O furor dos M&As no agro, que envolvem principalmente a consolidação de revendas agrícolas, empresas de biológicos e sementeiras, tem colocado empresas e gestoras que assessoram esse tipo de transação em estado de alerta, buscando intermediar o maior número de negócios possível.
Um levantamento recente da assessoria Hand, apontou a consolidação de 53 negócios, entre revendas agrícolas e empresas de biológicos, somente entre 2022 e 2023. Para o futuro, o estudo prevê foco nas sementeiras.
Nesse frenesi, a Unio Partners, uma boutique de investimentos criada há quatro anos por executivos ex-Credit Suisse, quer surfar a onda, mas com muita seletividade. A Unio hoje atua em duas vertentes de negócio principais: a gestão de patrimônio (Wealth Management) e a assessoria corporativa (corporate advisory).
Na área de Wealth Management, são R$ 48,9 bilhões sob gestão, sendo 11% desse total, algo superior aos R$ 5 bilhões, patrimônio de empresários do agro. E justamente aqueles ligados aos setores de distribuição de insumos, processamento de sementes e defensivos.
Não por acaso, a gestora traçou um road map de crescimento que passa pelas rotas rurais. Marcelo Serro Azul, sócio e co-fundador da Unio Partners, acredita que um dos diferenciais da empresa é integrar a estratégia de Wealth Management junto com M&As, se for o caso.
“Agro é o que está mais latente no nosso dia a dia hoje”, conta Serro Azul, em entrevista ao AgFeed.
A empresa tem conversado com uma série de empreendedores do Centro-Oeste que possuem diversas demandas. A boutique possui um olhar para fora do estado de São Paulo, onde acredita que os empresários já estão mais bem assessorados pela proximidade com o centro financeiro nacional.
Na esteira da prospecção, mais ou menos metade dos prospectos estão fora do estado. A dificuldade de convencer um cara mais “bairrista”, segundo Marco Dorigon, outro sócio-fundador da Unio, é compensada, pois fora do radar da Faria Lima existem muitas empresas multibilionárias.
“O perfil ideal do cliente da Unio é aquele empreendedor que não quer fazer nada. Ele está disposto a ouvir propostas, mas a princípio não quer vender a empresa, a menos que haja uma transação relevante”, cita.
“Tiramos o foco da transação, sem um viés de a gestora fazer transação a todo custo para ganhar remuneração”, afirma Serro Azul. “Nos posicionamos ao lado do empresário em toda agenda de solução patrimonial, com ativos ilíquidos, como empresas, ou o próprio patrimônio”.
É dessa forma que a empresa tem prospectado empresários donos de grandes fortunas e grandes negócios para se posicionar como um gestor de patrimônio.
“O recurso está no banco, são bilhões de reais sem uma customização. Isso é crítico para uma sucessão, principalmente num país como o Brasil onde a carga tributária é pesada”, diz Dorigon.
Ao criar essa estrutura, o M&A pode ser uma saída, mas não necessariamente é a principal.
Nas fusões e aquisições, a empresa acumula mais de 15 operações que somam quase R$ 4 bilhões transacionados.
Sem uma operação de fusão e aquisição concluída ainda no agro, a empresa já assessorou algumas transações para grandes players de diversos setores.
Dorigon cita a compra da startup Olivia pelo Nubank, a aquisição de uma participação no Banco Indusval (atual Voiter) por alguns controladores da Sertrading e uma negociação que envolveu a compra da Panatlântica pela CSN.
Antes da Unio, Marco Dorigon chegou a intermediar algumas operações envolvendo players do agro, incluindo até a SLC.
A Unio não quer fazer leilão, afirma o sócio-fundador, mas sim ser um orientador financeiro e criar operações criativas que não estejam aparentes na mesa.
“Independente de o setor estar em consolidação ou não, o empreendedor do agro geralmente não coloca os ativos à venda, mas escuta as propostas”.
Dentro do agro, a Unio tem conversado com empresários de distribuição de insumos, defensivos, processamento de sementes e até outros nichos menos fora do radar, como granjas e nutrição animal.
Estruturando dívidas
A boutique ainda estuda abrir uma nova vertical de atuação, essa focada em estruturação de dívidas, como CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas). “Para o agro é muito interessante”, vê Dorigon.
Segundo o sócio-fundador, olhar para o mercado de dívidas no segmento traz uma oportunidade para gerar capital para alguns empresários do setor, que pode até pensar em fazer transações no futuro, mas que, em um determinado momento, precisa de um dinheiro em caixa para a tocar a operação, segundo Marco Dorigon.
“Esse eventual braço que podemos criar é muito interessante. Principalmente pois os setores agro e imobiliário tem benefícios de isenção de imposto de renda”, completa.
A ideia é montar os CRAs e distribuí-los internamente na base de investidores de alto nível que já são clientes do Wealth Management, sem distribuir o título no mercado em plataformas de investimento.
A estratégia pode ajudar inclusive a Unio a trazer mais clientes para sua base de gestão de fortunas. “Nossa rede de relacionamentos com indivíduos de alto poder aquisitivo e que não estão no Wealth é grande”.