O mercado de crédito de carbono vem encolhendo tanto globalmente quanto no Brasil, em meio às desconfianças em torno das agências certificadoras e custos mais altos do que se estimava inicialmente.
O comércio global de créditos de carbono no mercado voluntário encolheu de US$ 1,9 bilhão, em 2022, para US$ 723 milhões em 2023, segundo um levantamento do Ecosystem Marketplace, indicando uma queda de 61%.
Enquanto o mercado se ajusta, em busca de mais transparência e margens menores, a Systemica – empresa investida pelo BTG, que desde 2012 atua no mercado de créditos de carbono – acelera sua diversificação de portfólio.
Em julho a empresa comprou a paraense Arapuá, especializada na construção de sistemas agroflorestais (SAF).
“(Com a Arapuá) a gente mantém a nossa carteira de projetos de conservação e amplia o leque com opções de restauração”, disse ao AgFeed Munir Soares, CEO e fundador da Systemica.
“Se o produtor rural tem passivo ambiental, eu posso ofertar maneiras de recompor a reserva legal. Se ele tem um excedente, eu posso ofertar projetos de conservação”, explicou.
A Systemica criou um programa de reflorestamento que se divide em duas frentes. Uma delas é a restauração de vegetação nativa.
“Temos por objetivo restaurar aproximadamente 28 mil hectares até 2030”, disse Munir. “A segunda é a frente de sistemas agroflorestais (SAF), em que a gente tem por objetivo reflorestar 12 mil hectares. Com a SAF, em vez de o produtor sentir que está perdendo uma área, ele entra em conformidade legal e obtém uma receita”.
Sem revelar dados de faturamento, a Systemica diz que está dedicada a implantar SAFs no bioma amazônico.
“A gente mapeou uma área disponível de 2 milhões de hectares na região de Altamira e Paraupebas”, afirmou Munir. “Estamos fazendo arrendamento ou parceria com produtores rurais de no mínimo 150 hectares. Para se ter uma ideia, estamos falando de investimentos da ordem de R$ 100 mil por hectare”.
O principal cultivo nos sistemas agroflorestais é o cacau. A adaptação ao bioma amazônico é mais do que natural. Afinal, era ali que o fruto crescia quando foi levado para a Europa por colonizadores espanhóis, no século XVI. A valorização da commodity ajuda na viabilidade dos projetos, mas o CEO da Systemica olha a cotação atual com prudência.
“Dentro da nossa visão de diversificação, eu tenho que operar em distintos mercados, porque não dá para achar que esse cenário de cacau extremamente positivo vai durar 40 anos”, afirmou. “A gente também está olhando açaí”.
O executivo faz questão de dizer que o investimento nos novos negócios de recuperação e conservação florestal é uma diversificação – e não um gradual abandono do mercado de créditos de carbono, onde a empresa começou.
“O mercado fez um shift grande para projetos de restauro, antecipando uma tendência que a gente já via que ia acontecer, justamente por essa incerteza no REDD, nos projetos de conservação”, afirmou. “A estimativa do valor desse mercado em 2030 caiu de US$ 50 bilhões para US$ 30 bilhões, mas o Brasil facilmente terá uma fatia de 15% a 20%”.
Soares reconhece a crise de transparência no mercado voluntário de créditos de carbono, mas se diz otimista. “O cenário de incerteza ele acaba trazendo um pé no freio. Mas, quando a gente olha para o futuro, a perspectiva ainda continua positiva”, afirmou.
“O mercado de curto prazo sofreu um impacto significativo, mas os preços futuros se mantêm”, afirmou. “O mercado continua sinalizando que quer comprar créditos de grande qualidade. Só falta eles serem consolidados em novas metodologias”.