Ribeirão Preto (SP) - A Belgo Arames aproveitou a Agrishow 2025 para dar mais um passo na oferta de soluções digitais para a pecuária, enquanto o mercado de produtos tradicionais ainda reluta em configurar por completo “a virada do ciclo”.
Nesta terça-feira, a equipe da Instabov, startup investida da multinacional de arames, apresentou aos jornalistas novos produtos que permitem monitorar os animais no campo e até mesmo interagir com um agente de Inteligência Artifical (IA) que funciona como um espelho do whatsapp.
A Belgo é fruto de uma parceria no Brasil entre a Arcellor Mittal e a Bekaert, da Bélgica. A empresa é líder no mercado brasileiro de arames de aço, mas recentemente começou a investir em novos produtos para a agropecuária.
O AgFeed mostrou no ano passado que a Belgo investiu pelo menos R$ 3 milhões na Instabov. Um de seus produtos vem trazendo bons frutos no campo: colares que são colocados nos bovinos, combinados com hardware e antenas, permitindo detectar movimentações atípicas – uma solução eficaz para combater o roubo de gado tão comum em determinas regiões do País.
Na Agrishow, foi feito o pré-lançamento de uma nova tecnologia da Instabov. É uma AutoTag que também se conecta com aparelho transmissor, reunindo dados do histórico de cada animal, incluindo vacinas e medicamentos utilizados, por exemplo. Visualmente é como um brinco, já conhecido na pecuária, mas neste caso não é preciso usar o “leitor” para cada animal.
A grande novidade, porém, é o fato da Instabov AutoTag estar associada ao monitoramento do rebanho por meio da IA. O brinco e a antena se conectam a um aplicativo que automatiza o inventário do rebanho e gera análises em tempo real, sem a necessidade de registros manuais.
Na apresentação aos jornalistas, os técnicos ressaltaram o fato de que a “conversa” com o pecuarista ou funcionária da fazenda pode ocorrer por meio de mensagens de áudio, simulando a ferramenta mais utilizada no meio, que é o whatsapp.
Em entrevista ao AgFeed, o gerente de negócios da Belgo, Gustavo Nogueira, explicou que a empresa sempre investiu em inovação, primeiramente nos arames, ao desenvolver produtos específicos para evitar invasão de animais silvestres no curral ou mesmo na proteção de ferrovias. Agora, o foco é o incentivo às soluções digitais.
“A Instabov mexia com rastreio e começou a desenvolver uma ideia que associa, então, a parte de rastreabilidade com a parte de inteligência artificial. Você consegue, com repetições, saber o comportamento do animal, identificar se o animal está comendo, se está andando o suficiente, ou está mais parado. São novidades que a gente está investindo, que agregam ao nosso negócio, e ajuda bastante em produtividade”, explicou.
Nogueira adiantou ao AgFeed que ainda este ano deve haver novas ações voltadas ao ambiente digital. Uma delas está relacionada a uma startup chamada Cerca Rápida, que já recebeu investimento da Belgo antes mesmo da Instabov. A solução era oferecer uma “cerca pronta” ao produtor, mas a empresa identificou ajustes a serem feitos e paralisou temporariamente o projeto.
“A ideia era fornecer o quilômetro cercado para o produtor, não só mais o arame, mas sim a cerca pronta, e nós tivemos uma série de insights bem legais e nós estamos reescrevendo ela para relançar”, contou.
Os próximos passos, segundo ele, em outras startups que estão no rdar, devem vir no caminho da inteligência artificial, possivelmente.
A participação dos produtos digitais da receita da Belgo ainda é considerada inexpressiva, é mais uma aposta futura, “um investimento”, disse o executivo.
Mercado da pecuária
Sobre o negócio tradicional de arames, o gerente de negócios da Belgo diz que houve crescimento na receita no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2024. Embora tenha ficado “dentro do orçado”, ele admite que expectativa era de que o mercado crescesse mais. Na Belgo, o avanço nas vendas, segundo Nogueira, ficou abaixo de 5% no trimestre.
“A gente tinha uma ideia de que o mercado fosse dar uma alavancada em função do cenário da pecuária, da virada do ciclo, da arroba do boi, exportações, mas tinha uma expectativa que tivesse um mercado maior”, avaliou.
O objetivo agora é acelerar ao longo do ano, para fechar 2025 com crescimento de dois dígitos, segundo o executivo. Em 2024 houve um avanço de 5% sobre o ano anterior.
A Belgo não revela dados de faturamento, diz apenas que é líder de um mercado hoje estimado entre R$ 12 bilhões e R$ 14 bilhões, considerando tudo o que envolve a cerca, não apenas o arame, mas também madeira e mão de obra.
Na visão do executivo da Belgo, o tarifaço de Donald Trump, embora envolva diretamente o mercado do aço, pode beneficiar os negócios da empresa.
Hoje 7% da receita da companhia vem das exportações. Com a aplicação de tarifas mais altas a outros países, na comparação com aquela aplicada ao Brasil, é possível que surjam novas oportunidades de negócios, segundo ele. Além disso, Nogueira acredita em janelas de oportunidades para produtos como grãos e carne bovina.
O evento da Agrishow nesta terça-feira também marcou os 50 anos da Belgo no Brasil. Nogueira disse que a empresa vem investindo não apenas em tecnologias, como IA, IoT, entre outras, mas também na modernização da fábrica no País, “para se perpetuar por 100 ou 200 anos”.