Em outubro do ano passado, a agtech SciCrop, que cruza dados de satélites e informações de sistemas de produtores e empresas do agro sobre clima, solo e outras variáveis para entregar insights, completou 10 anos.
Ao longo da primeira década de existência, o CEO e fundador, José Damico, acumula muita história para contar. Desde projetos envolvendo satélites espaciais (que ficaram para depois) a bilhões de dados coletados, o assumidamente nerd, Damico, conquistou o agronegócio.
“Nesse tempo passamos por mais de 70 empresas dentre as 500 maiores do agro, e conectamos muitos dados que não eram integráveis”. A gama de clientes envolve uma longa lista de gigantes de diferentes segmentos como Nestlé, Cargill, BP Bunge, Tereos, Cofco, Suzano, Klabin e Santander.
Agora, a startup entra em uma nova fase, reunindo a experiência acumulada até então para lançar um novo produto. Chamado de InfiniteStack, o software se propõe a conectar tecnologias distintas utilizadas no campo, como telemetria e dados de plantio, mesmo de empresas diferentes, dados públicos de software e envelopar tudo em uma interface simples, num esquema que envolve um chatbot com IA.
Para colocar com força o novo programa no mercado, Damico revelou ao AgFeed que captou R$ 1 milhão com a Rural.
Segundo ele, a Rural foi a escolhida para ser o primeiro parceiro investidor dessa nova fase da companhia pela importância de “ter alguém que entendesse a necessidade de consolidar dados para conseguir usar os benefícios da IA”.
“Precisávamos de alguém com uma visão estratégica disso, e esse montante inicial vai nos levar para outras captações, mas era importante estar primeiro com a Rural”, disse. A projeção de Damico é captar cerca de R$ 5 milhões com novos investidores nos próximos meses.
Essa escalada envolve tanto os clientes atuais, que segundo o CEO da SciCrop, estão todos em processo de atualização para que utilizem o InfiniteStack, quanto para novos entrantes, disponibilizando o programa nos marketplaces digitais em nuvem.
De acordo com Fernando Rodrigues, sócio-fundador da Rural, a SciCrop possui, além de uma grande bagagem no mercado, grande conhecimento técnico de um mercado que, até hoje, ainda tem uma adoção lenta de tecnologia.
“A capacidade de transformar conhecimento da SciCrop faz com que a gente acelere essa adoção de tecnologia. Hoje o setor vive uma dificuldade de conectar hardwares na ponta final, além de uma coleta de dados sem organização e padronização”, disse Rodrigues, afirmando que o InfiniteStack pode atuar como uma interface única de conexão entre todos esses elos.
“O programa consegue combinar a coleta da informação, organização dos dados e torná-los interconectados com outras plataformas, tudo em uma visão única para que o produtor ou corporação possa tomar decisões acertadas”, acrescentou.
Damico explica que o InfiniteStack pode agrupar tanto os dados de satélite e os dados da própria empresa, com um adicional de trazer para o mesmo algoritmo dados captados por plataformas distintas.
Ele explica que ao usar o software, o usuário pode “arrastar” dados sejam de telemetria das máquinas, algoritmos próprios, mapas de plantio e usar isso num chatbot com linguagem natural.
“Para isso funcionar, precisamos ‘conversar’ com as máquinas, integrando, por exemplo, o serviço da Solinftec com a telemetria da CNH ou da John Deere”, afirma o CEO da SciCrop.
“A Rural entrou no negócio porque entendemos que podemos agora construir uma interface única de conexão, que conecta tecnologias e geram valor. Sempre digo que apps do agro estão segregados, e o usuário final não vai usar tecnologia separada, faltava um motor que conectava esses elos”, acrescentou Fernando Rodrigues.
O modelo de negócio envolve o licenciamento de software, mas conta com três versões. Na primeira, destinada a pequenas empresas e produtores, funciona num esquema Saas tradicional.
Nos planos seguintes, a SciCrop insere a plataforma dentro do serviço de nuvem do cliente. “Hoje toda telemetria está na nuvem, por exemplo”, diz. Todo o negócio depende, contudo, da qualidade dos dados.
Damico conta que quando criou a SciCrop, sua ideia era construir uma “grande biblioteca de algoritmos”, e num modelo Saas, ser um braço para os programadores das empresas, que num momento de necessidade, assinariam o serviço.
“Percebi que as empresas não comprariam isso e nem tinham programadores, mas ao mesmo tempo, se interessavam pelos dados e queriam os insights em seus sistemas próprios”, disse.
Nessa jornada, percebeu que muitas empresas não possuem dados refinados, e por conta disso, precisou criar um refino e “conectores” entre dados públicos e privados.
A captação feita com a Rural se soma a outros R$ 2 milhões que a empresa captou via Eqseed em 2021.
A lista dos investidores atuais ainda conta com a família Mendonça de Barros, que apostou no negócio em seu início. O valor do aporte não é divulgado por Damico.
O CEO e fundador vê um potencial da plataforma traçar um caminho de internacionalização e também de conquistar empresas fora do agronegócio.
“Essas demandas por dados e insights se refletem em segmentos ‘primos’ do agro, como óleo e gás e mineração, que são empresas com instalações remotas, a céu aberto e ligadas a recursos naturais”, disse.
Rodrigues, da Rural, conta que o investimento foi feito num esquema club deal. A companhia deve fechar em junho deste ano uma captação de R$ 50 milhões para estruturar um fundo para investir em agtechs.