Ribeirão Preto (SP) - Em maio de 1994, quando era realizada a primeira edição da Agrishow, em Ribeirão Preto, o empresário do setor de máquinas agrícolas, João Marchesan, estava lá.

“Eu sou um dos fundadores do Agrishow, eu estou desde aqui de 1994 e até hoje não parei, vi toda essa evolução, em 1994 nós tínhamos aqui 50 expositores, 15 mil visitantes por ano, hoje nós temos 800 expositores”, disse ele, em entrevista ao AgFeed, atualmente como presidente da feira.

No balanço divulgado nesta sexta-feira o evento de Ribeirão Preto contabilizou 197 mil visitantes e R$ 14,6 bilhões em intenções de negócios, o que representa um aumento de 7% em relação ao ano passado.

O número melhor é resultado de uma boa safra, com maior produtividade, na visão de Marchesan.

“Hoje o clima está indo muito bem, o câmbio não está ruim, o que falta é o preço das commodities que estão baixas ainda, e o custo do dinheiro que é muito alto e inexistente”, afirmou.

Apesar desse crédito restrito e mais caro, muitos produtores, especialmente aqueles mais capitalizados em culturas que passam por um bom momento, estariam utilizando recursos próprios.

Além disso, a Agrishow costuma contabilizar mais a “intenção de compra” do que negócios fechados, efetivamente.

A expectativa é que até junho o governo anuncie um novo pacote de linhas de crédito com taxas de juros subsidiadas, o chamado Plano Safra, que permitiria tornar realidade uma parte destas intenções.

Ao AgFeed, Marchesan disse ter ouvido relatos positivos especialmente dos expositores de segmentos como irrigação e armazenagem.

“O Brasil produz 330 milhões de toneladas grãos e tem um déficit de armazenagem de 120 milhões. Nós temos que crescer a armazenagem dentro da propriedade, para que o agricultor possa estocar o seu produto”.

Articulação política e foco no Plano Safra

Ao contrário do ano passado, a Agrishow deste ano não contou com a presença do ministro da Agricultura Carlos Fávaro, nem na abertura, nem durante a semana. Em 2024, Fávaro anunciou medidas como uma nova linha de crédito do BNDES, que poderia pelo menos compensar em parte a falta de recursos nos programas tradicionais de financiamento para máquinas agrícolas, como o Moderfrota.

Na conversa com o AgFeed, o presidente da Agrishow procurou minimizar esta “ausência”.

“O governo estava representado pelo ministro da Indústria, que é o vice-presidente da República (Geraldo Alckmin). E aqui não é uma feira de agropecuária, aqui é uma feira de máquinas, mais vinculada com a indústria”, disse.

Marchesan ressaltou ainda a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que ocorreu nesta sexta-feira, 2 de maio, último dia de feira, com visita a empresas com foco na agricultura familiar.

Além disso, contou que “duas horas antes da abertura” recebeu uma ligação de um assessor direto do presidente Lula para dizer que não viria em função dos compromissos internacionais, devido ao velório do Papa Francisco.

O presidente da Agrishow se diz otimista quanto ao empenho do governo em buscar recursos para o Plano Safra. Chamou Alckmin de “grande amigo nosso”, que também teria conversado com as lideranças sobre as discussões do plano.

O ex-governador de São Paulo, segundo ele, é um dos responsáveis por repassar o terreno da Agrishow para a posse definitiva das entidades do agro que realizam a feira.

Vista aérea da edição 2025 da feira

O pleito apresentado ao governo, segundo Marchesan, é de R$ 25 bilhões para a equalização dos juros das linhas de investimento do Plano Safra, que viabilizam a compra de máquinas e equipamentos agrícolas.

“Nós temos conversado com o governo, ele está empenhado em fazer um bom plano Safra, porque você sabe que nós precisamos de segurança alimentar, mas tem um problema restritivo que é orçamentário”, ressaltou.

Com a inflação recente mais baixa, o empresário diz esperar que o Banco Central não aumente mais a taxa básica de juros, hoje em 14,25% ao ano. Quanto maior a taxa Selic, mais dinheiro o governo precisa colocar para viabilizar os juros baixos do Plano Safra, cobrindo a diferença.

“O próprio Ministro da Fazenda, o Haddad, está muito empenhado também. O pessoal, toda a parte da assessoria econômica do Ministério da Fazenda, está preocupado, procurando como alocar recursos para equalizar essas taxas”.

A importância do agro para a economia do País seria um dos motivos para essa “confiança” de Marchesa. “Acredito que eles vão equacionar para fazer um bom Plano Safra, um plano mais robusto, porque você sabe que o saldo da nossa balança comercial depende do que exportar o agro, porque o Brasil é importador líquido de muitas outras coisas e, se não fosse o agro, nós sairíamos como argentinos, sem recursos para poder manter nossos compromissos internacionais”.

No ano passado, o Moderfrota, principal linha usada para comprar máquinas novas com juros baixos, teve R$ 10 bilhões. “Mas em 90 dias, acabou. Então, nós estamos trabalhando para que esse recurso seja maior. Se você considerar que o setor fatura R$ 100 bilhões, nós precisaríamos de pelo menos R$ 50 bilhões de recursos”.

Em relação à taxa de juros do programa, Marchesan defende que “o ideal seria abaixo de 10% (ao ano)”. “Aí seria um mercado assim que alguém voltaria a investir com mais intensidade”.

Na agricultura familiar, a situação é menos preocupante, ele admite. O Pronaf investimento ofereceu taxas de 5% ao ano e “não faltou recurso”.

Como são máquinas de valor mais baixo, acabam pensando menos no resultado das empresas expositoras.

De acordo com o balanço da feira divulgado hoje, apesar da alta de 7% em relação a 2024, o número veio levemente abaixo da projeção inicial da organização do evento, que esperava R$ 15 bi em intenções.