Seis meses depois do S&P elevar o rating da BRF de “AA+” para “AAA”, a agência de classificação de risco agora já avalia que o que já estava bom ainda pode melhorar.
Em relatório divulgado hoje, o S&P alterou a perspectiva do rating global da companhia de “estável” para positiva. A agência reafirmou no documento os ratings atuais da empresa: BB na escala global e brAAA na escala nacional.
A mudança reflete uma visão mais otimista sobre a capacidade da dona da Sadia e da Perdigão em sustentar uma alavancagem financeira controlada e margens operacionais consistentes nos próximos anos, mesmo voltando a investir e distribuindo proventos aos acionistas.
Ao final do terceiro trimestre deste ano, o último que teve seus resultados divulgados, a BRF atingiu a menor alavancagem de sua história, com uma relação entre a dívida líquida e o Ebitda de 0,7 vezes.
Isso porque, enquanto a dívida líquida atingiu R$ 6,8 bilhões ao final de setembro, o Ebitda acumulado desde janeiro é de R$ 7,7 bilhões.
A perspectiva do S&P é que a companhia encerre 2024 com um Ebtida de R$ 10,3 bilhões, com uma margem de 17,1%. Em 2023, o Ebitda da empresa foi de R$ 4,7 bilhões.
A alavancagem deve ficar em torno de 1,4 vez ao final deste ano, “uma redução significativa em relação aos anos anteriores”, disse o S&P. Em termos de comparação, a alavancagem da empresa foi de 5,3 vezes em 2022 e 4 vezes em 2023.
De acordo com o S&P, a BRF tem se destacado por avanços na eficiência operacional e redução de custos, impulsionados por seu programa estratégico BRF+, que melhorou as margens em 3% no último ano.
Apesar de não ter elevado o rating da BRF, o S&P sinalizou que isso pode ocorrer nos próximos 12 a 18 meses, desde que a companhia “mantenha um desempenho robusto”. Esse desempenho prevê, por exemplo, uma alavancagem abaixo de 2 vezes.
“A BRF se beneficiou de preços adequados e sustentados de produtos em seus principais mercados, juntamente com preços de grãos muito mais baixos, com milho e soja acumulando quedas de cerca de 22% e 16%, respectivamente, em 2024. Esperamos um desempenho sólido no quarto trimestre de 2024, considerando que historicamente é um período forte para a empresa”, afirmou Matheus Cortes, analista que assina o relatório do S&P.
Por outro lado, o S&P considera que um eventual aumento nos custos de insumos, estratégias mais agressivas de investimentos ou mudanças adversas no mercado global de alimentos podem reverter a perspectiva para estável ou até mesmo resultar em um rebaixamento, caso as margens e o fluxo de caixa sejam comprometidos.
O S&P projeta que a BRF invista cerca de R$ 3,5 bilhões em Capex por ano em 2025 e 2026, dando sequência a sua “estratégia de expansão e modernização”.
Numa coletiva para apresentar os resultados do terceiro trimestre, o CEO da BRF, Miguel Gularte, disse que a situação confortável de alavancagem e o excelente momento de caixa abrem oportunidades que façam sentido para a empresa em termos de novas aquisições.
No final de outubro, a BRF informou que formalizou um contrato vinculante para comprar 26% das ações da saudita Addoha Poultry Company, uma das maiores fabricantes de frango do país, por US$ 84,3 milhões.
A operação foi feita através da BRF Arabia, joint venture da companhia com o Public Investment Fund, o PIF, fundo soberano da Arábia Saudita, que se uniu com a empresa brasileira na operação em 2022.
"A BRF é uma empresa que vem crescendo e trabalhando no sentido de crescer em produtos que agreguem valor", afirmou Gularte. Ele acredita que o mercado do Oriente Médio, que é o que mais importa frango no mundo, traz possibilidades estratégicas de expansão com retornos melhores.