Mesmo sem considerar a possível queda na demanda por causa da gripe aviária, o cenário já é baixista para os preços do milho devido ao excesso de oferta esperado na “supersafrinha” projetada pela Agroconsult.
A consultoria estimou, nesta quarta-feira, 21 de maio, que a segunda safra de milho na temporada 2024/2025 no Brasil será de 112,9 milhões de toneladas, volume 10,5% superior à safrinha 2023/2024. Se confirmado, o total esperado para a chamada safrinha supera em 1,4 milhão de toneladas o total de 111,5 milhões de toneladas de 2022/2023.
A área plantada foi projetada em 17,9 milhões de hectares, 6,1% ou 1 milhão de hectares a mais do que na safra 2023/2024. Já a produtividade deve crescer 4,1% entre os períodos, para 105 sacas por hectare.
Os dados serão atualizados após nova etapa do Rally da Safra, expedição pelas lavouras organizada pela Agroconsult, iniciada esta semana e que segue até 15 de junho
Para o coordenador da expedição e sócio-diretor da Agroconsult, André Debastiani, a pressão sobre o mercado com a superoferta do cereal no Brasil deve chegar aos preços do mercado interno e abrir as portas para a exportação do grão.
A Agroconsult estima que da oferta total de milho, em 140 milhões de toneladas na atual safra, 97 milhões de toneladas sejam para consumo interno e que mais de 40 milhões de toneladas podem ser exportadas.
“Até então não estávamos exportando por duas razões: o calendário de oferta e de escoamento é para a soja e o mercado interno tinha preços atrativos sem paridade de exportação”, disse. “Agora (com queda de preço e oferta), começa a rodar a exportação”, completou Debastiani.
Segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), as exportações de milho até a última semana de maio eram estimadas em 5,149 milhões de toneladas, ante 4,943 milhões de toneladas nos cinco primeiros meses de 2024, mas os volumes vinha, caindo nos últimos dois meses.
Debastiani destacou que os preços sustentados do milho no mercado interno são fruto da demanda para etanol a partir de cereal, que consome quase 23 milhões de toneladas e cresce em ritmo forte, e para rações.
A gripe aviária gera dúvidas em relação à demanda para o setor de aves, na avaliação do consultor, mas é importante ponderar, “que o preço baixo, hoje, é por conta da grande produção”.
Para Debastiani, o Brasil tem de se preparar para “regionalizar e até municipalizar” a questão dos focos de gripe aviária para, aos poucos, reabrir mercados importadores de frango. É possível que os casos isolados em granjas comerciais persistam no País, assim como ainda ocorrem nos Estados Unidos, outro grande produtor.
O impacto maior ou menor no mercado do milho, de acordo com Debastiani, dependerá do prolongamento do surgimento de casos no País e da adoção de protocolos.
“Não há mais alternativas para suprir demanda global de frango sem gripe aviária, o Brasil era o último país. Portanto, o governo tem de procurar regionalizar essa questão para o Estado, município para que impacto de exportação seja apenas de região afetada”, completou
Risco compensado
Com a supersafrinha de 112,9 milhões de toneladas, a produção total de milho de 140 milhões de toneladas (somando o colhido na safra de verão) deve ser a segunda maior da história, segundo estimativa da Agroconsult. O volume é levemente inferior ao recorde de 2022/2023, de 141,8 milhões de toneladas. A safra 2023/2024 ofertou 128,2 milhões de toneladas.
A área total plantada com milho em 2024/2025 é projetada em 22,2 milhões de hectares, ante 22,9 milhões de hectares em 2022/2023 e 21,6 milhões de hectares em 2023/2024.
Debastiani destacou que a segunda safra de milho teve crescimento expressivo de área após uma dúvida grande sobre o potencial produtivo pelo fato de as lavouras terem sido semeadas em calendário de maior risco.
“O alongamento do ciclo da soja levou ao plantio mais tardio do milho - já no mês de março - especialmente em Mato Grosso e em Goiás. Mas o receio dos produtores acabou se dissipando com as boas chuvas de abril e que se estenderam até o início de maio, período mais importante para a definição do potencial produtivo das lavouras”, relatou.
O consultor lembra que, na mesma época no ano passado, o Rally da Safra apurava perdas de produtividade em Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, em função da estiagem.
“Nesse início da etapa milho, apesar de sabermos que existem alguns problemas, como é o caso do Oeste do Paraná, onde as primeiras lavouras sofreram com a estiagem em janeiro, não há estados em situação crítica”, afirmou.
Segundo levantamento preliminar do Rally da Safra de segunda-feira, 19 de maio, baseado na época de plantio e distribuição de chuvas, 72% da produção do Mato Grosso e 62% de Goiás apresentam alto potencial produtivo. Os demais estados têm bom potencial, mas dependem de condições climáticas.
Com seis equipes, a expedição técnica estará em campo até 15 de junho para ajustar a estimativa de produtividade da segunda safra de milho em cinco estados, diante do clima, da janela de plantio e do investimento realizado nas lavouras.
Resumo
- Supersafrinha deve render 112,9 milhões de toneladas, 10,5% a mais que em 2023/24, com boa produtividade e clima favorável, segundo Rally da Safra
- Oferta recorde pressiona preços e favorece exportações, que podem ultrapassar 40 mihões de toneladas nesta safra
- Gripe aviária preocupa, mas impacto no milho dependerá da gestão regional dos focos e da demanda por frango