Nesse carnaval, o folião investidor do Capitânia Agro Strategies Fiagro (CPTR11), administrado pelo banco BTG Pactual e gerido pela Capitânia Investimentos, recebeu um e-mail diferente. O texto era uma carta-consulta para aprovação de uma cisão parcial do fundo.
Em meio a uma mensagem ambígua, a gestora mencionava a possibilidade de cisão do Fiagro, resultando na criação de um segundo fundo, com prazo de dois anos, enquanto o fundo original continuaria listado na B3, sem alteração em seu prazo de duração.
O comunicado gerou dúvidas entre alguns dos investidores, levando alguns a interpretarem a proposta como uma tentativa de separar ativos considerados “problemáticos” dos demais.
“Parei pra ler do que se tratava e vi uma consulta formal para jogar os ativos ditos problemáticos para um novo fundo com prazo definido de 2 anos e todo o resto ser liquidado. Isso me pareceu na primeira leitura que a gestora chutou o balde”, afirmou um cotista.
Esses “ativos ruins”, ou problemáticos, se referem à CRAs da rede varejista de insumos agrícolas AgroGalaxy e da fabricante de rações Patense, duas empresas que pediram recuperação judicial no segundo semestre de 2024.
Ao AgFeed, o sócio da gestora, Arturo Profili, explicou que a Capitânia vai criar uma alternativa para os investidores e vai propor uma cisão do Fiagro para agregar valor aos cotistas.
Caso a cisão seja aprovada, a Capitânia redistribuirá proporcionalmente os ativos entre os cotistas que optarem por migrar para o novo fundo. A principal diferença é que o fundo “cindido” terá um prazo determinado de dois anos e realizará pagamentos aos cotistas por meio da amortização dos ativos.
Com isso, o investidor pode “trocar” sua remuneração que atualmente é baseada em dividendos e na valorização da cota por uma amortização futura num prazo definido.
Segundo Profili, em uma situação hipotética em que um terço dos investidores aderisse à nova estratégia, o CPTR11 manteria os outros dois terços dos ativos e do patrimônio na estratégia original, enquanto o restante migraria para o novo fundo.
O fundo cindido não será negociado no mercado secundário.
“O cotista pode optar por ficar no fundo atual listado, sem mudanças ou ir para o outro fundo. Esse segundo veículo nasce, no seu primeiro dia, com uma carteira idêntica e proporcional. Hoje nosso Fiagro tem cerca de 50 ativos e R$ 400 milhões de patrimônio líquido”, afirmou Profili.
Utilizando um exemplo real, hoje, 3,5% da carteira do Fiagro é composta por CRAs da Usina Santa Helena. No novo fundo a ser criado, a proporção seria a mesma, só que com um tamanho menor caso seja a minoria dos cotistas que opte pela cisão.
Ele explica que, diante do momento de deságio em quase todos os Fiagros listados na B3, a gestora foi questionada por uma série de cotistas sobre alternativas para atravessar esse momento.
“No nosso fundo imobiliário CPTI11, de papeis de infraestrutura, realizamos uma recompra de cotas, que refletiu super bem até no preço da cota em Bolsa. Nos Fiagros isso ainda não é possível, com a CVM ainda avaliando o tema”, explicou.
Com isso, a gestão optou pela cisão. “Ou o cotista fica no fundo atual e, se quiser sair, pode vender o papel em Bolsa, ou fica no produto ‘lateral’, que irá devolver o dinheiro em dois anos”.
Profili admitiu que o primeiro e-mail trazia um texto pouco didático e com partes do conteúdo com erros e adiantou que a gestora lançará uma “errata” ainda nesta quarta-feira, dia 5 de março, com uma mensagem mais clara.
“Somos uma gestora com mais de R$ 20 bilhões sob gestão, com 20 anos de estrada e uma equipe superior a 40 pessoas. Olhamos movimentos que possam ser vistos com admiração pelos cotistas”, afirmou Profili.
“Esse movimento [da consulta pela cisão] é transparente, mas talvez a implementação inicial tenha sido sob uma rua esburacada”.
O sócio da Capitânia também afirmou que nunca existiu nenhum tipo de discussão para separar ativos do fundo, e salientou que, mesmo nos casos da AgroGalaxy e da Patense, a gestora já trabalha para chegar em soluções razoáveis e cita que a provisão, nos dois casos, está próxima aos 50%.
Por conta dessas RJs em sequência, a gestora interrompeu o pagamento de dividendos aos cotistas de setembro a dezembro, mas retomou a distribuição em janeiro deste ano.
Para o futuro, Arturo Profili vê a gestora focada em novas estratégias para aproximar cada vez mais o valor negociado do Fiagro na Bolsa ao valor patrimonial. Se isso acontecer, a Capitânia estaria pronta até para novas emissões de papeis.
A cota do fundo encerrou o último pregão a R$ 6,90, e a gestora entende que o valor patrimonial se aproxima de R$ 9,73. Na B3, a cota reage positivamente nesta quarta-feira, e acompanhando um bom-humor do mercado, subia 3,74% perto das 16h30, cotada a R$ 7,21.