São 520 quilômetros separando a sede paulistana da gestora Multiplica do Triângulo Mineiro. É lá na região, uma das mais produtivas do agronegócio nacional, que a companhia deu recentemente seus primeiros passos em uma estratégia incomum à Faria Lima.

A empresa revelou ao AgFeed que vai investir na construção de silos compartilhados em áreas estratégicas para o agro brasileiro, como em cidades à beira da BR-163, que corta todo o estado do Mato Grosso, além de estados no Sudeste, pela proximidade com o Porto de Santos.

Em Minas Gerais, mais precisamente em Planura, a primeira unidade de armazenamento já está de pé. Na zona rural do município, três silos e duas moegas dão conta de receber uma capacidade de 10 mil toneladas de grãos.

Segundo Rafael Dallaqua, superintendente executivo comercial da Multiplica, o armazém geral funcionará como um hub para a armazenagem de soja e milho.

“A ideia é criar estruturas em pontos chaves, compartilhar esses armazéns. Com a mercadoria armazenada, o produtor emite uma nota de transferência e nós atuamos como fieis depositários dos grãos, num esquema parecido com tradings de bancos”, sintetiza.

Dallaqua explica que a gestora tem dois objetivos com essa estratégia de silos compartilhados. De um lado, ao atuar no sistema fiel depositário, termo que se refere a aquele que assume a guarda de determinado bem durante um processo, a Multiplica ganha mais um aliado na análise de crédito, pois os produtos armazenados funcionam como garantia para empréstimos.
Por outro lado, diz, ajuda a resolver o déficit de armazenagem que vive o país.

“Esse modelo de crédito, associado à armazenagem compartilhada, permitirá que produtores de diferentes tamanhos tenham acesso a financiamento, sem a necessidade de vender suas safras imediatamente após a colheita”, afirma Dallaqua.

Deixando a mercadoria como garantia, a Multiplica entra com a operação de crédito – e o lastro financeiro pode ser tanto uma Nota Comercial quanto uma CPR ou um contrato com uma trading, que entra para dentro das estruturas dos fundos de créditos da casa.

A Multiplica é uma gestora com forte exposição ao agronegócio. Entre seus R$ 8 bilhões sob gestão e R$ 17 bilhões em crédito investido, Dallaqua estima que 60% da empresa estão no agro.

Por conta dessa relação, a empresa possui filiais em Goiânia, Uberlândia e Cuiabá.

A empresa ainda é co-gestora (juntamente com a securitizadora Ecoagro) do Fiagro EGAF11, listado na B3 e com patrimônio líquido de R$ 308 milhões alocados em diversas empresas do agro. A maior exposição do fundo está na franquia de varejo de insumos Goplan. Além desse, também junto com a Ecoagro, administra um FIDC de R$ 19 milhões.

“A Multiplica sempre foi uma casa de investimentos focada no agro”, afirma o executivo. Segundo ele, a companhia atua desde os seus primórdios, há pouco mais de 10 anos, com operações de exportação e importação, antecipando recebíveis e fazendo hedge cambial.

“Atendemos tradings médias, aquelas que não são do ABCD (sigla utlizada no mercado para representar as gigantes ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus). Essa operação foi crescendo e evoluímos para uma linha de penhor mercantil e de fiel depositário de grãos”.

A empresa ainda estuda a localidade dos próximos silos, mas vê com bons olhos a região de Sinop (MT). Cada estrutura, assim como a do Triângulo Mineiro, vai atender um raio de 250 quilômetros. Se as unidades do sudeste visam o Porto de Santos, as unidades no Mato Grosso miram o chamado Arco Norte, como Miritituba e Macarena.

Dallaqua afirma que, por as próximas instalações ainda estarem em fase de estudo, não consegue afirmar com precisão o investimento feito nessas unidades.

A Multiplica estima, entretanto, que a estrutura básica de um silo demanda um investimento inicial entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Já o custo do maquinário especializado, a depender do grão, custa entre R$ 10 milhões e R$ 25 milhões.

O executivo explica que os estados mais ao sul do País também enfrentam problemas com armazenagem. Sò que lá, diferente do Centro-Oeste, há uma grande quantidade de cooperativas que acabam concentrando os produtos. “Os estados ‘mais para cima no mapa’ não possuem grandes cooperativas”.

O projeto de construção de silos é de médio e longo prazo, diz. Justamente pelo déficit de armazenagem, o superintendente da Multiplica pontua que grandes empresas que produzem silos, como a Kepler Weber, possuem uma demanda que não conseguem atender de prontidão.

“O que você compra hoje chega a demorar 10 meses para ser instalado”, acredita.