Em um momento em que a recuperação judicial virou quase um “atalho” - e motivo de folders midiáticos de poucos escritórios de advocacia pelo País -, para produtores em apuros, há quem enxergue uma outra via e um negócio nesse universo.

Longe de fóruns e petições infindáveis, a Smart Compass, plataforma especializada na aquisição e gestão de créditos “estressados”, apostou na tecnologia para recuperar créditos inadimplentes, com uma atenção forte no campo.

O que a empresa faz, na prática, é comprar carteiras inadimplentes de cooperativas de crédito, bancos e fundos por um preço menor do que o das dívidas incluídas e aposta na expertise da equipe e em uma espécie de big data próprio para recuperar esses calotes.

Com sede em Campinas (SP), a empresa opera hoje uma carteira própria de R$ 540 milhões, além de administrar outros R$ 370 milhões para terceiros.

Neste ano, fechou um acordo estratégico com a firma de investimentos Itajubá Capital e levantou R$ 100 milhões para comprar novos ativos, especialmente do agronegócio. O objetivo é ousado: adquirir R$ 1,5 bilhão em créditos inadimplentes até o fim de 2025.

Segundo contou ao AgFeed Daniel Ramos, cofundador e CEO da Smart Compass, 70% da carteira total vem de cooperativas de crédito. Como essas instituições, como Sicredi e Sicoob, têm uma forte exposição ao agro, 40% dos créditos adquiridos pela Smart Compass têm origem no agronegócio.

“O perfil de crédito que compramos envolve dívidas menores, de pequenos e médios produtores, que dificilmente vão entrar numa RJ”, disse.

Para essas situações, a empresa se apresenta como uma solução rápida: “Chegamos ao produtor e mostramos que a dívida que era de uma determinada cooperativa e agora é nossa. Ajustamos os pagamentos, ao mesmo tempo que consigo dar um fôlego”, explicou.

A meta da Smart Compass de expandir o negócio este ano tem um foco especial no agro e a empresa deve passar a atuar comprando esses créditos estressados também de cooperativas mercantis e revendas.

Ramos relembra que essas são estruturas que nem sempre dão crédito em dinheiro, e sim por meio de produtos como insumos. "São empresas que acumulam grandes dívidas, especialmente quando o produtor toma o insumo, tem problema de caixa e não consegue pagar. Vamos fazer uma rodada de compra desses créditos agora no segundo semestre", afirmou.

Todo o negócio da Smart Compass é baseado numa engenharia reversa baseada em dados para comprar e recuperar dívidas tidas como perdidas por outros players.

A empresa foi fundada em 2023 por Ramos, Bruno Santos e Johnny Tang e se formou a partir da união de dois mundos: a expertise em inteligência patrimonial que Daniel Ramos, ex-BTG Pactual e fundador da OR Services, acumulou na carreira, e o capital e estrutura da Smart House Investments, holding mineira com raízes em crédito, imobiliário e mineração de André Colares.

“Se olho só pra quem é devedor, ele já se blindou, não tem ativo para atuar de forma direta. A gente olha o mapa de empresas envolvidas nesse processo todo e toma a decisão olhando o grupo como um todo, não só o CNPJ devedor. Isso ajuda a tomar decisões mais assertivas”, explicou.

A empresa conta com uma taxa de recuperação de crédito média de 54,5%, e segundo Ramos, o FIDC que agrupa a carteira busca uma taxa interna de retorno de, em média, 70% ao ano.

Por mais que as dívidas no agro compradas pela empresa não sejam grandes, são numerosas e pulverizadas. O ticket médio, segundo Ramos, é de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões. O mais importante, para ele, é que possuem um potencial real de retorno.

Ele cita um caso de uma carteira de crédito comprada por cerca de R$ 13 milhões, que somava R$ 200 milhões em vencimentos. Dentro dessa carteira, uma propriedade rural no Pará virou case de sucesso.

A Smart Compass pagou R$ 2 milhões nesse crédito devido, mirando uma recuperação que renderia até R$ 7 milhões, avaliando o patrimônio envolvido do devedor. “Conseguimos fazer R$ 9,2 milhões, por conta de processos, pressão jurídica e arrematação de um imóvel”, contou.

O caso levou 75 dias para ser concluído e, sozinho, praticamente pagou o investimento feito na carteira inteira. “Nesse caso de exemplo a gente pagou R$ 2 milhões mirando R$ 7 milhões, mas nem sempre conseguimos o retorno esperado”, relembra.

Resumo

  • Empresa aposta em reestruturação de dívidas fora da Justiça para ganhar espaço no agro e mira R$ 1,5 bilhão em compras até 2025
  • Modelo une inteligência patrimonial, big data e acordos extrajudiciais para recuperar créditos de cooperativas e agora revendas
  • Depois de uma forte exposição à cooperativas de crédito como Sicredi e Sicoob, vai atuar também com cooperativas mercantis e revendas agrícolas