O número de defensivos biológicos cresceu quase três vezes em dez safras no Brasil. Foram 500 produtos comercializados para o tratamento na safra 2023/2024, ante 182 em 2014/2015, alta de 174,7% no período e um ritmo anual de 12% de aumento.
O já consolidado e tradicional mercado de produtos químicos cresceu a um ritmo anual bem menor, de 3%, em igual período, e são 2 mil produtos registrados.
Com isso, a fatia de biológicos no total de defensivos chegou a 20% na última safra, quase o dobro da fatia de 11% em 2014/2015.
O total de empresas distribuidoras de defensivos biológicos cresceu 91,7% no mesmo intervalo, ou 7,5% ao ano, para 69, que respondem por uma fatia de 17% das 416 companhias do setor no País.
Outros 70% são da área de químicos e os 13% restantes são das que produzem químicos e biológicos.
Dados da Kynetec, empresa especialista em pesquisas e análises de mercado nos segmentos de defensivos, saúde e nutrição animal, além de sementes e fertilizantes, apontam que os biológicos chegam a 6% da área agrícola tratada no País.
Os números consideram as diversas aplicações em uma mesma área, ou seja, é possível mais de uma aplicação. São 112 milhões de hectares tratados com biológicos, 62 milhões de hectares com inoculantes, e 50 milhões com biopesticidas.
Mas todo esse cenário no mercado de biológicos no País vai mudar e o setor vai passar por uma “consolidação violenta e uma higienização”, além de uma transformação nos próprios produtos. A avaliação é de André Dias, CEO da Kynetec para a América Latina, em entrevista ao AgFeed.
“O biológico na agricultura existe há muito e o crescimento ocorreu porque a indústria vem trabalhando melhor esses produtos, com mais tecnologia e marketing. Essa primeira geração de biológicos deve crescer, vai haver uma consolidação violenta e uma higienização desse mercado”, disse.
Para o executivo, no caso das companhias, haverá um processo de compra e incorporação por parte das grandes empresas do setor e outras vão sumir diante o cenário brasileiro de restrição ao crédito e juros altos.
Do lado dos produtos, o espaço será aberto para as próximas gerações de biológicos, como os geneticamente modificados e os nascidos em startups e universidades, na avaliação de Dias.
Classes e empresas
O surgimento de novas companhias no setor de defensivos agrícolas tem mudado, aos poucos, a participação das grandes empresas do setor na fatia total desse mercado.
Segundo dados compilados pela Kynetec, a participação das cinco maiores empresas do setor na área total tratada é de 52,2%, mas beirou os 60% no final da década passada.
A participação das outras empresas saiu de pouco mais de 40% para 47,8% na safra 2023/2024.
A pulverização do setor de defensivos agrícolas ocorreu na esteira do avanço dos produtos genéricos e da maior rapidez para o registro de um novo produto, o que alavancou a classe de produtos pós-patente com competição.
Esses defensivos são aqueles cuja patente de exclusividade já caiu e que têm uma variedade grande de empresas produzindo.
“Hoje cresceu muito o mercado de pós-patente com competição, mudou o cenário. O registro ficou mais fácil, o tempo médio caiu de dez anos para sete e os genéricos avançaram e tem espaço para todo o tamanho de empresa”, disse Dias.
Mas dois fatores também podem mudar o gráfico de participação de empresas pelo tamanho, segundo o executivo. O primeiro, de novo, é o ambiente de crédito restrito prejudicando o crescimento das pequenas companhias.
O segundo é o lançamento de um novo produto patenteado, mais eficiente, o que é feito por grandes companhias, pois necessita de grandes investimentos.
Como esse novo produto, mais eficiente, a participação de uma grande empresa do setor avança naturalmente e a fatia dessa categoria cresce.