Nas últimas semanas, o setor de proteína animal está acompanhando de perto o aparecimento de novos focos da influenza aviária (H5N1) em aves de rebanho comercial pelo mundo - e também no rebanho de bovinos e porcos em alguns países. Somente na França, já são quase 35 mil aves abatidas desde meados de 2023, sendo o mais recente caso em um rebanho de 7,5 mil patos já vacinados.
No início da semana, o departamento de saúde da Louisiana (Estados Unidos) confirmou a primeira morte de humano contaminado pela doença, um trabalhador de uma fazenda de gado leiteiro. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que não existe risco de contaminação entre humanos, apenas quando as pessoas se expõem ao contato com animais contaminados.
Embora a doença esteja presente desde maio de 2023 no Brasil, o rebanho comercial de aves segue ileso. Dos 167 casos registrados no país, dois foram em aves de fundo de quintal e o restante em aves silvestres.
“Isso se deve ao trabalho que o setor privado, juntamente dos governos vem desenvolvendo há anos para o controle da sanidade dos rebanhos. Estamos cada vez mais preparados para agir rápido diante dessas situações”, avalia o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Embora significativo, o número de abates de aves é baixo perto do tamanho total do rebanho global. “Somente no Brasil nós abatemos 25 milhões de aves por dia para atender o consumo doméstico e de 150 mercados. Caso haja aumento da demanda, estamos prontos para atender”, explica Santin.
Ele explica ainda que caso as mortes de aves alcançassem números mais elevados, como 100 milhões de aves, aí sim seria um sinal de alerta. “Mas o risco é baixo, já que os países têm mecanismos eficazes de controle e prevenção, além de fazerem o monitoramento constante para que os casos não avancem”, pondera.
No Brasil, a ABPA e o governo federal estão reforçando a campanha junto aos produtores para adoção das medidas de prevenção, especialmente no início deste ano, quando são esperados os movimentos das aves migratórias para a América do Sul. Santin explica que são ações simples, mas altamente eficazes.
Incluem desde a instalação de rodolúvios na entrada das propriedades, manter as instalações bem conservadas, evitar o contato de aves silvestres com o rebanho, além de manter os alojamentos das aves limpos e desinfetados.
“O trabalho de prevenção no Brasil tem dado resultado, não podemos descuidar já que temos 40% do rebanho de aves do mundo, precisamos continuar reforçando a importância da prevenção junto aos produtores”, pondera.
O foco das campanhas tem sido principalmente no campo, onde a doença acontece. “Nos frigoríficos, por conta da inspeção ante mortem, o vírus não entra, já que animais doentes não chegam até lá”, explica Santin.
Segurança Alimentar
Santin, que também é presidente do International Poultry Council (IPC), a entidade máxima da avicultura mundial, explica que o foco do setor para 2025 é garantir a segurança alimentar no mundo. “Temos que trabalhar para que não falte carne de frango caso a doença saia do controle”.
Um dos mecanismos que ele considera fundamental para auxiliar no controle e na resposta dos países a fim de garantir o abastecimento de proteína animal passa pela regionalização dos mercados. Ou seja, quando há um foco de doença em determinado estado, apenas aquela região sofre o embargo, enquanto as demais, livres de doenças, continuam atendendo aos mercados.
“Nós já temos esse mecanismo no Brasil. Quando tivemos a doença de Newcastle no Rio Grande do Sul, dos 150 mercados que atendemos, 48 fecharam apenas para aquele estado. O resto do Brasil continuou exportando”.
Mesmo com o baixo risco, Santin explica que as ações de prevenção e controle por si só já surtem impacto na produção de frangos. Foi o que aconteceu com a produção brasileira em 2024, por exemplo, que registrou uma leve redução no volume produzido e fechou o ano próximo de 15 milhões de toneladas produzidas, ante a previsão de 15,3 milhões.
“As empresas ampliaram as medidas de prevenção como o vazio sanitário, por exemplo, e isso acaba baixando um pouco o peso da ave, impactando no volume final”, explica Santin.
Apesar disso, as exportações brasileiras de carne de frango bateram recorde de receita em 2024 com US$ 9,928 bilhões. Para 2025, a previsão é de mais crescimento.
O valor obtido com a receita em 2024 foi 1,3% superior a 2023, enquanto o volume de frango embarcado cresceu 3% e chegou a 5,294 milhões de toneladas, ante 5,138 milhões de toneladas no acumulado de 2023. Segundo a ABPA, esse volume é o maior já registrado pelo setor.
A abertura de novos mercados e a ampliação da presença em mercados que já compram carne de frango brasileira devem puxar o crescimento das exportações em 2025, conforme publicado pelo AgFeed.
Além da alta no volume embarcado no acumulado, o setor também registrou um crescimento no volume médio mensal de embarques.”O saldo do ano confirma as expectativas da ABPA e aponta, também, novos patamares estabelecidos em médias de embarques, superando 440 mil toneladas mensais”, avalia Santin.
“Os indicativos seguem positivos para 2025, com possibilidades de novas altas mensais e projeções de números relativamente superiores aos alcançados no ano encerrado, indicando a manutenção da rentabilidade das agroindústrias do setor”, avalia Santin.
O gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, César de Castro Alves, avalia que 2025 será de crescimento para o setor, embora não no ritmo visto nos anos anteriores. O especialista explica ainda que o custo de produção também pode ser um pouco menor, já que “a maior demanda por biocombustíveis deve aumentar a oferta de DDG no mercado, contribuindo para baixar os custos e consequentemente, melhorar o preço de alguns alimentos”, avalia.