Maximizar a produtividade é um princípio fundamental do agronegócio, que busca aproveitar ao máximo a terra, as condições climáticas e o tempo disponível para ampliar a produção.
Para a safra deste ano, a expectativa é que as chuvas no momento e em volumes adequados contribuirão para que esse princípio seja cumprido, proporcionando uma conjuntura mais favorável que as verificadas nas lavouras da safra de Verão passada.
Os modelos meteorológicos apontam que, depois da predominância de um clima seco durante a maior parte do Inverno, a Primavera, iniciada em setembro, seja marcada por chuvas consistentes, que terão início em São Paulo e no Paraná e seguirão, ao longo do segundo semestre, em direção ao norte, cobrindo as principais regiões produtoras de grãos e fibras do país.
As perspectivas positivas, contudo, são acompanhadas de um alerta: as primeiras precipitações, previstas para o final de setembro e início de outubro, podem não ter as características de “chuvas plantadeiras”, com o volume e duração necessárias para garantir que as sementes germinem.
Deve-se considerar que os solos nessas áreas agrícolas estão muito secos, consequência de uma seca intensa e muito prolongada e um calor incomum deste Inverno.
Este quadro climático, que contribuiu decisivamente para que ocorresse um recorde de queimadas neste período, provocou ainda uma redução dos mananciais de água em regiões como o interior paulista e partes do Centro-Oeste, afetando até mesmo localidades que normalmente recorrem à irrigação.
A expectativa, porém, é que as ‘chuvas plantadeiras’ tenham início em meados de outubro, contemplando inicialmente a costa do Sudeste. As precipitações deverão aos poucos se movimentar pelo interior de São Paulo, atingindo o Cerrado mineiro e seguindo ao Centro-Oeste.
Aessim, espera-se que em novembro as chuvas cheguem ao Matopiba, que abrange áreas do Mato Grosso, Piauí e Tocantins, quando, então, terá início o plantio.
A região Sul do país também deverá contar com condições climáticas mais favoráveis que as observadas no ano passado, recebendo chuvas neste final de setembro e ao longo de outubro.
Mesmo diante da expectativa de que o fenômeno La Niña deverá se consolidar neste segundo semestre, não é esperado o quadro de seca que vigorou na safra de 2022/2023.
Os cuidados neste ano devem se voltar para a possibilidade de formação de tempestades em outubro, especialmente no Rio Grande do Sul. Elas podem vir acompanhadas de queda de granizo, colocando sob risco a produção de áreas tardias de trigo.
Com a chuva chegando na hora certa para o plantio, a tendência é que os produtores rurais consigam, na safra que se inicia, adotar a prática de lançar as sementes no final dos períodos de vazio sanitário, para que as chuvas contribuam para a germinação tão logo termine esse período de resguardo da terra.
Com tal estratégia, os produtores conseguem maximizar o uso do solo e realizar até mesmo uma safra adicional.
O vazio sanitário, adotado desde 2005, é uma medida fitossanitária determinada pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que proíbe o plantio ou a manutenção de vegetação em determinadas áreas por três meses, pelo menos.
Para este ano, o calendário estabelece o fim do período de proibição do plantio comece em setembro, estendendo-se ao longo do segundo semestre de acordo com cada estado da federação.
Diante de um cenário mais favorável neste ano para a obtenção da tão esperada maximização da produtividade, contudo, os agricultores não devem abrir mão de acompanhar de perto as mudanças na atmosfera.
A acuracidade das previsões meteorológicas sobre o momento das chuvas “ideais” é um dos pontos cruciais para direcionar as ações e alcançar bons resultados. Com o apoio da meteorologia, os produtores rurais terão condições para maximizar o uso da terra e elevar os níveis de produtividade já no final do período de resguardo sanitário das lavouras.
Desirée Brandt é sócia-executiva e meteorologista na Nottus.