Sai trimestre e entra trimestre e o fiel da balança dos resultados da M. Dias Branco é sempre o mesmo: trigo. Avaliando o ano de 2024, nem um preço mais baixo do cereal, que ajudou a reduzir os custos, impulsionou os resultados.

A empresa cearense de massas e biscoitos encerrou 2024 com uma receita líquida de R$ 9,66 bilhões e um lucro líquido de R$ 646 milhões. Em comparação com 2023, os números mostram queda de 10,9% e 27,3%, respectivamente.

A companhia arrecadou menos porque vendeu menor quantidade de produtos ao longo do ano - e por preços menores. O volume vendido em 2024 foi de 1,75 milhão de toneladas, leve baixa de 1,8% frente às 1,79 milhão de toneladas vendidas no ano anterior.

No balanço, a empresa apontou que implantou um novo sistema de gestão empresarial (SAP), que reduziu temporariamente as vendas no início de 2024.

“A queda da receita líquida também reflete a redução dos volumes, impactada tanto pela implantação do sistema SAP quanto pela retração do mercado no terceiro trimestre, decorrente dos reajustes de preços implementados em julho de 2024”, afirmou a M. Dias Branco em seu balanço.

Tanto que no último trimestre do ano, o volume subiu 2,9% em relação ao terceiro trimestre, passado o período de ajuste.

O preço médio por quilo de produto vendido recuou 9,8% em um ano, passando de R$ 6,10 para R$ 5,50 em 2024.

Desta vez, ao contrário dos trimestres anteriores, o trigo, principal insumo utilizado na produção dos alimentos vendidos pela empresa, ajudou nos custos. A empresa iniciou o ano com o preço do trigo em dólar cotado a US$ 353 por tonelada. Ao final de dezembro, a cotação estava em US$ 255 por tonelada, queda de 27% ao longo do ano.

A empresa explica que essa redução ocorreu por conta de uma menor demanda por importações pela Turquia e uma melhora nas expectativas da safra americana do cereal.

“O preço médio do trigo no mercado vem apresentando queda desde julho de 2023, com exceção do segundo trimestre de 2024, quando preocupações climáticas sobre a seca na Rússia reduziram as estimativas de safra para o ano. Desde então, a commodity tem se mantido estável”, explicou a empresa.

Diante disso, a companhia registrou uma queda de 12,6% nos custos de 2023 para 2024. O custo total da empresa foi de R$ 6,7 bilhões no ano passado, principalmente influenciada pela queda do preço do trigo em dólar.

Essa queda do cereal compensou a alta tanto do óleo de palma quanto do dólar em si. o óleo vegetal teve alta de 38,9% ao longo do ano, e o dólar, passou de R$ 4,93 em janeiro para R$ 5,10 em dezembro, com um pico de R$ 5,35 em novembro.

Olhando a receita na vírgula, o faturamento dos produtos do portfólio recuou 11% em um ano. A linha de biscoitos, massas e margarinas faturou R$ 7,52 bilhões no ano passado, 77,9% do total da receita líquida.

As vendas de farinhas, farelo e gorduras industriais somaram R$ 1,94 bilhão à receita, queda de 14,5% ao ano. Esse faturamento corresponde a 17,2% da receita líquida total.

Por fim, a linha de bolos, misturas para bolos, snacks, torradas, produtos saudáveis, molhos e temperos teve alta de 8,9% na receita, atingindo R$ 481 milhões em 2024. O segmento tem peso de 5% nos resultados totais.

Fechamento de unidades

O resultado é divulgado em meio a um reajuste na companhia. No início do ano passado, a empresa fechou um centro de distribuição em Belford Roxo (RJ), e em janeiro deste ano, fechou os CDs de Aracaju (SE) e São Luís (MA).

Também no primeiro mês de 2025, a companhia desativou sua fábrica em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo. “Nosso objetivo é garantir maior eficiência operacional e aumentar nossa competitividade no mercado. Os itens que eram produzidos por lá foram remanejados para outras unidades”, afirmou a M. Dias Branco.

A empresa justificou no balanço uma “otimização da malha logística” para os fechamentos.

Apesar disso, a companhia se mantém conservadora, com uma alavancagem zerada pois não possui dívida líquida. Ao final de 2023 o indicador estava em R$ 73 milhões. Ao final de 2024 não havia dívida, e a empresa tinha um caixa líquido positivo de R$ 24 milhões.

A empresa encerrou 2024 com um caixa de R$ 2,15 bilhões e considerando captações no mercado, um endividamento total é de R$ 2,39 bilhões, sendo R$ 1,1 bilhão de curto prazo, um aumento frente a 2023, quando era R$ 522 milhões, e outros R$ 1,28 bilhão em longo prazo, redução de 22% em um ano.