Na Minerva, depois de uma tempestade (prejuízo) vem a bonança (lucro). Após encerrar 2024 com um prejuízo acumulado de R$ 1,5 bilhão, a companhia começou 2025 no azul e fechou os três primeiros meses do ano com um lucro líquido de R$ 185 milhões. No mesmo período em 2024, havia registrado prejuízo de R$ 186 milhões.
Para Edison Ticle, CFO da empresa, o destaque do período ficou com a receita líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação). Os indicadores atingiram, respectivamente, R$ 11,2 bilhões e R$ 962 milhões, ambos recordes para um trimestre.
“Começamos a acelerar ainda mais a integração dos ativos da Marfrig e eles contribuíram com R$ 1,4 bilhão da receita. No quarto trimestre do ano passado, haviam trazido R$ 740 milhões, mostrando uma velocidade de integração e ramp-up das unidades”, disse ao AgFeed.
Segundo a Minerva, o ritmo do ramp-up, processo onde a empresa aumenta gradativamente a produção, das novas fábricas está dentro do planejado,e a integração já faz as unidades operarem com 55% de capacidade atualmente. No segundo trimestre, o patamar deve ir a 65% e no terceiro, chegar aos 75% planejados.
O andamento do processo anima Ticle e a Minerva, que decidiu divulgar um guidance de receita anual para o mercado, algo não usual para a empresa. A companhia espera que o faturamento líquido em 2025 fique numa faixa entre R$ 51 bilhões e R$ 58 bilhões no acumulado dos doze meses.
Considerando a receita anual de 2024 em R$ 34 milhões, o número mais otimista traria uma alta de 70% em um ano na arrecadação.
A conta é a seguinte: considerando que geralmente o primeiro trimestre do ano, que é o mais fraco operacionalmente, traz algo entre 22% e 23% da receita anual, se os R$ 11,2 bilhões registrados de janeiro a março representarem esse patamar, a empresa chegaria ao patamar projetado no final do ano, explicou Ticle.
Contudo, o ramp-up acelerado das fábricas traz a expectativa de mais receita e Ebitda, segundo o CFO, o que justifica a visão otimista do guidance de R$ 58 bilhões.
A empresa decidiu divulgar esse guidance pois, segundo Ticle, há uma divergência forte entre o que é observado dentro da empresa com a percepção dos analistas de mercado. “Tem projeção de uma receita num intervalo de R$ 38 bilhões a R$ 48 bilhões”, diz.
Segundo ele, o bom humor da empresa e a percepção mais conservadora do mercado encontram divergência no preço de venda, principalmente na exportação.
O executivo prevê preços de exportação entre 5% a 10% mais altos neste ano, além de um volume de abate 35% maior de produção da Minerva com a integração das plantas da Marfrig.
Ticle vê um “mercado americano forte” diante da redução da oferta de gado, além de um mercado chinês que deve acelerar as compras a partir do segundo trimestre.
“A China deve aumentar o share de importação dos nossos produtos indo para 30%, mesmo patamar dos EUA. Isso está em linha com o que prevíamos no final do ano passado, com os dois representando juntos até 60% das nossas exportações em 2025”, disse.
No primeiro trimestre deste ano, da receita bruta de R$ 11,9 bilhões, R$ 6,6 bilhões vieram do mercado externo. Os EUA foram responsáveis por 35% desse montante, e a China por 15%. Nos últimos doze meses, os Estados Unidos representaram 27% da receita da Minerva com exportação, e a China 19%.
Alavancagem estável. Por enquanto…
Ao final de março, a alavancagem da empresa, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda, estava em 3,7 vezes. O patamar mostra uma estabilidade frente ao apresentado no final de 2024, com a dívida líquida se mantendo também estável em R$ 15,6 bilhões.
O indicador subiu após a empresa ter desembolsado R$ 7,5 bilhões na aquisição das plantas da Marfrig, e a meta agora é desalavancar aos poucos.
A companhia fez uma série de movimentos para aumentar sua capitalização e também reduzir sua alavancagem ao longo do primeiro trimestre. Entre eles, a captação de R$ 2,25 bilhões em CRAs e um aumento de capital de R$ 2 bilhões.
Enquanto o título de dívida ajuda a empresa a manter sua operação comprando bois, o segundo atua para dar mais segurança na estratégia financeira.
No aumento de capital, os acionistas Salic e a holding VDQ, da família Vilela de Queiroz, se comprometeram em injetar metade do capital, sendo R$ 300 milhões do fundo e R$ 700 milhões dos fundadores. Nesse movimento, a participação do fundo saudita iria de 31% para 25% e a da VDQ de 23% para 26%.
Considerando o guidance que a empresa divulgou de sua receita e que a margem ebitda média dos últimos anos ficou em 9%, a Minerva tem capacidade de gerar um Ebitda positivo entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5,3 bilhões, nos cálculos de Edison Ticle.
“Só pela geração de caixa com essa operação, nossa alavancagem pode cair para 3 vezes. Com o aumento de capital realizado recentemente nós aceleramos esse processo”, disse.
“Se incorporássemos o aumento de capital hoje, a alavancagem estaria em 3,2 vezes. Estamos tranquilos e nosso guidance vai mostrar para o mercado que em qualquer cenário de Ebitda, mesmo no pior, teremos geração de caixa”, afirmou.
Ticle prevê que a alavancagem da empresa poderá voltar ao patamar pré-aquisição dos ativos, algo em torno de 2,6 vezes o Ebitda, no primeiro trimestre do ano que vem.
Driblando o “tarifaço”
O patamar da alavancagem se manteve estável mesmo diante de um fluxo de caixa negativo de R$ 500 milhões. O gasto veio por uma estratégia da empresa em aumentar seus estoques nos Estados Unidos antes das novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump entrarem em vigor.
Ticle citou que em janeiro passado, por exemplo, a empresa dobrou a quantidade de carne enviada para o país. “Fizemos um estoque grande nos EUA, dentro da cota, sem pagar o imposto, que com a mudança do Trump, vai para 36%. Isso pressionou nossa conta de estoques, que subiu para R$ 700 milhões”, disse.
Segundo ele, esse estoque construído por lá deverá ser normalizado nos próximos trimestres, na medida em que as vendas da Minerva avançarem no país.
“São R$ 700 milhões a mais nessa conta que voltarão como fluxo de caixa nos próximos trimestres. Foi um movimento tático oportunista e importante pensando no resultado do ano, observando o que vai gerar de receita”, acrescentou o CFO.
Os estoques agora estão em nome da Minerva Meats USA, subsidiária da empresa no país. Ticle explicou que, na prática, os produtos “trocaram de CNPJ e localização”, mas não saíram da Minerva.
Resumo
- Minerva lucrou R$ 185 milhões no primeiro trimestre, revertendo prejuízo do mesmo período no ano passado
- Companhia divulgou guidance prevendo receita de até R$ 58 bilhões no ano em meio a integração acelerada de ativos da Marfrig e projeção de bons preços no mercado
- Ao final de março, alavancagem ficou estável em 3,7 vezes o Ebitda. Após aumento de capital, projeção é voltar ao patamar pré-aquisição daqui um ano