Vista de longe, parece uma máquina agrícola convencional e opera de forma semelhante a um drone, mas não é exatamente nenhum dos dois.
É assim que a startup paranaense Hural Dynamics, com sede em Londrina, define seu produto: um pulverizador totalmente elétrico e autônomo desenvolvido no Brasil.
Lançado oficialmente há cerca de um ano, o equipamento despertou o interesse de grandes players do agronegócio, como Bayer, Citrosuco e Tereos, que vem testando a tecnologia da startup.
A multinacional de insumos alemã inclusive foi a primeira empresa a comprar um deles, no ano passado.
Batizado de Rover TR-P200, o pulverizador possui faixa de aplicação entre 9 e 12 metros, tanque com capacidade de armazenar 200 litros de defensivos e é capaz de cobrir até 14 hectares por hora. Sua autonomia é de até quatro horas com apenas um carregamento.
O controle é feito via rádio-frequência e pode ter o auxílio de um operador. A operação é feita a partir de um aplicativo, em que é possível programar as rotas e definir áreas de aplicação – mas diferentemente de uma máquina tradicional, não há uma cabine no pulverizador ou a necessidade de que o operador fique o tempo todo junto da máquina, acompanhando o trabalho.
“Com o auxílio de sensores, ele irá trafegar na rota planejada e irá evitar colisões caso algo não previsto apareça em sua rota com o uso do sistema anti-colisão”, explica Michell Jabur, cofundador, sócio e diretor de inovação da Hural.
Totalmente elétrico, o pulverizador da Hural também dispensa o uso de combustível. O equipamento vem com duas baterias intercambiáveis, cuja substituição leva apenas quatro minutos.
Na prática, como cada bateria tem autonomia de quatro horas, um único pulverizador pode alcançar até 112 hectares antes de precisar de uma recarga completa das duas baterias.
Para atender a propriedades com múltiplos pulverizadores operando simultaneamente, a Hural está desenvolvendo o que Jabur chama de “função multi-rovers” no software que controla os equipamentos.
“Hoje, um operador já conseguiria controlar mais de um rover ao mesmo tempo, mas nosso objetivo é permitir que ele opere vários com um único controle. Por isso, estamos desenvolvendo um novo software que mantenha a eficiência mesmo quando escalamos de um para dez equipamentos, por exemplo”, explica.
A Hural planeja comercializar 30 unidades até o fim do ano, com uma meta de faturamento de aproximadamente R$ 30 milhões. Cada pulverizador custa, na tabela, R$ 380 mil.
Até agora, apenas um pulverizador foi vendido — responsável pelo faturamento de R$ 350 mil registrado pela empresa em 2024.
O que chama a atenção é o peso do primeiro cliente, que foi a Bayer. A negociação com a companhia de insumos teve início na Agrishow do ano passado e foi concluída entre outubro e novembro de 2024, após adaptações solicitadas pela empresa ao projeto original.
“Eles estão muito felizes e satisfeitos com a nossa tecnologia. Foi uma prova de conceito importante, Você ter alguém de peso, no caso, uma empresa como a Bayer, direcionando o desenvolvimento, foi algo maravilhoso”, descreve Jabur. “Acho que a Bayer vai até pegar mais um ou dois pulverizadores”, agora.

A Hural se prepara para participar de mais uma edição da Agrishow em busca de novos negócios – será a terceira edição consecutiva da empresa no evento – ao mesmo tempo em que testa seus produtos com outras companhias dos setores de cana e citros, caso de Citrosuco, Branco Perez e Agroterenas e da Tereos, que vai testar o produto ainda neste mês, segundo Jabur.
Por ser modular, o equipamento desenvolvido pela Hural permite adaptações no formato de pulverização. No caso da cultura da laranja, por exemplo, a aplicação é feita de forma vertical.
“O que muda um pouco é o implemento. Ao invés de fazer uma pulverização horizontal, ela é um pouquinho diferente, pulveriza dentro do pé”, afirma Jabur.
Neste primeiro momento, a startup tem direcionado seus esforços principalmente para cana-de-açúcar e citros. No entanto, segundo Jabur, nada impede que o produto seja utilizado em outras culturas.
“Entendemos que nosso equipamento também pode ser aplicado na cultura de grãos. Ele é totalmente compatível com milho e soja”, afirma.
O projeto do pulverizador já foi concebido com essas culturas em mente, especialmente o milho, que apresenta plantas mais altas. “Desenvolvemos um produto com vão livre mais elevado justamente pensando em culturas como o milho. Por isso, nosso rover tem 1,75 metro de vão livre, mais alto que a média dos pulverizadores tradicionais”, complementa Jabur.
Os produtos da Hural são fabricados junto ao escritório da empresa, em Londrina. No momento em que Jabur conversava com a equipe do AgFeed, a equipe de engenharia montava quatro novos pulverizadores.
A Hural surgiu, em 2021, da união entre Jabur, que já havia empreendido em negócios na área de tecnologia, como as empresas Golfleet e V3, e dois amigos: Alberto Youssef e Bruno Fernandes, ambos com know-how no setor de drones e modelismo.
“Tive um ano meio sabático entre 2018 e 2019. Depois veio a pandemia e, nesse meio tempo, reencontrei o Alberto e o Bruno, que já eram meus amigos e estavam me apresentando um projeto no mercado de pulverização. A ideia era criar um veículo com lógica de operação próxima à de um drone, mas com características físicas mais alinhadas às das máquinas agrícolas tradicionais”, relembra Jabur.
Ele decidiu então investir no projeto, marcando o início da trajetória do trio como sócios. A partir dali, eles começaram a trabalhar no desenvolvimento de um protótipo.
“Nosso produto foi evoluindo com muita pesquisa e desenvolvimento, até que, por volta de meados do ano passado, tivemos a convicção de que era hora de lançar: ‘Fechou, é agora’”, conta.
Desde então, a Hural já recebeu R$ 5 milhões em investimentos. Parte do capital veio do próprio Jabur, enquanto outra parcela foi aportada pela Pro Solus, empresa de tecnologia agrícola também do Paraná, que realizou um investimento pré-seed em 2023 – cujo valor Jabur prefere não revelar.
Além do aporte financeiro, a Pro Solus também ofereceu suporte tecnológico à startup.
Agora, a Hural busca um novo investimento, de R$ 10 milhões, e novos parceiros para alavancar sua operação – que hoje tem cerca de 12 pessoas, contando com os sócios.
“Estamos em busca de um investimento do tipo seed, voltado para a entrada no mercado. Já validamos o produto e, neste momento, precisamos de capital para estoque, fluxo de caixa e para dar continuidade ao desenvolvimento, que tem um roadmap bem interessante”, explica Jabur.
A nova rodada de captação, no entanto, ainda não tem data para ser concluída, segundo Jabur.
“Desde o fim do ano passado, começamos a conversar com possíveis investidores, de forma informal e sem pressa. Não queremos algo forçado – tem que acontecer naturalmente. Buscamos alguém que agregue ao negócio, que traga ideias. Não é só o dinheiro pelo dinheiro”, afirma.