BRF será transformada em 0,85 ação da nova companhia, a MBRF, isso considerando os acionistas que desejam continuar sendo investidores do negócio.

Enquanto Alex Fontana, de fato, se posicionou contra a fusão, a Previ pede apenas mais clareza na conta feita pelas companhias para chegar a essa relação de troca.

“Os dados numéricos referentes às premissas e projeções não foram revelados e o tarjamento englobou valores das sinergias esperadas, incluindo dados financeiros e operacionais”, argumentou a CVM em seu parecer técnico.

O assunto também extrapolou a esfera da CVM e foi parar no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). De primeira, o órgão antitruste aprovou sem restrições a fusão.

Posteriormente, contudo, aceitou que a Minerva, frigorífico concorrente, se tornasse um “terceiro interessado” no processo. Dias depois, em 27 de junho, a Minerva entrou oficialmente com um recurso pedindo que a fusão fosse “reavaliada”.

Com isso, somou-se contra o processo de fusão, além da demanda dos minoritários por mais clareza na relação de troca, argumentos de mercado.

O argumento básico da Minerva é que a decisão do Cade de autorizar a fusão não leva em consideração a concorrência em alguns mercados específicos em que as empresas atuam.

Juntamente ao recurso apresentado, a Minerva anexou um parecer econômico elaborado pela LCA Consultores com base nessas preocupações.

As principais questões apontadas pela Minerva, com base no trabalho da consultoria, se referem ao poder de portfólio da nova empresa, a MBRF.

A empresa argumentou que poderão haver concentrações de share em algumas categorias, como por exemplo no mercado de hambúrgueres e também nas vendas para o setor de food service.

Além disso, fora do universo do mercado consumidor, há a argumentação de que BRF e Marfrig são compradoras de carne bovina da própria Minerva. Com a união, a empresa se preocupa com o poder de barganha frente a fornecedores, incluindo a própria.

Por fim, ainda há uma questão acionária contestada pela Minerva. Isso porque o Salic, fundo soberano da Arábia Saudita, passará a ter uma participação relevante tanto na Marfrig quanto na Minerva, onde já é acionista desde 2015.

Na empresa dos Vilela de Queiroz, o fundo possui 24,5% do capital. E investe nas empresas de Marcos Molina por meio de uma participação de 11% na BRF. Com a fusão, o mercado projeta que a porcentagem na nova empresa seja pouco diluída, ficando próxima dos 10%.

Procuradas, tanto BRF quanto Marfrig não se manifestaram em relação ao adiamento. A reportagem segue disponível para incluir o posicionamento, se houver.

Resumo

  • Colegiado da CVM deferiu pedido de Previ e Alex Fontana e determinou novo adiamento da assembleia que votaria fusão entre BRF e Marfrig
  • Os minotirtários questionam relação de troca das ações das duas companhias e pedem mais informações sobre as avaliação feita por elas
  • Documentos-chave enviados até agora foram entregues com informações tarjadas, incluindo projeções financeiras e sinergias