Especialistas reunidos em São Paulo para discutir o futuro dos biocombustíveis avaliaram oportunidades em transporte terrestre, marítimo e na aviação. E, por mais de uma vez, acabaram citando quem na verdade estava na plateia: um executivo da Amaggi, gigante na produção e exportação de grãos que tem sido uma das pioneiras em projetos de descarbonização.
O evento foi organizado pela Abiove e o convidado que assistia aos painéis era Ricardo Tomczyk, diretor de Relações Institucionais da Amaggi.
Entre uma palestra e outra, ele conversou com o AgFeed sobre os resultados dos projetos já em andamento, como a frota de 106 caminhões que já roda com 100% de biodiesel, o uso do biocombustível nas máquinas de uma das fazendas do grupo e os testes com B100 em suas embarcações fluviais.
“A gente tem, hoje, uma fazenda inteira operando só com B100, tem uma frota de caminhões operando com B100 e começou o projeto da navegação, como foi citado aqui. Então, isso corrobora que a gente está no caminho certo”, ressaltou.
Como meta de descarbonização, a Amaggi se comprometeu a chegar ao Net Zero em 2050, por isso Tomczyk destacou que são “várias as iniciativas” que precisarão ser adotadas para alcançar esse compromisso.
O caminho até lá não é fácil. No ano passado, a Amaggi chegou a dizer que o uso do B100 estava gerando uma economia de no mínimo 5% na comparação com o diesel comum. Pesa nesta conta o fato de que o biodiesel é produzido pela própria companhia.
Agora, a situação não é mais tão favorável. “Está empatado ou até um pouquinho no vermelho”, admitiu ele ao AgFeed.
De qualquer forma, garante tudo está “dentro do cenário esperado”.
“Nesse momento estamos com uma diferença um pouco maior, traz um pouco de desafio econômico, mas a decisão de descarbonização das operações ela é muito grande, é um compromisso assumido, não tem plano nenhum de voltar atrás”, disse ele.
Na visão do executivo, é um processo cíclico, se de um lado há momentos em que se paga um “pênalti econômico” na descarbonização, de outro haverá ganhos. “As coisas vão se equilibrando numa visão de longo prazo”.
No projeto de descarbonização, está também a autorização para o uso de B100 em 11 empurradores barcaças do grupo, que são da Hermasa - ainda não utlizados por questões de infraestrutura. Além disso, a empresa tem investido em energia fotovoltaica e hidrelétrica, política de desmatamento zero e agricultura regenerativa.
E quais devem ser os próximos projetos com foco em biocombustíveis? O diretor da Amaggi responde que a empresa “está num momento de acomodação desses primeiros investimentos para pensar nos próximos”, por isso não estaria nada totalmente definido.
Ainda assim, ele se disse entusiasmado com alguns dos temas apresentados no evento da capital paulista. Citou como exemplo os esforços do Brasil junto à Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) para que os produtos agrícolas produzidos aqui sejam vistos como solução no debate sobre a descarbonização de navios até 2050.
“Foram aceitos pelo menos para os estudos da cadeia, do histórico de emissões, isso tudo vai revelando oportunidades não só para nós, mas para todo o setor”, afirmou.
Tomczyk também vê com otimismo o futuro do SAF, combustível sustentável de aviação, na sigla em inglês. Os especialistas analisaram como será a transição energética dos combustíveis fósseis para os renováveis nos aviões. “São oportunidades que estão aí e a gente está sempre de olho nelas”, disse.
Perguntado se já há algo mais concreto sobre o SAF dentro da Amaggi, o executivo respondeu: “A gente está acompanhando o mercado, a demanda, e ainda é algo bastante novo para o Brasil como um todo, mas certamente vão aparecer oportunidades e a gente está avaliando. A nossa produção de biodiesel está estabilizada, a gente está com um rendimento muito interessante lá da fábrica. Então o futuro, com as oportunidades, vai direcionar os investimentos. A gente está nesse jogo para valer”.
Já o aumento da frota de caminhões B100 na empresa, ele admite, vai depender também das decisões econômicas sobre a necessidade de comprar ou não novos veículos e não exclusivamente da viabilidade do biocombustível.
O diretor da Amaggi comentou ainda sobre a importância de que a regulamentação da lei Combustível do Futuro traga “clareza e objetividade” ao mercado, com segurança jurídica.
“Esse retrocesso que a gente teve aí na questão do não avanço para a B15 trouxe aí um cenário que gerou uma insegurança. Não é nada que a gente considera tão grave, porque a gente entende que isso é reversível, que as coisas vão se acomodar, mas a gente não pode ter solavancos”, acrescentou.
Sobre o efeito Trump no mercado da soja, inclusive do biodiesel, ele disse que haverá oportunidades para o Brasil, mas que é preciso ter “serenidade nesse momento”, para avaliar como o mercado vai se comportar.